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domingo, 3 de março de 2024

Explicações dos dez mandamentos dadas pelos Espíritos

 

Explicações dos dez mandamentos dadas pelos Espíritos

 

   Essas explicações dos Dez Mandamentos1, atribuídas ao Espírito de Allan Kardec e outros Espíritos, foram obtidas num grupo espírita que se instruía com os Espíritos no século XIX. Algumas comunicações recebidas pelo grupo foram reunidas em um livro cujo título é Vérités et lumières.2 Lemos várias delas que nos pareceram apócrifas. No entanto, uma nos chamou a atenção por trazer bons esclarecimentos sobre o Decálogo, mas continha pontos obscuros em algumas passagens. Evocamos então nosso mestre Allan Kardec e lhe perguntamos se teria sido ele o autor de tais explicações. Eis a resposta:

   "Meus amigos, fui eu um dos autores das citadas explicações, que foram ditadas em conjunto com outros Espíritos. No entanto, o que se obtém dos Espíritos nem sempre surge pronto para ser publicado sem correções ou ajustes, e foi o que se deu então; alguns trechos não foram bem captados pelo médium e passaram despercebidos, o que fez com que as respostas dadas não fossem submetidas novamente aos Espíritos." (Allan Kardec)

   Submetemos então ao mestre Allan Kardec os pontos que não estavam claros para nós, e substituímos as respostas confusas pelas que obtivemos. Compartilhamos essas explicações com os nossos leitores para análise.

 

I

 

    Eu sou o Senhor, vosso Deus, que vos tirei do Egito, da casa da servidão.

   Que, em vos submetendo, pelas várias encarnações, a provas que vos levassem a aprender a amar, vos dei recursos para abandonar a servidão voluntária ao império do homem velho. Se aproveitares as provas para avançar, reencarnas num mundo melhor; se não as aproveitares, a reencarnação na Terra será o esquecimento dos remorsos que sofres como Espírito; é o perdão do passado, se te arrependeste. É a libertação do mau caminho. Mostrei-vos a via reta, sois livre, recomeçareis e fareis melhor.

 

II

 

   Não terás outro Deus senão eu.

   Deves dedicar-me tua alma, teus pensamentos; fazer todos os esforços para subir até mim. Afastarei por longo tempo dos lugares de pureza aquele que tiver rendido a outro o culto que me é devido.

   Não farás nenhuma imagem do que está no alto, nos céus, ou embaixo, na Terra, ou nas águas sob o mar.

    Deus, essência sem mácula, não pode ser representado. Toda imagem que se pretenda fazer dele, em tudo ou em parte, constitui uma blasfêmia. Toda imagem diante da qual vos inclinais é um ídolo, do qual se faz, por essa ação, um rival da onipotência divina.

   Não te prosternarás diante delas, e não as adorarás.

   Não se trata somente de ídolos de pedra ou de metal.

   Existe o eu ao qual se rende homenagem, que se adora muito frequentemente. Para o próprio bem-estar, para as satisfações pessoais, chega-se a cometer todos os atos proibidos pela lei de Deus. O amor do ouro, do luxo, dos prazeres dos sentidos, a satisfação da carne, aos quais se sacrificam virtude, honra, dever, a felicidade eterna: todas essas paixões são ídolos.

   Porque eu, o Eterno, teu Deus, sou um deus ciumento.

   Quão criminosos foram os homens que ousaram acrescentar e transformar o texto da lei, onde só havia sido dito: Eu sou o Deus uno! O Deus que é! Os homens ousaram atribuir a Deus suas paixões e suas fraquezas. Disseram: o braço de Deus, o olho de Deus, o que os levou a dizer: a cólera de Deus, o ciúme de Deus.

   Deus é perfeito! Toda virtude está nele, o mal não pode vir dele. Ele é essência sem mácula! Nenhuma forma lhe pode ser atribuída. É uma luz sem igual, sem comparação possível. Nenhum Espírito em estado de encarnado pode compreender perfeitamente essa espiritualidade. Ninguém pode, no que quer que seja, partilhar ou igualar seu poder. Não, Deus não é ciumento!3

   Que pune a iniquidade dos pais nos filhos que me odeiam até a terceira geração.

   Isso seria a negação da soberana justiça e da suprema bondade de Deus.

