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domingo, 26 de novembro de 2023

O QUE SIGNIFICA O BEZERRO DE OURO

 Qual o significado do bezerro de ouro, tal como exposto na Bíblia no livro de Êxodo capítulo 32?

Já mencionamos no texto “A Bíblia não é o que você pensa” a respeito do profundo e eterno simbolismo que esse texto sagrado conserva. Os símbolos são meios eficientes de se transmitir um conhecimento sobre leis e princípios eternos da existência. Um desses símbolos é o do “bezerro de ouro”, que foi criado pelos hebreus enquanto Moisés subia o monte para receber as tábuas da lei diretamente de Deus.

Mas o que simboliza então o Bezerro de ouro? O Bezerro de ouro é a representação de todo tipo de ídolos que criamos e supervalorizamos no mundo e que acabam se tornando impeditivos do caminho que todos devem seguir até o plano da eternidade da alma. Tudo aquilo que atravanca nosso caminho e bloqueia nossa passagem na estrada para o Eterno. Todos os nossos ídolos do mundo são como um bezerro de ouro. Mas que ídolos são esses? Tudo aquilo que estimamos demasiadamente, que nos apegamos e nos prendemos, e que é passageiro e ilusório, como por exemplo, nossas posses materiais, dinheiro e poder. Muitos fazem do dinheiro o seu ídolo. E essa supervalorização do dinheiro, essa busca por dinheiro acaba nos desviando do caminho divino. Fazemos do dinheiro e do poder mundano nosso ídolo e nos perdemos do caminho do eterno. Outros fazem dos seus filhos os seus ídolos. O filho acaba sendo um verdadeiro “objeto de adoração”, e nesse sentido, passamos a adorar um ídolo ao invés de “subir a montanha” e seguir o caminho para a eternidade, tal como Moisés simbolizou em sua subida do monte. Há muitos outros ídolos que podemos criar no mundo, nossas crenças, nossa “honra” pode ser nosso ídolo, nossa religião, nossa casa, nossa família, nosso emprego, nossas paixões, como o futebol, o prazer pela comida pode ser também um ídolo na medida em que a supervalorizamos, dentre muitos outros. É preciso renunciar a supervalorização desses ídolos e não mais fazer deles a nossa vida caso desejemos nos libertar do sofrimento e seguir um caminho de paz e felicidade na busca da eternidade.

A Bíblia fala muito claramente em várias passagens da “proibição” de se criar “ídolos” no mundo. Em Levítico se diz: “Não vos virareis para os ídolos nem vos fareis deuses de fundição. Eu sou o Senhor vosso Deus” (Levítico 19, 4). Em Êxodo se diz: “Não terás outros deuses além de mim. Não farás para ti nenhum ídolo, nenhuma imagem de qualquer coisa no céu, na terra, ou nas águas debaixo da terra” (Êxodo 20, 3, 4). No Novo Testamento também lemos: “Por isso, meus amados irmãos, fujam da idolatria” (1 Coríntios 10, 14). Há várias passagens que mostram ser a idolatria, ou seja, o culto aos ídolos deste mundo algo que deve ser extirpado de nossa vida. Somente ao eterno e ao infinito devemos prestar culto.

Vamos explicar essa questão do desvio do caminho do eterno com uma metáfora. Imagine um homem que está seguindo uma peregrinação rumo a um lugar santo e com isso ele aspira se ligar ao Eterno. Ele chega numa cidade que é parte do caminho. O viajante então começa a se encantar com a cidade, começa a se afeiçoar as ruas, a arquitetura do local, as belezas e as pessoas que lá moram. O viajante se fascina pelo lugar e começa a desejar permanecer ali mais tempo. Ele vai ficando ficando… e quando percebe, já está idoso, envelheceu e nunca conseguiu prosseguir em seu caminho rumo ao santuário. Ele percebe que se prendeu àquela cidade e por isso não seguiu sua jornada, mas ficou paralisado e preso as coisas daquela cidade. Esse homem criou ídolos nessa cidade, coisas que ele superestimou e supervalorizou. Por esse motivo, ficou preso no meio do caminho e não conseguiu chegar ao seu verdadeiro objetivo. Os espíritos acabam fazendo algo bem parecido. Vem ao mundo e esquecem que o mundo material é apenas uma passagem, um caminho para se chegar a um objetivo maior. Tudo nesse mundo é uma passagem, nada é definitivo. Eles então se fascinam com as coisas do mundo, criam diversos ídolos aqui e se perdem do verdadeiro caminho, que é o caminho rumo ao infinito e a eternidade. É preciso se libertar dos ídolos… é preciso se libertar do “bezerro de ouro” para continuar seguindo a jornada, ao invés de ficar parado no meio do caminho apegado a ídolos.

