“À tarde, levaram a Jesus muitas pessoas que estavam possuídas pelo demônio. Jesus, com a sua palavra, expulsou os espíritos...” (Mt 8,16).
Introdução
Por várias vezes já nos deparamos com companheiros do Movimento Espírita sugerindo que não devemos evocar os espíritos nas reuniões mediúnicas de orientação e ajuda espiritual. Em que pese à capacidade e o conhecimento de alguns desses companheiros, se nos permitem, não concordamos com essa posição, tendo em vista que ela é contrária ao que Kardec norteia nas obras da Codificação. Em relação a elas, cada dia mais ficamos na certeza de que, apesar de muitos afirmarem seguir fielmente a Kardec, não o fazem por uma questão muito simples: não conhecem todo o pensamento do codificador, muitas vezes ficam apegados a um livro ou outro, mas sem que tivessem a oportunidade de estudá-los na íntegra, se restringiram a alguns deles. Por outro lado, percebemos que com isso trazem para o nosso meio algo como uma proibição bíblica, exatamente aquilo que os detratores usam para nos combater, qual seja a proibição de Moisés em evocar os mortos. Senão vejamos.
Kardec e a proibição mosaica
Em O Céu e o Inferno Kardec fala a respeito da proibição de se evocar os mortos:
A proibição de Moisés era assaz justa, porque a evocação dos mortos não se originava nos sentimentos de respeito, afeição ou piedade para com eles, sendo antes um recurso para adivinhações, tal como nos augúrios e presságios explorados pelo charlatanismo e pela superstição. Essas práticas, ao que parece, também eram objeto de negócio, e Moisés, por mais que fizesse, não conseguiu desentranhá-las dos costumes populares.
(...)
Quando a evocação é feita com recolhimento e religiosamente; quando os Espíritos são chamados, não por curiosidade, mas por um sentimento de afeição e simpatia, com desejo sincero de instrução e progresso, não vemos nada de irreverente em apelar-se para as pessoas mortas, como se fizera com os vivos. Há, contudo, uma outra resposta peremptória a essa objeção, e é que os Espíritos se apresentam espontaneamente, sem constrangimento, muitas vezes mesmo sem que sejam chamados. Eles também dão testemunho da satisfação que experimentam por comunicar-se com os homens, e queixam-se às vezes do esquecimento em que os deixam. Se os Espíritos se perturbassem ou se agastassem com os nossos chamados, certo o diriam e não retornariam; porém, nessas evocações, livres como são, se se manifestam, é porque lhes convém. (KARDEC, A. O Céu e o Inferno, p. 155-156).
Ora, isso deixa bem claro que não devemos trazer para a Doutrina Espírita, coisas que não têm nada a ver com as nossas práticas. Sabemos que por aí fora quase tudo mundo confunde Espiritismo com práticas nas quais há manifestação de espíritos; por isso , já temos dito que: “o fato de tartaruga botar ovos não faz dela uma ave”.
Pode-se evocar?
Vejamos o que diz o codificador:
Os Espíritos se manifestam espontaneamente ou mediante evocação.
Podem evocar-se todos os Espíritos: os que animaram homens obscuros, como os das personagens mais ilustres, seja qual for a época em que tenham vivido; os de nossos parentes, amigos, ou inimigos, e obter-se deles, por comunicações escritas ou verbais, conselhos, informações sobre a situação em que se encontram no Além, sobre o que pensam a nosso respeito, assim como as revelações que lhes sejam permitidas fazer-nos. (KARDEC, A. O Livro dos Espíritos, p. 26).
Vê-se que, segundo Kardec, não há nenhum problema em se evocar os espíritos; a única ressalva que faz, ele a colocou logo a seguir:
Os Espíritos são atraídos na razão da simpatia que lhes inspire a natureza moral do meio que os evoca. Os Espíritos superiores se comprazem nas reuniões sérias, onde predominam o amor do bem e o desejo sincero, por parte dos que as compõem, de se instruírem e melhorarem. A presença deles afasta os Espíritos inferiores que, inversamente, encontram livre acesso e podem obrar com toda a liberdade entre pessoas frívolas ou impelidas unicamente pela curiosidade e onde quer que existam maus instintos. Longe de se obterem bons conselhos, ou informações úteis, deles só se devem esperar futilidades, mentiras, gracejos de mau gosto, ou mistificações, pois que muitas vezes tomam nomes venerados, a fim de melhor induzirem ao erro. (KARDEC, A. O Livro dos Espíritos, p. 26).
Portanto, tudo vai se prender ao objetivo com o qual quer-se evocar os espíritos; se tivermos sérios propósitos, não há problema; caso contrário, que se corra o risco com as evocações frívolas.
935. Que se deve pensar da opinião dos que consideram profanação as comunicações com o além-túmulo?
“Não pode haver nisso profanação, quando haja recolhimento e quando a evocação seja praticada respeitosa e convenientemente. A prova de que assim é tendes no fato de que os Espíritos que vos consagram afeição acodem com prazer ao vosso chamado. Sentem-se felizes por vos lembrardes deles e por se comunicarem convosco. Haveria profanação, se isso fosse feito levianamente.”
A possibilidade de nos pormos em comunicação com os Espíritos é uma dulcíssima consolação, pois que nos proporciona meio de conversarmos com os nossos parentes e amigos, que deixaram antes de nós a Terra. Pela evocação, aproximamo-los de nós, eles vêm colocar-se ao nosso lado, nos ouvem e respondem. Cessa assim, por bem dizer, toda separação entre eles e nós.Auxiliam-nos com seus conselhos, testemunham-nos o afeto que nos guardam e a alegria que experimentam por nos lembrarmos deles. Para nós, grande satisfação é sabê-los ditosos, informar-nos, por seu intermédio, dos pormenores da nova existência a que passaram e adquirir a certeza de que um dia nos iremos a eles juntar. (KARDEC, A. O Livro dos Espíritos, p. 433-434). (grifo nosso).
Eis um dos motivos pelos quais muitas pessoas condenam as evocações dos espíritos; entretanto, fazendo-se com seriedade não se estará desrespeitando os que partiram para o mundo espiritual.
Kardec e suas recomendações
Em O Livro dos Médiuns, encontramos diversas recomendações, dignas de quem, certamente, levava a sério essa questão.
203. O desejo natural de todo aspirante a médium é o de poder confabular com os Espíritos das pessoas que lhe são caras; deve, porém, moderar sua impaciência, porquanto a comunicação com determinado Espírito apresenta muitas vezes dificuldades materiais que a tornam impossível ao principiante. Para que um Espírito possa comunicar-se, preciso é que haja entre ele e o médium relações fluídicas, que nem sempre se estabelecem instantaneamente. Só à medida que a faculdade se desenvolve, é que o médium adquire pouco a pouco a aptidão necessária para pôr-se em comunicação com o Espírito que se apresente. Pode dar-se, pois, que aquele com quem o médium deseje comunicar-se, não esteja em condições propícias a fazê-lo, embora se ache presente, como também pode acontecer que não tenha possibilidade, nem permissão para acudir ao chamado que lhe é dirigido. Convém, por isso, que no começo ninguém se obstine em chamar determinado Espírito, com exclusão de qualquer outro, pois amiúde sucede não ser com esse que as relações fluídicas se estabelecem mais facilmente, por maior que seja a simpatia que lhe vote o encarnado. Antes, pois, de pensar em obter comunicações de tal ou tal Espírito, importa que o aspirante leve a efeito o desenvolvimento da sua faculdade, para o que deve fazer um apelo geral e dirigir-se principalmente ao seu anjo guardião.
Não há, para esse fim, nenhuma fórmula sacramental. Quem quer que pretenda indicar alguma pode ser tachado, sem receio, de impostor, visto que para os Espíritos a forma nada vale. Contudo, a evocação deve sempre ser feita em nome de Deus. Poder-se- á fazê-la nos termos seguintes, ou outros equivalentes: Rogo a Deus Todo-Poderoso que permita venha um bom Espírito comunicar-se comigo e fazer-me escrever; peço também ao meu anjo de guarda se digne de me assistir e de afastar os maus Espíritos. Formulada a súplica, é esperar que um Espírito se manifeste, fazendo escrever alguma coisa. Pode acontecer venha aquele que o impetrante deseja, como pode ocorrer também venha um Espírito desconhecido ou o anjo de guarda. Qualquer que ele seja, em todo caso, dar-se-á conhecer, escrevendo o seu nome. Mas, então apresenta-se a questão da identidade, uma das que mais experiência requerem, por isso que poucos principiantes haverá que não estejam expostos a ser enganados. Dela trataremos adiante, em capítulo especial.