   Em verdade, eis o que foi dito: Cada um será punido pelo seu pecado. Não está aí um desmentido dessas tristes palavras? O culpado expia as faltas, das quais não se arrepende, em uma sucessão de penosas encarnações.4

   E que faz graça em mil gerações aos que me amam e guardam meus mandamentos.

   Seria a negação da justiça divina. Como a descendência de um homem de bem, se ela transgride os mandamentos do Criador, mereceria a felicidade prometida aos bons servidores? Por graça? Mas Deus não concede privilégios! Ele recompensa, ele abençoa os esforços feitos com vistas ao bem. Aquele que obedece, que se submete com resignação às suas provas e progride conforme suas forças, será feliz nas encarnações sucessivas, na Terra e nos mundos superiores; ou seja: sempre. A cada um segundo suas obras.

 

III

 

   Não tomarás em vão o nome do Eterno, teu Deus!

   De qualquer nome que se tome para designar o Criador, há ofensa ao se pronunciar esse nome levianamente; não somente ao blasfemar, isto é, com cólera, mas também gracejando, ou como uma exclamação sem valor; bem mais ainda ao se prometer o que quer que seja em nome da Divindade e não cumprir o que foi prometido.

 

IV

 

   Pois em seis dias o Eterno fez os céus, a terra, o mar e tudo o que eles encerram, e repousou no sétimo.

    Os seis dias são uma alegoria para designar períodos geológicos.5 Jesus disse: Meu pai trabalha até esta hora e eu faço como ele. Deus não precisa de repouso. Ele sempre criou e criará sempre! Jesus disse ainda: O Filho do homem trabalha até mesmo no sábado, no dia dedicado pela tradição ao repouso; ou seja, trabalha sempre. O homem é livre para fazer, durante a sua peregrinação terrena, sua felicidade futura, ou preparar sua decadência; subir na hierarquia espírita6, ou retomar o envoltório material e enfrentar os sofrimentos inerentes a esse mundo imperfeito.7

   Não farás nenhuma obra nesse dia, nem tu, nem teu filho, nem tua filha, nem teu boi, nem teu asno, nem teu servidor, nem tua servente, nem o estrangeiro dentro de tuas portas.

   Todo esse detalhamento não fora escrito nas tábuas da lei; Moisés julgou-o necessário para um povo ainda infantil. O repouso do corpo é necessário, mas não poderia ser prescrito como lei geral estabelecida em um dia fixo a toda gente.

 

V

 

   Honra teu pai e tua mãe para que teus dias sejam prolongados na terra que o Eterno te dá.

   Deus é o pai de todos. Honrai-o antes de tudo e amai-o mais que tudo. Que o amor por ele seja maior que o temor. Não se ofende a quem se ama verdadeiramente. Honrai e amai aqueles que ele vos deu por pai e mãe, pois é amando-os que aprendereis o amor; que compreendereis o que é devido ao Pai que tudo criou, a fim de que residas longo tempo em liberdade no espaço, e que não tenhas que repetir tuas provas.

 

VI

 

   Não matarás.

   Não se trata apenas de não cometer homicídio. Há uma coisa mais preciosa que o corpo: a alma! Pais, que educais vossas crianças longe de Deus e de seus mandamentos, vós matais! Pais, professores, governantes de toda ordem, que dais maus exemplos por impiedade, imoralidade, zombaria ou vicio, vós matais!

   Todos vós, crentes, que não professais vossa fé diante do incrédulo ou do ignorante, vós matais! É preciso dar testemunho da vossa fé onde puderdes, sobretudo pelo bom exemplo. Não sejais servos inúteis! Jesus disse: Àquele que tem, mais será dado; àquele que não tem, será tirado o pouco que tem. Cada um vem com uma qualidade, um talento, por mínimos que sejam. Fazei valer o pouco que possuís, aumentai vosso haver, e, ao que houverdes adquirido, serão acrescentadas novas virtudes, o conhecimento de mais verdades, mais ciência espiritual, ou seja, mais felicidade. No entanto, se não fizerdes nenhum esforço para aumentar o que tendes em vós de bom, perdereis esse pouco por vossa negligência e sofrereis por mais tempo.8

 

VII

 

   Não cometerás adultério.

