a partir de maio 2011

terça-feira, 11 de outubro de 2011

CHICO XAVIER: DEFINITIVAMENTE OUTRA RELIGIÃO!


Há algum tempo, afiancei que caducaram por completo aqueles prognósticos ao final do capítulo XXV do livro A Caminho da Luz (1939), do Espírito Emmanuel.[1] O jesuíta assegurava ali, evidentemente em falso, que eram chegados os tempos em que as forças do mal seriam compelidas a abandonar as suas derradeiras posições de domínio nos ambientes terrestres; que se vivia na Terra, à época, um crepúsculo, ao qual sucederia ainda profunda noite, e que, ao século XX é que competiria a missão do desfecho desses acontecimentos espantosos, o que chamou, distorcendo o verdadeiro sentido dos Evangelhos, de “a divisão das ovelhas do imenso rebanho”.

Justo agora, num jornal “espírita” de grande circulação, entrevistado pela Dra. Marlene Nobre, o Sr. Geraldo Lemos Neto participa ao público as revelações que, em 1986, Chico Xavier lhe fez sobre o futuro reservado ao planeta Terra e seus habitantes nos próximos anos, e finaliza citando mais esta pérola da pseudossabedoria emmanuelina: “as profecias são reveladas aos homens para não serem cumpridas”. Só se forem as do suposto ex-senador de Roma, advogando aí em causa própria, pois as suas profecias, sim, nunca se cumpriram. Oras! Kardec já advertira em A Gênese, XVI, 16, que “os espíritos realmente sábios nunca predizem nada com épocas determinadas”, bem como “se pode ter por certo que, quanto mais circunstanciadas as predições, mais elas são suspeitas”. Portanto, nada tem que ver com o Espiritismo essa nova religião divinista oracular, essa nova Igreja chamada Federação Espírita Brasileira, que tem por ícones dóceis o médium Chico Xavier, todos os seus guias e congêneres, agora erigidos em profetas apocalípticos.

Segundo o patético complexo de revelações feitas em 1986 por Chico Xavier ao Sr. G. Lemos Neto, não por decisão própria, mas ouvindo o apelo de outros seres angelicais de nosso sistema solar, Jesus convocou, em 1969, uma reunião destinada a deliberar, na atmosfera terrestre, sobre o futuro de nosso planeta. A razão do apelo? Pasmem: a chegada do homem à Lua.

Depois de muitos diálogos, debates e sugestões, mesmo ante o receio e a indisposição de algumas potências angélicas presentes, que mais lembram por isso deuses mitológicos que Espíritos puros, Jesus concedeu à nossa civilização atual uma “última chance”, e “todas as injunções cármicas previstas para acontecerem no final do século XX” (belo eufemismo para “fim do mundo”) “foram suspensas”. Emmanuel estaria, assim, livre da acusação de falso profetismo. À luz, contudo, dos princípios kardecianos, o que importa neste particular nem é se tais profecias se cumpriram ou não se cumpriram. O erro já está no fato de Emmanuel haver predito acontecimentos espantosos para época determinada, coisa que, segundo Kardec, espíritos verdadeiramente sábios nunca fazem.

Além do mais, em A Gênese, XVIII, 26, aprende-se: “A Terra, no dizer dos espíritos, não deve ser transformada por um cataclismo que aniquilaria subitamente uma geração. A geração atual desaparecerá gradualmente, e a nova a sucederá da mesma maneira, sem que nada seja mudado na ordem natural das coisas. Tudo, pois, se passará, exteriormente, como de hábito [...] Assim, aqueles que esperam ver a transformação ocorrer através de efeitos sobrenaturais e maravilhosos ficarão decepcionados”.

Voltemos ao monte Olimpo. Para tranquilizar, então, os anjos receosos e indispostos com a dilação do prazo para o fim do nosso mundo em 50 anos, Jesus impôs às nações mais desenvolvidas e responsáveis da Terra que não lançassem uma eventual III Guerra. (Teria sido por alguma videoconferência secreta?) Basta evitarem tal catástrofe até 2019, e nosso mundo será admitido no sistema solar como planeta de regeneração. Se um espírito apenas sábio nada prediz com época marcada, que se dirá de um Espírito puro como Jesus, a fazê-lo motivado, ainda mais, pela indisposição receosa de alguns de seus pares.