Quando queira chamar determinados Espíritos, é essencial que o médium comece por se dirigir somente aos que ele sabe serem bons e simpáticos e que podem ter motivo para acudir ao apelo, como parentes, ou amigos.
Neste caso, a evocação pode ser formulada assim: Em nome de Deus Todo-Poderoso peço que tal Espírito se comunique comigo, ou então: Peço a Deus Todo-Poderoso permita que tal Espírito se comunique comigo; ou qualquer outra fórmula que corresponda ao mesmo pensamento. Não é menos necessário que as primeiras perguntas sejam concebidas de tal sorte que as respostas possam ser dadas por umsim ou um não, como por exemplo: Estas aí? Queres responder-me? Podes fazer-me escrever? etc. Mais tarde essa precaução se torna inútil. No princípio, trata-se de estabelecer assim uma relação. O essencial é que a pergunta não seja fútil, não diga respeito a coisas de interesse particular e, sobretudo, seja a expressão de um sentimento de benevolência e simpatia para com o Espírito a quem é dirigida. (Veja-se adiante o capítulo especial sobre as Evocações.) (KARDEC, A. O Livro dos Médiuns, p. 247-249) (grifo nosso).
269. Os Espíritos podem comunicar-se espontaneamente, ou acudir ao nosso chamado, isto é, vir por evocação. Pensam algumas pessoas que todos devem abster-se de evocar tal ou tal Espírito e ser preferível que se espere aquele que queira comunicar-se. Fundam-se em que, chamando determinado Espírito, não podemos ter a certeza de ser ele quem se apresente, ao passo que aquele que vem espontaneamente, de seu moto próprio, melhor prova a sua identidade, pois que manifesta assim o desejo que tem de se entreter conosco. Em nossa opinião, isso é um erro: primeiramente, porque há sempre em tomo de nós Espíritos, as mais das vezes de condição inferior, que outra coisa não querem senão comunicar-se; em segundo lugar e mesmo por esta última razão, não chamar a nenhum em particular é abrir a porta a todos os que queiram entrar. Numa assembleia, não dar a palavra a ninguém é deixá-la livre a toda a gente e sabe-se o que daí resulta. A chamada direta de determinado Espírito constitui um laço entre ele e nós; chamamo-lo pelo nosso desejo e opomos assim uma espécie de barreira aos intrusos. Sem uma chamada direta, um Espírito nenhum motivo terá muitas vezes para vir confabular conosco, a menos que seja o nosso Espírito familiar.
Cada uma destas duas maneiras de operar tem suas vantagens e nenhuma desvantagem haveria, senão na exclusão absoluta de uma delas. As comunicações espontâneas inconveniente nenhum apresentam, quando se está senhor dos Espíritos e certo de não deixar que os maus tomem a dianteira. Então, é quase sempre bom aguardar a boa-vontade dos que se disponham a comunicar-se, porque nenhum constrangimento sofre o pensamento deles e dessa maneira se podem obter coisas admiráveis; entretanto, pode suceder que o Espírito por quem se chama não esteja disposto a falar, ou não seja capaz de fazê-lo no sentido desejado. O exame escrupuloso, que temos aconselhado, é, aliás, uma garantia contra as comunicações más. Nas reuniões regulares, naquelas, sobretudo, em que se faz um trabalho continuado, há sempre Espíritos habituais que a elas comparecem, sem que sejam chamados, por estarem prevenidos, em virtude mesmo da regularidade das sessões. Tomam, então, frequentemente a palavra, de modo espontâneo, para tratar de um assunto qualquer, desenvolver uma proposição ou prescrever o que se deva fazer, caso em que são facilmente reconhecíveis, quer pela forma da linguagem, que é sempre idêntica, quer pela escrita, quer por certos hábitos que lhes são peculiares.
270. Quando se deseja comunicar com determinado Espírito, é de toda necessidade evocá-lo. (N. 203.) Se ele pode vir, a resposta é geralmente: Sim, ou Estou aqui, ou, ainda: Que quereis de mim? Às vezes, entra diretamente em matéria, respondendo de antemão às perguntas que se lhe queria dirigir.
Quando um Espírito é evocado pela primeira vez, convém designá-lo com alguma precisão. Nas perguntas que se lhe façam, devem evitar-se as fórmulas secas e imperativas, que constituiriam para ele um motivo de afastamento. As fórmulas devem ser afetuosas, ou respeitosas, conforme o Espírito, e, em todos os casos, cumpre que o evocador lhe dê prova da sua benevolência.
271. Surpreende, não raro, a prontidão com que um Espírito evocado se apresenta, mesmo da primeira vez. Dir-se-ia que estava prevenido. E, com efeito, o que se dá, quando com a sua evocação se preocupa de antemão aquele que o evoca. Essa preocupação é uma espécie de evocação antecipada e, como temos sempre conosco os nossos Espíritos familiares, que se identificam com o nosso pensamento, eles preparam o caminho de tal sorte que, se nenhum obstáculo surge, o Espírito que desejamos chamar já se acha presente ao ser evocado. Quando assim não acontece, é o Espírito familiar do médium, ou o do interrogante, ou ainda um dos que costumam frequentar as reuniões que o vai buscar, para o que não precisa de muito tempo. Se o Espírito evocado não pode vir de pronto, o mensageiro (os Pagãos diriam Mercúrio) marca um prazo, às vezes de cinco minutos, um quarto de hora e até muitos dias. Logo que ele chega, diz: Aqui estou. Podem então começar a ser feitas as perguntas que se lhe quer dirigir.
O mensageiro nem sempre é um intermediário indispensável, porquanto o Espírito pode ouvir diretamente o chamado do evocador, conforme ficou dito em o n. 282, pergunta 5, sobre o modo de transmissão do pensamento.
Quando dizemos que se faça a evocação em nome de Deus, queremos que a nossa recomendação seja tomada a sério e não levianamente. Os que nisso vejam o emprego de uma fórmula sem consequências farão melhor abstendo-se.
272. Frequentemente, as evocações oferecem mais dificuldades aos médiuns do que os ditados espontâneos, sobretudo quando se trata de obter respostas precisas a questões circunstanciadas. Para isto, são necessários médiuns especiais, ao mesmo tempo flexíveis e positivos e já em o n. 193 vimos que estes últimos são bastante raros, por isso que, conforme dissemos, as relações fluídicas nem sempre se estabelecem instantaneamente com o primeiro Espírito que se apresente. Daí convir que os médiuns não se entreguem às evocações pormenorizadas, senão depois de estarem certos do desenvolvimento de suas faculdades e da natureza dos Espíritos que os assistem, visto que com os mal assistidos as evocações nenhum caráter podem ter de autenticidade. (KARDEC, A. O Livro dos Médiuns, p. 347-350) (grifo nosso).
Um dos pontos importantes que Kardec recomenda quando se for evocar algum espírito, que se o faça em “nome de Deus”; inclusive, é insistente nisso. Por outro lado, os que se prontificarem a evocar os espíritos, agindo dessa forma, também terão que fazer com o devido recolhimento, já que usam o nome de Deus.
O que Kardec não recomenda?
Ainda em O Livro dos Médiuns, encontramos:
273. Os médiuns são geralmente muito mais procurados para as evocações de interesse particular, do que para comunicações de interesse geral; isto se explica pelo desejo muito natural que todos têm de confabular com os entes que lhes são caros. Julgamos dever fazer a este propósito algumas recomendações importantes aos médiuns. Primeiramente que não acedam a esse desejo, senão com muita reserva, se se trata de pessoas de cuja sinceridade não estejam completamente seguros e que se acautelem das armadilhas que lhes possam preparar pessoas malfazejas. Em segundo lugar, que a tais evocações não se prestem, sob fundamento algum, se perceberem um fim de simples curiosidade, ou de interesse, e não uma intenção séria da parte do evocador; que se recusem a fazer qualquer pergunta ociosa, ou que sai do âmbito das que racionalmente se podem dirigir aos espíritos. As perguntas devem ser formuladas com clareza, precisão e sem ideia preconcebida, em se querendo respostas categóricas. Cumpre, pois, se repilam todas as que tenham caráter insidioso, porquanto é sabido que os Espíritos não gostam das que têm por objetivo pô-los à prova. Insistir em questões desta natureza é querer ser enganado. O evocador deve ferir franca e abertamente o ponto visado, sem subterfúgios e sem circunlóquios. Se receia explicar-se, melhor será que se abstenha.