   Dar a alguém o que não lhe pertence, em detrimento daquele a quem o bem pertence, é cometer adultério. Deus vos disse, por meio de seus profetas: Eu sou um! Render a qualquer outro que não a ele a adoração, o amor, o respeito e a veneração que lhe são devidos é ser culpado de adultério. Essa palavra, tomada no sentido de moralidade humana, diz: É culpado de infração à lei do terceiro mandamento aquele que, tendo feito uma promessa diante de Deus, não a cumpre. É por isso que todo compromisso que não seja com o bem, e que se diga eterno, é uma falta. Somente o que esteja de acordo com o bem que procede de Deus é verdadeiro e imutável no Universo inteiro; tudo o mais passará.

 

VIII

 

   Não roubarás.

   Essa proibição não se limita apenas às coisas materiais. Rouba-se um benefício ao negar-se reconhecimento ao benfeitor. Ao vos permitir encarnar num corpo físico, Deus vos perdoou parcialmente, dando-vos o esquecimento do passado; com isso, vos dá a oportunidade de voltardes ao espaço depurados, ou pelo menos melhores. Ele vos oferece a felicidade eterna, um perdão absoluto, por um pouco de esforço e um verdadeiro arrependimento. Vós o agradeceis? Ele vos nutre ao permitir que a terra produza; ele vos dá a fortuna ou o trabalho que vos fornece os meios de prover o necessário. Ele vos dá a vida, a saúde, a família, Anjos para vos proteger. Vós o agradeceis? Vossos sofrimentos, vossas enfermidades não vêm de Deus. Algumas vezes são advertências que vossos Espíritos protetores vos enviam; dores que vós mesmos havíeis pedido sofrer como expiação; também são provas que podem tornar-se fonte da vossa felicidade, pois se as suportardes sem murmurar estais na via do progresso. Olhai para vós mesmos, perguntai-vos de onde vêm vossas penas, e não acuseis a bondade suprema. Agradeceis o celeste Pai quando ele vos livra de vossos males? Por toda alegria, por todo bem, vós o bendizeis? Por todas as maravilhas que vos é dado contemplar, por toda nova descoberta que vos é favorável, por toda verdade que vos é revelada, vós o glorificais? Pelo Soberano Senhor tudo é, tudo acontece, tudo será. Se recebeis esses dons e não lhe sois reconhecidos, se não sois gratos, vós roubais!!

 

IX

 

   Não dirás falso testemunho contra teu próximo.

   Não basta não fazer acusações de um delito imaginário, é necessário não julgar sem imparcialidade e sem caridade e não acusar sem provas incontestáveis. Quem julga será julgado. Portanto, pesai a veracidade e as consequências de vossos julgamentos: podeis, em qualquer ocasião, prestar um falso testemunho. As escrituras santas, as palavras inspiradas dos profetas, os ensinos sublimes de Jesus, o messias de Deus, foram transformados, modificados, alterados. Quantos falsos testemunhos! E isso feito por homens que se diziam ministros do Todo-Poderoso! Sede cautelosos ao repetir o que ouvis, seja uma frase, seja uma palavra, a fim de não lhe alterar o sentido; também são falsos testemunhos que podem levar a terríveis resultados: a guerra entre as nações, a animosidade e a discórdia entre vós. Bem-aventurados sejam os que promovem a paz!

 

X

 

   Não cobiçarás o bem de teu próximo. Nem sua mulher, nem sua filha, nem sua casa, nem seu boi, nem seu asno, nem seu servo, nem sua serva, nem nada que pertença ao teu próximo.

   O orgulhoso não quer ver nada que seja superior a ele, e com frequência nem mesmo igual. É o orgulho que engendra a inveja. O invejoso deseja tudo o que ele próprio  não é; sofre por ver em posse de outrem um bem ou uma coisa que lhe agrada. Riqueza, juventude, talento, beleza nos outros, tudo é causa de sofrimento para ele. O amor-próprio impulsiona a essa cobiça, cuja primeira punição se faz sentir no tormento do pensamento e do coração: estado doloroso do moral e de todo o sistema nervoso.

   Destruir a felicidade doméstica, lançando-lhe perturbação ou desonra, buscar prejudicar a fortuna, a reputação, o bem do vizinho, o seu comércio, desacreditando ou deteriorando; buscar fazer alguém perder um bom empregado ou um bom servidor, fazer manobras para obter um lugar destituindo aquele que o ocupa; todas essas infrações encontram sua proibição no décimo mandamento. Sua inobservância acarreta para o Espírito longas e penosas encarnações de reparações, pois toda falta cometida deve ser reparada.