Daí por diante, apesar de Chico Xavier dizer ao Sr. G.Lemos Neto que “nenhum de nós pode prever os avanços que se darão a partir dessa data de julho de 2019”, o próprio médium, instado pelo interlocutor, passa a enumerá-los, desde a extinção da pobreza e dos problemas sociais, passando pelo fabrico de aparelhos para conversas com desencarnados, até a permissão expressa de Jesus aos extraterrestres para que nos ofertem tecnologias inimagináveis.

O mais assombroso, porém, são as previsões para a hipótese de ser lançada a III Guerra, que seria terminada por uma reação das forças telúricas da mãe-Terra, inviabilizando a vida no hemisfério norte. Isso levaria, pasmem, a uma invasão autorizada pela ONU ao hemisfério sul (lembra o filme O Dia Depois de Amanhã), restando aos brasileiros, além de apenas um quarto do seu território militarmente dividido entre invasores, também a obrigação de ainda “exemplificar a verdadeira fraternidade cristã”, ensinando-lhes os mais altos valores de espiritualidade, apesar de terem de aprender, com os norte-americanos, o respeito às leis, o amor ao direito, à ciência e ao trabalho; com os europeus, o amor a filosofia, à música erudita; com os asiáticos, o respeito ao dever, a disciplina... Surreal! Um povo que precisa aprender o respeito às leis e o amor ao direito com invasores irá ensinar-lhes, em contrapartida, os mais altos valores de espiritualidade!

Outra providência dos deuses gregos ali travestidos de puros espíritos foi que, desde 2000 (suposto ano da reencarnação de Emmanuel), só permitem reencarnar na Terra mansos, brandos, amorosos e pacíficos, sendo os recalcitrantes no mal encaminhados a mundos atrasados, o maior deles, “Quírom” ou “Kírom” (sic). Todos os que hoje têm no máximo 11 anos integram esse exército de brandos? Matemática inviável.

Decerto, mais uma profecia não cumprida. E tudo bem. Afinal, profecias são reveladas para não serem cumpridas, segundo Emmanuel.

A esta altura, não me interessa a ortografia do nome do maior planeta para onde estariam sendo exilados os malvados terrícolas desde 2000 (nome que, por sinal, no português terráqueo, só exigiria o acento se terminado em “n”). O que me importa é gritar que essa mistificação vexatória e ridícula é outra religião, é um místico divinismo oracular, não é Espiritismo, mesmo porque nada conseguiu sê-lo após o passamento do Gênio lionês ao mundo espírita, de onde certamente ainda lamenta o integral cumprimento desta profecia do Espírito Verdade: “[...] as tuas melhores instruções serão desprezadas e falseadas”.[2]

Desse modo, profecias, quando são verdadeiras predições, cumprem-se com rigor, exceção feita às mistificações de espíritos pseudossábios, que “julgam saber mais do que realmente sabem”, ou que simplesmente insistem sobre aquilo que deve permanecer oculto, “a fim de darem a impressão de que conhecem os segredos de Deus”.[3]
Sergio Aleixo

[1] Revista “Espiritismo e Ciência” n. 53. Kardec e os Exilados. Cf. http://ensaiosdahoraextrema.blogspot.com/2010/03/kardec-e-os-exilad...
[2] KARDEC. Obras Póstumas. 12 de junho de 1856. Em casa do Sr. C.; médium: Srta. Aline C. Minha Missão.
[3] Cf. O Livro dos Espíritos, 104. O Livro dos Médiuns, 300.

“Ninguém tem o direito de condenar o que não sabe o que não lê e o que não quer investigar” Prisciliano de Ávila (340 – 385 D.C.)

Grato

Edson Rocha

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