Convém igualmente que só com muita prudência se façam evocações, na ausência das pessoas que as pediram, sendo mesmo preferível que não sejam feitas nessas condições, visto que somente aquelas pessoas se acham aptas a analisar as respostas, a julgar da identidade, a provocar esclarecimentos, se for oportuno, e a formular questões incidentes, que as circunstâncias indiquem.Além disso, a presença delas é um laço que atrai o Espírito, quase sempre pouco disposto a se comunicar com estranhos, que lhes não inspiram nenhuma simpatia. O médium, em suma, deve evitar tudo o que possa transformá-lo em agente de consultas, o que, aos olhos de muitas pessoas, é sinônimo de ledor da "buena-dicha". (KARDEC, A. O Livro dos Médiuns, p. 350-351) (grifo nosso).
As orientações aos médiuns são claras, devem fugir das evocações feitas por mera curiosidade e, o mais importante, para não se transformar em agente de consultas, equiparando-se a pessoas leitoras da sorte. Caso haja algum interesse em evocar determinado espírito, que se faça presente a pessoa interessada, para que ela, prontamente, possa analisar a comunicação.
Quais Espíritos podem ser evocados?
Diz-nos o codificador:
274. Todos os Espíritos, qualquer que seja o grau em que se encontrem na escala espiritual, podem ser evocados: assim os bons, como os maus, tanto os que deixaram a vida de pouco, como os que viveram nas épocas mais remotas, os que foram homens ilustres, como os mais obscuros, os nossos parentes e amigos, como os que nos são indiferentes. Isto, porém, não quer dizer que eles sempre queiram ou possam responder ao nosso chamado. Independente da própria vontade, ou da permissão, que lhes pode ser recusada por uma potência superior, é possível se achem impedidos de o fazer, por motivos que nem sempre nos é dado conhecer. Queremos dizer que não há impedimento absoluto que se oponha às comunicações, salvo o que dentro em pouco diremos. Os obstáculos capazes de impedir que um Espírito se manifeste são quase sempre individuais e derivam das circunstâncias.
275. Entre as causas que podem impedir a manifestação de um Espírito, umas lhe são pessoais e outras, estranhas. Entre as primeiras, devem colocar-se as ocupações ou as missões que esteja desempenhando e das quais não pode afastar-se, para ceder aos nossos desejos. Neste caso, sua visita apenas fica adiada.
Há também a sua própria situação. Se bem que o estado de encarnação não constitua obstáculo absoluto, pode representar um impedimento, em certas ocasiões, sobretudo quando aquela se dá nos mundos inferiores e quando o próprio Espírito está pouco desmaterializado. Nos mundos superiores, naqueles em que os laços entre o Espírito e a matéria são muito fracos, a manifestação é quase tão fácil quanto no estado errante, mais fácil, em todo caso, do que nos mundos onde a matéria corpórea é mais compacta.
As causas estranhas residem principalmente na natureza do médium, na da pessoa que evoca, no meio em que se faz a evocação, enfim, no objetivo que se tem em vista. Alguns médiuns recebem mais particularmente comunicações de seus Espíritos familiares, que podem ser mais ou menos elevados; outros se mostram aptos a servir de intermediários a todos os Espíritos, dependendo isto da simpatia ou da antipatia, da atração ou da repulsão que o Espírito pessoal do médium exerce sobre o Espírito chamado, o qual pode tomá-lo por intérprete, com prazer, ou com repugnância. Isto também depende, abstração feita das qualidades íntimas do médium, do desenvolvimento da faculdade mediúnica. Os Espíritos vêm de melhor vontade e, sobretudo, são mais explícitos com um médium que lhes não oferece nenhum obstáculo material. Aliás, em igualdade de condições morais, quanto mais facilidade tenha o médium para escrever ou para se exprimir, tanto mais se generalizam suas relações com o mundo espírita.
276. Cumpre ainda levar em conta a facilidade que deve resultar do hábito da comunicação com tal ou qual Espírito. Com o tempo, o Espírito estranho se identifica com o do médium e também com aquele que o chama. Posta de parte a questão da simpatia, entre eles se estabelecem relações fluídicas que tornam mais prontas as comunicações. Por isso é que uma primeira confabulação nem sempre é tão satisfatória quanto fora de desejar e que os próprios Espíritos pedem frequentemente que os chamem de novo. O Espírito que vem habitualmente está como em sua casa: fica familiarizado com seus ouvintes e intérpretes, fala e age livremente.
277. Em resumo, do que acabamos de dizer resulta: que a faculdade de evocar todo e qualquer Espírito não implica para este a obrigação de estar à nossa disposição; que ele pode vir em certa ocasião e não vir noutra, com um médium, ou um evocador que lhe agrade e não com outro; dizer o que quer, sem poder ser constrangido a dizer o que não queira; ir-se quando lhe aprouver; enfim, que por causas dependentes ou não da sua vontade, depois de se haver mostrado assíduo durante algum tempo, pode de repente deixar de vir.
Por todos estes motivos é que, quando se deseja chamar um Espírito que ainda não se apresentou, é necessário perguntar ao seu guia protetor se a evocação é possível; caso não o seja, ele geralmente dá as razões e então é inútil insistir.
278. Uma questão importante se apresenta aqui, a de saber se há ou não inconveniente em evocar maus Espíritos. Isto depende do fim que se tenha em vista e do ascendente que se possa exercer sobre eles. O inconveniente e nulo, quando são chamados com um fim sério, qual o de os instruir e melhorar; é, ao contrário, muito grande, quando chamados por mera curiosidade ou por divertimento, ou, ainda, quando quem os chama se põe na dependência deles, pedindo-lhes um serviço qualquer.
Os bons Espíritos, neste caso, podem muito bem dar-lhes o poder de fazerem o que se lhes pede, o que não exclui seja severamente punido mais tarde o temerário que ousou solicitar-lhe o auxilio e supô-los mais poderosos do que Deus. Será em vão que prometa a si mesmo, quem assim proceda, fazer dali em diante bom uso do auxílio pedido e despedir o servidor, uma vez prestado o serviço. Esse mesmo serviço que se solicitou, por mínimo que seja, constitui um verdadeiro pacto firmado com o mau Espírito e este não larga facilmente a sua presa. (Veja-se o n. 212.)
279. Ninguém exerce ascendentes sobre os Espíritos inferiores, senão pela superioridade moral.Os Espíritos perversos sentem que os homens de bem os dominam. Contra quem só lhes oponha a energia da vontade, espécie de força bruta, eles lutam e muitas vezes são os mais fortes. A alguém que procurava domar um Espírito rebelde, unicamente pela ação da sua vontade, respondeu àquele:Deixa-me em paz, com teus ares de mata-mouros, que não vales mais do que eu; dir-se-ia um ladrão a pregar moral a outro ladrão.
Há quem se espante de que o nome de Deus, invocado contra eles, nenhum efeito produza. A razão desse fato deu-no-la São Luís, na resposta seguinte:
"O nome de Deus só tem influência sobre os Espíritos imperfeitos, quando proferido por quem possa, pelas suas virtudes, servir-se dele com autoridade. Pronunciado por quem nenhuma superioridade moral tenha, com relação ao Espírito, é uma palavra como qualquer outra. O mesmo se dá com as coisas santas com que se procure dominá-los. A mais terrível das armas se torna inofensiva em mãos inábeis a se servirem dela, ou incapazes de manejá-la." (KARDEC, A. O Livro dos Médiuns, p. 351-354) (grifo nosso).
Em princípio, pode-se evocar qualquer espírito, desde que se tomem os devidos cuidados, especialmente os aqui relacionados por Kardec. E é bom sempre ter em mente que os espíritos não estão à nossas ordens, não têm obrigação nenhuma de atender ao nosso chamado, razão pela qual é até possível que se apresente um espírito brincalhão em lugar daquele com o qual queremos estabelecer contato. O “Vigiai e orai” é uma boa prática.