   As censuras da parte dos Espíritos magoados, que se encontram no espaço, sem poder escapar-lhes, suas acusações, suas queixas, são terríveis tormentos. O culpado quer fugir, por uma nova encarnação, a esse incessante suplício, mas é preciso testemunhar um verdadeiro arrependimento antes de obter tal favor. Sua encarnação não ocorrerá senão após um início de expiação no além-túmulo!

 

Allan Kardec

Alexandre Bellemare

William Channing

 

   Na sequência das explicações dadas no século XIX consta a seguinte comunicação:

   "O maior dos mandamentos é este: Amai a Deus de toda vossa alma, hoje, amanhã e por toda a eternidade!9 De todo vosso pensamento! Que vosso Espírito se eleve incessantemente para o Criador; planai acima do mundo terrestre, pensai no Pai sabendo que ele sempre vos vê e vos ouve. Servi-o com todas as vossas faculdades e em todas as fases de vossas vidas. Trabalhai para o avanço do Seu reino nesse mundo. Amai o vosso próximo como a vós mesmos. Fazei todos os esforços para aliviar os sofrimentos e fazer progredir todos os Espíritos, bons ou maus, encarnados ou desencarnados. 

   Que a paz seja com todos vós que tendes fé e esperais."

 

O Espírito de Verdade

 

O que é amar seu próximo?

   "Amar seu próximo é, pois, abjurar todo sentimento de ódio, de animosidade, de rancor, de inveja, de ciúme, de vingança, numa palavra, todo desejo e todo pensamento de prejudicar; é perdoar a seus inimigos e retribuir o mal com o bem; é ser indulgente para com as imperfeições de seus semelhantes e não procurar o cisco no olho do vizinho, quando não se vê a trave que se tem no seu; é cobrir ou desculpar as faltas de outrem, em vez de comprazer-se em pô-las em relevo por espírito de depreciação; é, ainda, não se fazer valorizar à custa dos outros; não buscar esmagar quem quer que seja sob o peso da própria superioridade; não desprezar ninguém por orgulho. Eis a verdadeira caridade benevolente, a caridade prática, sem a qual a caridade é uma palavra vã; é a caridade do verdadeiro espírita como do verdadeiro cristão; aquela sem a qual quem diz: Fora da caridade não há salvação, pronuncia sua própria condenação, neste mundo tanto quanto em outro." Allan Kardec 10

 

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1 Veja-se: O Evangelho segundo o Espiritismo, cap. I - Não vim destruir a lei - Moisés.

2 Vérités et lumières (Verdades e luzes)Paris, 1898. (Traduzido do francês pela equipe do Ipeak.)

3 Veja-se: A Gênese - A Gênese segundo o Espiritismo, cap. II - Deus - Da natureza Divina.

4 Veja-se: A Gênese - A Gênese segundo o Espiritismo, cap. I - Caráter da revelação espírita, item 23.

5 A Gênese - A Gênese segundo o Espiritismo, cap. VII - Esboço geológico da Terra - Períodos geológicos

6 O Livro dos Espíritos - Do mundo espírita ou mundo dos Espíritos, cap. I - Dos Espíritos - Progressão dos Espíritos, item 116

7 O Livro dos Espíritos - Das leis morais, cap. III - Lei do trabalho - Limite do trabalho. Repouso; Veja-se também: Revista Espírita, marcos de 1861 - Ensinos e dissertações espíritas - Lei de Moisés e a lei do Cristo.

8 Veja-se: Revista Espírita, julho de 1865 - Estudos morais » A comuna de Koenigsfeld, mundo futuro em miniatura.

9 Veja-se: O Evangelho segundo o Espiritismo, cap. XI - Amar o próximo como a si mesmo - O mandamento maior; e O Evangelho segundo o Espiritismo, cap. XV - Fora da caridade não há salvação - O mandamento maior.

10 Revista Espírita, dezembro de 1868 - Sessão anual comemorativa dos mortos


https://www.revistaespirita.net/pt-br/artigo/184/explicacoes-dos-dez-mandamentos-dadas-pelos-espiritos

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