Outras importantíssimas orientações de Kardec
Ainda, em O Livro dos Médiuns:
282. Questões sobre as evocações
1ª Pode alguém, sem ser médium, evocar os Espíritos?
"Toda gente pode evocar os Espíritos e, se aqueles que evocares não puderem manifestar-se materialmente, nem por isso deixarão de estar junto de ti e de te escutar."
(...)
11ª Haverá inconveniente em se evocarem Espíritos inferiores e será de temer que, chamando-os, o evocador lhes fique sob o domínio?
"Eles não dominam senão os que se deixam dominar. Aquele que é assistido por bons Espíritos nada tem que temer. Impõe-se aos Espíritos inferiores e não estes a ele. Isolados, os médiuns, sobretudo os que começam, devem abster-se de tais evocações. (N. 278.)
12ª Serão necessárias algumas disposições especiais para as evocações?
"A mais essencial de todas as disposições é o recolhimento, quando se deseja entrar em comunicação com Espíritos sérios. Com fé e com o desejo do bem, tem-se mais força para evocar os Espíritos superiores. Elevando sua alma, por alguns instantes de recolhimento, quando da evocação, o evocador se identifica com os bons Espíritos e os dispõe a virem."
13ª Para as evocações, é preciso fé?
"A fé em Deus, sim; para o mais, a fé virá, se desejardes o bem e tiverdes o propósito de instruir-vos."
14ª Reunidos em comunhão de pensamentos e de intenções, dispõem os homens de mais poder para evocar os Espíritos?
"Quando todos estão reunidos pela caridade e para o bem, grandes coisas alcançam. Nada mais prejudicial ao resultado das evocações do que a divergência de ideias."
15ª Será conveniente a precaução de se formar cadeia, dando-se todos as mãos, alguns minutos antes de começar a reunião?
"A cadeia é um meio material, que não estabelece entre vós a união, se esta não existe nos pensamentos; mais conveniente do que isso é unirem-se todos por um pensamento comum, chamando cada um, de seu lado, os bons Espíritos. Não imaginais o que se pode obter numa reunião séria, de onde se haja banido todo sentimento de orgulho e de personalismo e onde reine perfeito o de mútua cordialidade."
16ª São preferíveis as e vocações em dias e horas determinados?
"Sim e, se for possível, no mesmo lugar: os Espíritos ai acorrem com mais satisfação. O desejo constante que tendes é que auxilia os Espíritos a se porem em comunicação convosco. Eles têm ocupações, que não podem deixar de improviso, para satisfação vossa pessoal. Digo no mesmo lugar, mas não julgueis que isso deva constituir uma obrigação absoluta, porquanto os Espíritos vão a toda parte. Quero dizer que um lugar consagrado às reuniões é preferível, porque o recolhimento se faz mais perfeito."
17ª Certos objetos, como medalhas e talismãs, têm a propriedade de atrair ou repelir os Espíritos conforme pretendem alguns?
"Esta pergunta era escusada, porquanto bem sabes que a matéria nenhuma ação exerce sobre os Espíritos. Fica bem certo de que nunca um bom Espírito aconselhará semelhantes absurdidades. A virtude dos talismãs, de qualquer natureza que sejam, jamais existiu, senão, na imaginação das pessoas crédulas."
18ª Que se deve pensar dos Espíritos que marcam encontros em lugares lúgubres e a horas indevidas?
"Esses Espíritos se divertem à custa dos que lhes dão ouvidos. E sempre inútil e não raro perigoso ceder a tais sugestões: inútil, porque nada absolutamente se ganha em ser mistificado; perigoso, não pelo mal que possam fazer os Espíritos, mas pela influência que isso pode ter sobre cérebros fracos."
19ª Haverá dias e horas mais propícias para as evocações?
"Para os Espíritos, isso é completamente indiferente, como tudo o que é material, e fora superstição acreditar-se na influência dos dias e das horas. Os momentos mais propícios são aqueles em que o evocador possa estar menos distraído pelas suas ocupações habituais, em que se ache mais calmo de corpo e de espírito."
20ª Para os Espíritos, a evocação é coisa agradável ou penosa? Eles vêm de boa-vontade, quando chamados?
"Isso depende do caráter deles e do motivo com que são chamados. Quando é louvável o objetivo e quando o meio lhes é simpático, a evocação constitui para eles coisa agradável e mesmo atraente; os Espíritos se sentem sempre ditosos com a afeição que se lhes demonstre. Alguns há para os quais representa grande felicidade se comunicarem com os homens e que sofrem com o abandono em que são deixados. Mas, como já disse, isto igualmente depende dos caracteres deles.Entre os Espíritos, também há misantropos, que não gostam de ser incomodados e cujas respostas se ressentem do mau humor em que vivem, sobretudo quando chamados por pessoas que lhes são indiferentes, pelas quais não se interessam. Um Espírito nenhum motivo tem, muitas vezes, para atender ao chamado de um desconhecido, que lhe é indiferente e que quase sempre tem a inspirá-lo a curiosidade. Se vem, suas aparições, em geral, são curtas, a menos que a evocação vise a um fim sério e instrutivo."
NOTA. Há pessoas que só evocam seus parentes para lhes perguntar as coisas mais vulgares da vida material, por exemplo: um, para saber se alugará ou venderá sua casa; outro, para saber que lucro tirará da sua mercadoria, o lugar em que há dinheiro escondido, se tal negócio será ou não vantajoso. Nossos parentes de além-túmulo por nós só se interessam em virtude da afeição que lhes consagremos. Se os nossos pensamentos, com relação a eles, se limitam a supô-los feiticeiros, se neles só pensamos para lhes pedir informações, é claro que não nos podem ter grande simpatia e ninguém deve surpreender-se com a pouca benevolência que lhes demonstrem.
21ª Alguma diferença há entre os bons e os maus Espíritos, pelo que toca à solicitude com que atendam ao nosso chamado?
"Uma bem grande há: os maus Espíritos não vêm de boa-vontade, senão quando contam dominar e enganar; experimentam viva contrariedade, quando forçados a vir, para confessarem suas faltas, e outra coisa não procuram senão ir-se embora, como um colegial a quem se chama para repreendê-lo. Podem a isso ser constrangidos por Espíritos superiores, como castigo e para instrução dos encamados. A evocação é penosa para os bons Espíritos, quando são chamados inutilmente, para futilidades.
Então, ou não vêm, ou se retiram logo.
"Podeis dizer que, em princípio, os Espíritos, quaisquer que eles sejam, não gostam, exatamente como vós, de servir de distração a curiosos, Frequentemente, outro fim não tendes, evocando um Espírito, senão ver o que ele vos dirá ou interrogá-lo sobre particularidades de sua vida, que ele não deseja dar-vos a conhecer, porque nenhum motivo tem para vos fazer confidências. Julgais que ele se vá colocar na berlinda, somente para vos dar prazer? Desenganai-vos; o que ele não faria em vida não fará tampouco como Espírito."
NOTA. A experiência, com efeito, prova que a evocação é sempre agradável aos Espíritos, quando feita com fim sério e útil. Os bons vêm prazerosamente instruir-nos; os que sofrem encontram alivio na simpatia que se lhes demonstra; os que conhecemos ficam satisfeitos com o se saberem lembrados, os levianos gostam de ser evocados pelas pessoas frívolas, porque isso lhes proporciona ensejo de se divertirem à custa delas; sentem-se pouco à vontade com pessoas graves.
22ª Para se manifestarem, têm sempre os Espíritos necessidade de ser evocados?
"Não; muito frequentemente, eles se apresentam sem serem chamados, o que prova que vêm de boa-vontade."
23ª Quando um Espírito se apresenta por si mesmo, pode-se estar certo da sua identidade?
"De maneira alguma, porquanto os Espíritos enganadores empregam amiúde esse meio, para melhor mistificarem."
24ª Quando se evoca pelo pensamento o Espírito de uma pessoa, esse Espírito vem, ainda mesmo que não haja manifestação pela escrita, ou de outro modo?
"A escrita é um meio material, para o Espírito, de atestar a sua presença, mas o pensamento é que o atrai e não o fato da escrita."
25ª Quando se manifeste um Espírito inferior, poder-se-á obrigá-lo a retirar-se?
"Sim, não se lhe dando atenção. Mas, como quereis que se retire, quando vos divertis com as torpezas? Os Espíritos inferiores se ligam aos que os escutam com complacência, como os tolos entre vós."
26ª A evocação feita em nome de Deus é uma garantia contra a imiscuência dos maus Espíritos?
"O nome de Deus não constitui freio para todos os Espíritos, mas contém muitos deles; por esse meio, sempre afastareis alguns e muitos mais afastareis, se ela for feita do fundo do coração e não como fórmula banal."
27ª Poder-se-á evocar nominativamente muitos Espíritos ao mesmo tempo?
‘"Não há nisso dificuldade alguma e, se tivésseis três ou quatro mãos para escrever, três ou quatro Espíritos vos responderam ao mesmo tempo; é o que ocorre se se dispõe de muitos médiuns."
28ª Quando muitos Espíritos são evocados simultaneamente, não havendo mais de um médium, qual o que responde?
"Um deles responde por todos e exprime o pensamento coletivo."
29ª Poderia o mesmo Espírito comunicar-se, simultaneamente, durante uma sessão, por dois médiuns diferentes?
"Tão facilmente quanto, entre vós, os que ditam várias cartas ao mesmo tempo."
NOTA. Vimos um Espírito responder, servindo-se de dois médiuns ao mesmo tempo, às perguntas que lhe eram dirigidas, por um em francês, por outro em inglês, sendo idênticas as respostas quanto ao sentido; algumas até eram a tradução literal de outras.
Dois Espíritos, evocados simultaneamente por dois médiuns, podem travar entre si uma conversação. Sem que este modo de comunicação lhes seja necessário, pois que reciprocamente um lê os pensamentos do outro, eles se prestam a isso, algumas vezes, para nossa instrução. Se são Espíritos inferiores, como ainda estão imbuídos das paixões terrenas e das ideias corpóreas, pode acontecer que disputem e se apostrofem com palavras pesadas, que se reprochem mutuamente os erros e até que atirem os lápis, as cestas, as pranchetas, etc., um contra o outro.
30ª Pode o Espírito, simultaneamente evocado em muitos pontos, responder ao mesmo tempo às perguntas que lhe são dirigidas?
"Pode, se for um Espírito elevado."
a) Nesse caso, o Espírito se divide ou tem o dom da ubiquidade?
"O Sol é um só e, no entanto, irradia ao seu derredor, levando longe seu raio, sem se dividir. Do mesmo modo, os Espíritos. O pensamento do Espírito é como uma centelha que projeta longe a sua claridade e pode ser vista de todos os pontos do horizonte. Quanto mais puro é o Espírito tanto mais o seu pensamento se irradia e se estende, como a luz. Os Espíritos inferiores são muito materiais; não podem responder senão a uma única pessoa de cada vez, nem vir a um lugar, se são chamados em outro.
"Um Espírito superior, chamado ao mesmo tempo em pontos diferentes, responderá a ambas as evocações, se forem ambas sérias e fervorosas. No caso contrário, dá preferência à mais séria."
NOTA. É o que sucede com um homem que, sem mudar de lugar, pode transmitir seu pensamento por meio de sinais perceptíveis de diferentes lados. Numa sessão da Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas, em a qual fora discutida a questão da ubiquidade, um Espírito ditou espontaneamente a comunicação seguinte:
"Inquiríeis esta noite qual a hierarquia dos Espíritos, no tocante à ubiquidade. Comparai-vos a um aeróstato que se eleva pouco a pouco nos ares. Enquanto ele rasteja na terra, só os que estão dentro de um pequeno círculo o podem perceber; à medida que se eleva, o círculo se lhe alarga e, em chegando a certa altura, se torna visível a uma infinidade de pessoas. É o que se dá conosco; um mau Espírito, que ainda se acha preso à Terra, permanece num círculo restrito, entre as pessoas que o veem. Suba ele na graça, melhore-se e poderá conversar com muitas pessoas. Quando se haja tornado Espírito superior, pode irradiar como a luz do Sol, mostrar-se a muitas pessoas e em muitos lugares ao mesmo tempo." - CHANNING.
31ª Podem ser evocados os puros Espíritos, os que hão terminado a série de suas encarnações?
"Podem, mas muito raramente atenderão. Eles só se comunicam com os de coração puro e sincero e não com os orgulhosos e egoístas. Por isso mesmo, é preciso desconfiar dos Espíritos inferiores que alardeiam essa qualidade, para se darem importância aos vossos olhos."
32ª Como é que os Espíritos dos homens mais ilustres acodem tão facilmente e tão familiarmente ao chamado dos homens mais obscuros?
"Os homens julgam por si os Espíritos, o que é um erro. Após a morte do corpo, as categorias terrenas deixam de existir. Só a bondade estabelece distinção entre eles e os que são bons vão a toda parte onde haja um bem a fazer-se."
33ª Quanto tempo deve decorrer, depois da morte, para que se possa evocar um Espírito?
"Podeis fazê-lo no instante mesmo da morte; mas, como nesse momento o Espírito ainda está em perturbação, só muito imperfeitamente responde."
NOTA. Sendo variável o tempo que dura a perturbação, não pode haver prazo fixo para fazer-se a evocação. Entretanto, é raro que, ao cabo de oito dias, o Espírito já não tenha conhecimento do seu estado, para poder responder. Algumas vezes, isso lhe é possível dois ou três dias depois da morte, em todos os casos se pode experimentar com prudência.
34ª A evocação, no momento da morte, é mais penosa para o Espírito do que algum tempo depois?
"Algumas vezes. É como se vos arrancassem ao sono, antes que estivésseis completamente acordados. Alguns há, todavia, que de nenhum modo se contrariam com isso e aos quais a evocação ato ajuda a sair da perturbação."
35ª Como pode o Espírito de uma criança, que morreu em tenra idade, responder com conhecimento de causa, se, quando viva, ainda não tinha consciência de si mesma?
"A alma da criança é um Espírito ainda envolto nas faixas da matéria; porém, desprendido desta, goza de suas faculdades de Espírito, porquanto os Espíritos não têm idade, o que prova que o da criança já viveu. Entretanto, até que se ache completamente desligado da matéria, pode conservar, na linguagem, traços do caráter da criança."
NOTA. A influência corpórea, que se faz sentir, por mais ou menos tempo, sobre o Espírito da criança, igualmente é notada, às vezes, no Espírito dos que morreram em estado de loucura. O Espírito, em si mesmo, não é louco; sabe-se, porém, que certos Espíritos julgam, durante algum tempo, que ainda pertencem a este mundo. Não é, pois, de admirar que, no louco, o Espírito ainda se ressinta dos entraves que, durante a vida, se opunham à livre manifestação de seus pensamentos, até que se encontre completamente desprendido da matéria, Este efeito varia, conforme as causas da loucura, porquanto há loucos que, logo depois da morte, recobram toda a sua lucidez.
(KARDEC, A. O Livro dos Médiuns, p. 358-368) (grifo nosso).
Observa-se aqui que Kardec não tratou a questão com leviandade; mas, ao contrário, com toda a seriedade possível. Essas orientações servem de roteiro seguro aos que possam se interessar no contato com os espíritos, proporcionando-lhes um caminho, se não totalmente, na pior das hipóteses, com certeza, menos pedregoso. Particularmente, percebemos que a quantidade delas demonstra a preocupação de Kardec na instrução dos que pouco conhecem ou nada sabem dessa realidade.
Qual a utilidade das evocações particulares?
Ainda em O Livro dos Médiuns, podemos ler:
281. As comunicações que se obtêm dos Espíritos muito elevados, ou dos que animaram grandes personagens da antiguidade, são preciosas, pelos altos ensinamentos que encerram. Esses Espíritos conquistaram um grau de perfeição que lhes permite abranger muito mais extenso campo de ideias, penetrar mistérios que escapam ao alcance vulgar da Humanidade e, por conseguinte, iniciar-nos melhor do que outros em certas coisas. Não se segue daí sejam inúteis as comunicações dos Espíritos de ordem menos elevada. Delas muita instrução colhe o observador. Para se conhecerem os costumes de um povo, mister se faz estudá-lo em todos os graus da escala. Mal o conhece quem não o tenha visto senão por uma face. A história de um povo não é a dos seus reis, nem a das suas sumidades sociais; para julgá-lo, é preciso vê-lo na vida íntima, nos hábitos particulares.
Ora, os Espíritos superiores são as sumidades do mundo espírita; a própria elevação em que se acham os coloca de tal modo acima de nós, que nos aterra a distância a que deles estamos.Espíritos mais burgueses (que se nos relevem esta expressão) nos tornam mais palpáveis as circunstâncias da nova existência em que se encontram. Neles, a ligação entre a vida corpórea e a vida espírita é mais íntima, compreendemo-la melhor, porque ela nos toca mais de perto. Aprendendo, pelo que eles nos dizem, em que se tornaram, o que pensam e o que experimentam os homens de todas as condições e de todos os caracteres, assim os de bem como os viciosos, os grandes e os pequenos, os ditosos e os desgraçados do século, numa palavra. os que viveram entre nós, os que vimos e conhecemos, os de quem sabemos a vida real, as virtudes e os erros, bem lhes compreendemos as alegrias e os sofrimentos, a umas e outros nos associamos e destes e daquelas tiramos um ensinamento moral, tanto mais proveitoso, quanto mais estreitas forem as nossas relações com eles. Mais facilmente nos pomos no lugar daquele que foi nosso igual, do que no de outro que apenas divisamos através da miragem de uma glória celestial. Os Espíritos vulgares nos mostram a aplicação prática das grandes e sublimes verdades, cuja teoria os Espíritos superiores nos ministram. Aliás, no estudo de uma ciência, nada é inútil. Newton achou a lei das forças do Universo, no mais simples dos fenômenos.
A evocação dos Espíritos vulgares tem, além disso, a vantagem de nos pôr em contacto com Espíritos sofredores, que podemos aliviar e cujo adiantamento podemos facilitar, por meio de bons conselhos. Todos, pois, nos podemos tomar úteis, ao mesmo tempo que nos instruímos. Há egoísmo naquele que somente a sua própria satisfação procura nas manifestações dos Espíritos, e dá prova de orgulho aquele que deixa de estender a mão em socorro dos desgraçados. De que lhe serve obter delas comunicações de Espíritos de escol, se isso não o faz melhor para consigo mesmo, nem mais caridoso e benévolo para com seus irmãos deste mundo e do outro? Que seria dos pobres doentes, se os médicos se recusassem a lhes tocar as chagas? (KARDEC, A. O Livro dos Médiuns, p. 356-358) (grifo nosso).
Não há outro sentido a não ser o de aprendermos. Com os espíritos superiores, temos a oportunidade de sermos aconselhados; com os vulgares, é a vez de aprendermos o que significa para todos nós as questões morais. E, além disso, a muitos desses últimos podemos, por nossa vez, dar-lhes conselhos, desde que, obviamente, tenhamos elevação espiritual para tal mister. Uma coisa é certa: aprendemos uns com os outros, mesmo na condição de espíritos desencarnados; isso é uma verdade.
Um bom objetivo para a evocação: Assuntos de estudo
Nesse importante manual, para todos os médiuns e os que buscam conhecer mais sobre esse assunto, Kardec ainda coloca:
343. Os que evocam seus parentes e amigos, ou certas personagens célebres, para lhes comparar as opiniões de além-túmulo com as que sustentavam quando vivos, ficam, não raro, embaraçados para manter com eles a conversação, sem caírem nas banalidades e futilidades. Pensam muitas pessoas, ao demais, que O Livro dos Espíritos esgotou a série das questões de moral e de filosofia. É um erro. Por isso julgamos útil indicar a fonte donde se pode tirar assuntos de estudo, por assim dizer inesgotáveis.
344. Se a evocação dos homens ilustres, dos Espíritos superiores, é eminentemente proveitosa, pelos ensinamentos que eles nos dão, a dos Espíritos vulgares não o é menos, embora esses Espíritos sejam incapazes de resolver as questões de grande alcance. Eles próprios revelam a sua inferioridade e, quanto menor é a distância que os separa de nós, mais os reconhecemos em situação análoga à nossa, sem levar em conta que frequentemente nos manifestam traços característicos do mais alto interesse, conforme explicamos acima, no número 281, falando da utilidade das evocações particulares. Essa e, pois, uma mina inexaurível de observações, mesmo quando o experimentador se limite a evocar aqueles cuja vida humana apresente alguma particularidade, com relação ao gênero de morte que teve, à idade, às boas e más qualidades, à posição feliz ou desgraçada que lhes coube na Terra, aos hábitos, ao estado mental, etc.
Com os Espíritos elevados, amplia-se o quadro dos estudos. Além das questões psicológicas, que têm um limite, pode propor-se-lhes uma imensidade de problemas morais, que se estendem ao infinito, sobre todas as posições da vida, sobre a melhor conduta a ser observada em tal ou qual circunstância, sobre os nossos deveres recíprocos, etc. O valor da instrução que se receba, acerca de um assunto qualquer, moral, histórico, filosófico, ou científico, depende inteiramente do estado do Espírito que se interroga. Cabe-nos a nós julgar.
345. Além das evocações propriamente ditas, as comunicações espontâneas proporcionam uma infinidade de assuntos para estudo. No caso de tais comunicações, tudo se cifra em aguardar o assunto de que praza ao Espírito tratar. Nessa circunstância, muitos médiuns podem trabalhar simultaneamente. Algumas vezes, poder-se-á chamar determinado Espírito. De ordinário, porém, espera-se aquele que queira apresentar-se, o qual, amiúde, vem da maneira mais imprevista. Esses ditados servem, depois, para um sem-número de questões, cujos temas se acham assim preparados de antemão. Devem ser comentados cuidadosamente, para apreciação de todas as ideias que encerrem, julgando-se se eles têm o cunho da verdade. Feito com severidade, esse exame, já o dissemos, constitui a melhor garantia contra a intromissão dos Espíritos mistificadores. Por este motivo, tanto quanto para instrução de todos, bom será dar conhecimento das comunicações obtidas fora das sessões. Como se vê, uma fonte aí há inestancável de elementos sobremaneira sérios e instrutivos.
346. Os trabalhos de cada sessão podem regular-se conforme se segue:
1ª Leitura das comunicações espíritas recebidas na sessão anterior, depois de passadas a limpo.
2ª Relatórios diversos. - Correspondência. - Leitura das comunicações obtidas fora das sessões. - Narrativa de fatos que interessem ao Espiritismo.
3ª Matéria de estudo. - Ditados espontâneos. - Questões diversas e problemas morais propostos aos Espíritos. - Evocações.
4ª Conferência. - Exame crítico e analítico das diversas comunicações. - Discussão sobre diferentes pontos da ciência espírita.
347. Os grupos recém-criados se veem, às vezes, tolhidos em seus trabalhos pela falta de médiuns. Estes, não há negar, são um dos elementos essenciais às reuniões espíritas, mas não constituem elemento indispensável e fora erro acreditar-se que sem eles nada se pode fazer. Sem dúvida, os que se reúnem apenas com o fim de realizar experimentações não podem, sem médiuns, fazer mais do que façam músicos, num concerto, sem instrumentos. Porém, os que objetivam o estudo sério, a esses se deparam mil assuntos com que se ocupem, tão úteis e proveitosos, quanto se pudessem operar por si mesmos. Acresce que os grupos possuidores de médiuns estão sujeitos, de um momento para outro, a ficar sem eles e seria de lamentar que julgassem só lhes caber, nesse caso, dissolverem-se. Os próprios Espíritos costumam, de tempos a tempos, levá-los a essa situação, a fim de lhes ensinarem a prescindir dos médiuns. Diremos mais: é necessário, para aproveitamento dos ensinos recebidos, que consagrem algum tempo a meditá-los.
As sociedades científicas nem sempre têm ao seu dispor os instrumentos próprios para as observações e, no entanto, não deixam de encontrar assuntos de discussão. À falta de poetas e de oradores, as sociedades literárias leem e comentam as obras dos autores antigos e modernos. As sociedades religiosas meditam as Escrituras.
As sociedades espíritas devem fazer o mesmo e grande proveito tirarão daí para seu progresso, instituindo conferências em que seja lido e comentado tudo o que diga respeito ao Espiritismo, pró ou contra. Dessa discussão, a que cada um dará o tributo de suas reflexões, saem raios de luz que passam despercebidos numa leitura individual.
A par das obras especiais, os jornais formigam de fatos, de narrativas, de acontecimentos, de rasgos de virtudes ou de vícios, que levantam graves problemas morais, cuja solução só o Espiritismo pode apresentar, constituindo isso ainda um meio de se provar que ele se prende a todos os ramos da ordem social.
Garantimos que a uma sociedade espírita, cujos trabalhos se mostrassem organizados nesse sentido, munida ela dos materiais necessários a executá-los, não sobraria tempo bastante para consagrar às comunicações diretas dos Espíritos. Daí o chamarmos para esse ponto a atenção dos grupos realmente sérios, dos que mais cuidam de instruir-se, do que de achar um passatempo. (Veja-se o n. 207, no capítulo Da formação dos médiuns.) (KARDEC, A. O Livro dos Médiuns, p. 437-440) (grifo nosso).
Pelos estudos saberemos qual é a realidade do mundo espiritual; algo de importância para todos nós, já que mais cedo ou mais tarde todos nós iremos para lá. Com isso nós podemos evitar os dissabores daqueles que acham que a vida se acaba no túmulo ou que, simplesmente, terão seus “pecados” perdoados, sem que tenham que pagar por absolutamente nada.
Um caso específico onde é mesmo necessária a evocação
Essa questão volta agora em definitivo no livro A Gênese, no capítulo XIV, Os Fluidos, quando, tratando das obsessões, Kardec diz:
46 - Assim como as enfermidades resultam das imperfeições físicas que tornam o corpo acessível às perniciosas influências exteriores, a obsessão decorre sempre de uma imperfeição moral, que dá ascendência a um Espírito mau, A uma causa física, opõe-se uma força física; a uma causa moral preciso é se contraponha uma força moral. Para preservá-lo das enfermidades, fortificasse o corpo; para garanti-la contra a obsessão, tem-se que fortalecer a alma; donde, para o obsidiado, a necessidade de trabalhar por se melhorar a si próprio, o que as mais das vezes basta para livrá-lo do obsessor, sem o socorro de terceiros. Necessário se torna este socorro, quando a obsessão degenera em subjugação e em possessão, porque nesse caso o paciente não raro perde a vontade e o livre-arbítrio.
Quase sempre a obsessão exprime vingança tomada por um Espírito e cuja origem frequentemente se encontra nas relações que o obsidiado manteve com o obsessor, em precedente existência.
Nos casos de obsessão grave, o obsidiado fica como que envolto e impregnado de um fluido pernicioso, que neutraliza a ação dos fluidos salutares e os repele. É daquele fluido que importa desembaraçá-lo, Ora, um fluído mau não pode ser eliminado por outro igualmente mau. Por meio de ação idêntica à do médium curador, nos casos de enfermidade, preciso se faz expelir um fluido mau com o auxílio de um fluido melhor.
Nem sempre, porém, basta esta ação mecânica; cumpre, sobretudo, atuar sobre o ser inteligente, ao qual é preciso se possua o direito de falar com autoridade, que, entretanto, falece a quem não tenha superioridade moral, Quanto maior esta for, tanto maior também será aquela.
Mas, ainda não é tudo: para assegurar a libertação da vítima, indispensável se torna que o Espírito perverso seja levado a renunciar aos seus maus desígnios; que se faça que o arrependimento desponte nele, assim como o desejo do bem, por meio de instruções habilmente ministradas, em evocações particularmente feitas com o objetivo de dar-lhe educação moral. Pode-se então ter a grata satisfação de libertar um encarnado e de converter um Espírito imperfeito. (KARDEC, A. A Gênese, p. 305-306). (grifo nosso).
É uma pena que a maioria das pessoas não se dá conta da influência espiritual, quando espíritos, ainda apegados ao desejo de vingança, buscam seus desafetos para lhes causar inúmeros transtornos; querendo “atazanar-lhes” a vida, para isso obsedia-lhes, sem dar nenhuma trégua. Muitos casos de pessoas tidas como loucas, na verdade, estão sob o jugo de um espírito desse tipo, embora alguns desses espíritos perturbadores, sendo sensíveis e de boa índole, compreendam que as admoestações que lhes são dirigidas destinam-se a mostrar o erro que estavam cometendo e procuram melhorar-se moralmente.
Kardec comprova a prática da evocação
Encontramos várias comunicações recebidas por evocação, tanto na Revista Espírita quanto em O Céu e o Inferno. Aqui citaremos algumas delas desse último livro (p. 175-425.), ressaltando que, em certos casos, pensou-se antes em evocar um determinado Espírito, mas a maioria deles se apresentou espontaneamente.
Espíritos Felizes
1. SANSON - antigo membro da Sociedade Espírita de Paris faleceu a 21 de abril de 1862; evocado em 23 de abril de 1862, na câmara mortuária e em 25 de abril de 1862, na Sociedade Espírita de Paris.
2. JOBARD - diretor do Museu da Indústria de Bruxelas, nascido em Bassey (Haute-Marne) e falecido em Bruxelas, de apoplexia fulminante, a 27 de outubro de 1861, com sessenta e nove anos de idade; evocado na sessão da Sociedade Espírita de Paris em 08 de novembro.
3. SAMUEL FILIPE - faleceu em dezembro de 1862, na idade de 50 anos, de moléstia atroz, sendo o seu passamento muito sensível à família e aos amigos, foi evocado alguns meses depois do trespasse.
4. VAN DURST – morto em Anvers, em 1863, com a idade de oitenta anos, pouco depois de sua morte; perguntado se já poderia ser evocado, o guia espiritual do médium disse que ele estava ainda perturbado; mas quatro dias depois ele se manifesta.
5. SIXDENIERS – morto em acidente, era médium. Manifestou-se em 11.02.1861.
6. DOUTOR DEMEURE – morto em Albi (Tarn), em 25.01.1865; no dia 30, quando se pensava em evocá-lo, ele se comunica. Nos dias 01 e 02 de fevereiro ele novamente se manifesta passando recomendações a Kardec a respeito de sua saúde.
7. VIÚVA FOULON, NASCIDA WOLLIS - falecida em Antibes a 3 de fevereiro de 1865, evocada em Paris, 6 de fevereiro de 1865, três dias após o decesso, e novamente em 08 e 09 do mesmo mês.
8. UM MÉDICO RUSSO – não há informação da data de sua morte e nem do dia em que foi evocado.
9. BERNADIN – manifesta em abril de 1862, dizendo ter vivido de 1400 a 1460.
10. CONDESSA PAULA – morreu em 1851, evocada doze anos depois de sua morte.
11. JEAN REYNAUD – manifestou-se espontaneamente na Sociedade Espírita de Paris e em uma reunião familiar; a outra comunicação citada foi por evocação.
12. ANTOINE COSTEAU – foi membro da Sociedade Espírita de Paris, sepultado em 12.09.1863, no cemitério de Montmartre; fato extraordinário é que se manifestou espontaneamente naquele local, junto à sua sepultura ainda não fechada.
13. SRTA EMMA – morta por um acidente causado pelo fogo, espontaneamente, se manifesta em 30.07.1863, num centro em Havre e em 31.07.1863, na Sociedade Espírita de Paris.
14. DOUTOR VIGNAL – foi membro da Sociedade Espírita de Paris, morto em 27.03.1865, evocado na sede da sociedade a 31.03.1865.
15. VICTOR LEBUFLE – morto com a idade de vinte anos, pouco depois de sua morte manifestou-se espontaneamente.
16. SRA ANAIS GOURDON – falecida em 11.1860, manifestou-se por evocação.
17. MAURICE GONTRAN – falecido aos dezoito anos, se manifesta alguns meses depois de sua morte.
Espíritos em condições medianas
18. JOSEPH BRÉ – falecido em 1840, evocado em Bordeaux em 1862 por sua neta.
19. SRA. HÉLÈN MICHEL – jovem de vinte e cinco anos, morta subitamente em sua casa, evocada três dias depois de sua morte.
20. MARQUÊS DE SAINT-PAUL – falecido em 1860, evocado a pedido de sua irmã, membro da Sociedade de Paris, em 16.05.1861.
21. SR. CARDON, MÉDICO – manifestou-se por evocação.
22. ERIC STANISLAS – comunicação espontânea, na Sociedade de Paris, em agosto 1863.
23. SRA. ANNA BELLEVILLE – morreu aos trinta e cinco anos de idade, evocada no dia seguinte à sua morte e novamente um mês depois do trespasse.
Espíritos sofredores
24. NOVEL – o Espírito se dirige ao médium, que o conhecera quando vivo.
25. AUGUSTE MICHEL – jovem que morreu, em março de 1863, em virtude de uma queda da carruagem em que passeava; evocado, alguns dias depois de sua morte, comunica-se em 08.03, 18.03, 06.04, 11.05 e 08.06.
26. EXPROBAÇÕES DE UM BOÊMIO – manifesta-se espontaneamente em 30.07.1862.
27. LISBETH - manifesta-se espontaneamente em 13.01.1862, dizendo ter vivido há cento e cinquenta anos, na Prússia.
28. PRÍNCIPE DE OURAN - manifesta-se espontaneamente em 1862.
29. PASCAL LAVIC - manifesta-se espontaneamente em 09.08.1863 e no dia seguinte, diz ter morrido no mar. Um jornal do dia 11.08, dá notícia de um resto de cadáver encontrado, no dia 06, encalhado entre Bléville e La Hève.
30. FERDINAND BERTIN – manifesta-se espontaneamente no dia 08.12.1863, dando a entender que morreu afogado no mar. Mais tarde soube ser, efetivamente, o nome de uma das vítimas da grande catástrofe marítima ocorrida nessas paragens a 2 de dezembro de 1863. Em 02.02.1864, novamente se comunica também espontaneamente.
31. FRANÇOIS RIQUIER – morto em 1857, manifesta-se espontaneamente em 1862.
32. CLAIRE – evocada se manifesta em 1861, por sete vezes, demonstrando um progresso sensível.
Suicidas
33. O SUICIDA DA SAMARITANA – cortou sua garganta a navalha em 07.04.1858, evocado seis dias depois de sua morte na Sociedade de Paris.
34. O PAI E O CONSCRITO – Em 1859, para evitar que seu filho fosse à guerra, um pai se suicida, pois aí ficaria isento por ser filho único de viúva. Foi evocado um ano depois,na Sociedade de Paris, a pedido de uma pessoa que o conhecera e queria saber de suas condições no mundo dos Espíritos.
35. FRANÇOIS-SIMON LOUVERT – lançou-se da torre de François I, em 22.07.1857, tendo se comunicado em 12.02.1863.
36. MÃE E FILHO – em 03.1865, uma mãe se enforca por não suportar a morte de seu filho; ambos foram evocados, vários dias depois da triste ocorrência.
37. DUPLO SUICÍDIO, POR AMOR E POR DEVER – em 13.06.1862 um jornal noticia o suicídio de um casal; pouco tempo depois se manifestaram, por evocação, na Sociedade de Paris.
38. LUÍS E A PESPONTADEIRA DE BOTINAS – em princípios de 1853, um jovem se suicida por não conseguir se reconciliar com sua noiva depois de uma desavença; cerca de oito meses do fato é evocado na Sociedade de Paris.
39. UM ATEU – evocado dois anos depois de sua morte, na Sociedade de Paris, a pedido de um parente.
40. SR. FÉLICIEN – suicidou-se em 12.1864, enforcando-se em seu quarto; quatro meses depois foi evocado.
41. ANTONIE BELL – em 28.02.1865, suicidou-se; evocado em Paris, em 17.04.1865, a pedido de seu amigo.
Criminosos arrependidos
42. VERGER – No dia 03.01.1857, Mons. Sibour, arcebispo de Paris, saindo da Igreja de Saint-Étienne du Mont, foi ferido mortalmente por um jovem padre de nome Verger. O culpado foi condenado à morte e executado em 30.01. Foi evocado no mesmo dia de sua execução e novamente três dias mais tarde.
43. LEMAIRE – condenado à pena de morte, pelo Supremo Tribunal de Justiça (Criminal) de Aisne, e executado em 31.12.1857; evocado em 19.01.1858.
44. BENOIST – manifestou-se espontaneamente em março de 1862, dizendo ter morrido em 1704.
45. O ESPÍRITO DE CASTELNAUDARY – esse espírito assombrava uma pequena casa perto de Castelnaudary, tendo sido evocado na Sociedade de Paris, em 1859. Evocado de novo mais tarde, disse que em 1608 matou o seu irmão e que morreu em 1608
46. JACQUES LATOUR – assassino, condenado pelo tribunal de justiça de Foix, executado em setembro de 1864, apresentou-se espontaneamente em 13.09.1865, em Bruxelas. Foi, tempos depois, evocado na Sociedade Espírita de Paris, onde se manifestou por diversas vezes.
Espíritos endurecidos
47. LAPOMMENARY – manifestou-se espontaneamente na Sociedade de Paris.
48. ANGÈLE, NULIDADE SOBRE A TERRA – apresenta-se espontaneamente em 1862, em Bordeaux.
49. UM ESPÍRITO ABORRECIDO - apresenta-se espontaneamente em 1862, em Bordeaux.
50. A RAINHA DE OUDE – morta na França em 1858.
51. XUMÈNE – manifestação espontânea, em Bordeaux, em 1862.
Expiações terrestres
52. MARCEL, O MENINO DE Nº 4 – criança de 8 a 10 anos, que fora internada num hospício, foi evocado na Sociedade de Paris, em 1863.
53. SZYMEL SLIZGOL – mendigo que morreu em 05.1865, evocado em 15.06.1865, na Sociedade de Paris.
54. JULIENNE-MARIE, A MENDIGA – evocada na Sociedade Espírita de Paris, em 10.06.1864.
55. MAX, O MENDIGO – evocado.
56. HISTÓRIA DE UM CRIADO – evocado.
57. ANTÔNIO B. – cai em 1850, em consequência de um ataque de apoplexia, num estado de morte aparente; quinze dias depois de sepultado a família pediu para exumação do corpo; quando abriram a sepultura estava em outra posição; evocado na Sociedade de Paris, em 08.1861, a pedido de um dos seus parentes.
58. LETIL – morreu em 04.1864; evocado na Sociedade de Paris, em 29.04.1864, poucos dias depois de sua morte.
59. UM SÁBIO AMBICIOSO – comunicou-se na Sociedade Espírita de Paris e também à filha.
60. CHARLES DE SANT-G..., IDIOTA – criança evocada na Sociedade de Paris, em 1860.
61. ADÉLAIDE-MARGUERITE GOSSE – evocada na Sociedade de Paris, em 27.12.1861.
62. CLARA RIVIER – morreu em 09.1862, evocada.
63. FRANÇOISE VERNHES – cega de nascença, morta em 1855, evocada em Paris, em 05.1865.
64. ANNA BITTER – evocada.
65. JOSEPH MAÎTRE, O CEGO – morreu em 1845; evocado em Paris, 1863, por um amigo que o conhecera.
Conclusão
De tudo quanto nós vimos sobre o assunto, a nossa conclusão pessoal é que não faz sentido algum em proibir, restringir ou evitar a evocação dos Espíritos. Pelos casos que apresentamos fica claro que isso era fato corriqueiro na Sociedade Espírita de Paris; portanto, sob os olhos de Kardec. Mas evidentemente, alguém poderá objetar que Kardec evocava para aprender; aí, podemos contra-argumentar, nós também a justificamos para esse objetivo e encontramos mais um que, reputamos de importância; são os casos em que parentes e amigos querem saber notícias de seus entes queridos que já vivem na dimensão espiritual. Não seria essa uma missão consoladora do Espiritismo?
Paulo da Silva Neto Sobrinho
Mar/2005.
(ampliado em dez/2008)
Referências bibliográficas:
KARDEC, A. O Livro dos Espíritos. Rio de Janeiro: FEB, 1995.
_________. O Livro dos Médiuns. Rio de Janeiro: FEB, 1996.
_________. O Céu e o Inferno. Rio de Janeiro: FEB, 1995.
_________. A Gênese. Rio de Janeiro: FEB, 1995.
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