O que acontece na estória de Moisés? Quando o povo hebreu estava no deserto, Moisés decidiu subir ao monte para falar diretamente com Deus e lá receber os mandamentos. Moisés subiu e ficou vários dias no monte, tentando um contato com Deus. O povo começou a ficar inquieto, pois Moisés estava se demorando. Então decidiram reunir todos os pendentes de ouro e com eles criaram uma imagem, que seria o bezerro de ouro. Foi edificado um altar diante do ídolo e uma festa foi realizada para sua celebração. Então Moisés finalmente desceu do monte com as tábuas da lei em mãos. Vendo Moisés que o povo estava prestando culto, sacrifícios e festejando despido com um ídolo, e que as paixões e os instintos estavam exacerbados, quebrou as tábuas da lei e repreendeu o povo idólatra. Em um dos trechos estava escrito o seguinte:

“Levanta-te, faze-nos deuses, que vão adiante de nós; porque quanto a este Moisés, o homem que nos tirou da terra do Egito, não sabemos o que lhe sucedeu.” (Êxodo 32, 1)

“Não sabemos o que sucedeu a Moisés”. Aqui vemos claramente a atitude de muitas pessoas em dúvida sobre a realidade eterna e divina. As pessoas pensam: Não sabemos se realmente existe um Deus, não sabemos se vamos conseguir chegar a esse Deus. Não sabemos como é este dito “plano divino”. Não sabemos e não conseguimos ainda percebe-Lo diretamente. Como então nada sabemos a esse respeito, paira a dúvida sobre a sua existência e sua natureza. Por esse motivo, é melhor nos garantirmos aqui na Terra, buscando nas coisas materiais os “ídolos” que vão satisfazer nossos apetites mais primitivos e atrasados, relacionados aos desejos e aos prazeres. Por isso, criamos este ídolo como um bezerro de ouro, que simboliza todo o mundo material, seus desejos, posses, paixões, prazeres… e vamos ficar por aqui mesmo, vamos adorar esse “falso deus” que representam os instintos mais grosseiros, representam o egoísmo, o orgulho e a vaidade, um culto ao ego e não a Deus. Vamos adorar nossa imagem, nossa mente, nossos anseios mundanos, e não mais aguardar um Deus que pode nunca chegar e pode não ser real. Não é exatamente assim que a maioria das pessoas pensa? Muitos pensam: Deixa eu me garantir aqui no mundo, conquistando muitas coisas, criando ídolos materiais, pois se Deus não vier, ao menos eu tenho aqui os ídolos mundanos que criei. O ser humano cria dessa forma o seu bezerro de ouro, ao invés de “subir a montanha” e buscar a Deus, como fez Moisés.

E o que simboliza o “ouro” do qual é composto o bezerro? Em tempos antigos, o ouro era o representante mais precioso do mundo material. Homens e mulheres matavam e morriam pelo ouro. Era o metal mais valioso de todos, havia um fascínio enorme pelo ouro. Por isso, ele representa o valor que atribuímos ao mundo material, suas posses, seus apegos. Os “ídolos” criados no mundo material são nosso “ouro”, aquilo que enxergamos de mais precioso, muito mais precioso do que o caminho da subida a montanha para encontrar o Eterno.

Todos nós somos como Moisés, que devemos “subir a montanha”, ou seja, ascender em espírito para encontrar o plano divino. Mas há algo dentro de nós, simbolizado pelos hebreus, que criam um ídolo de ouro, um ídolo no mundo a que devemos adorar. Cada um de nós precisa vencer dentro de si esse impulso de criar ídolos no mundo para que se torne possível ascender a montanha do ser e conseguir um contato definitivo com o infinito e o eterno. É preciso eliminar os desejos de se criar ídolos, como Moisés fez com uma parte do povo hebreu, para que seja possível desbloquear o caminho de ídolos e seguir rumo ao santuário do nosso ser, onde o divino habita eternamente. Esse é o simbolismo do bezerro de ouro, que é um processo de elevação do ser que todos nós teremos de realizar.

Uma pergunta importante que muitos podem fazer é: Por que os símbolos são um veículo muito eficiente de transmissão de ensinamentos espirituais profundos? Um dos motivos é que os símbolos, como não são compreendidos de pronto pela mente concreta, são mais difíceis de serem adulterados pelos líderes das sombras. Esses líderes cuidam de apagar da história todo o conhecimento mais profundo, que permita aos seres humanos sair das correntes que o aprisionam. Como as trevas muitas vezes não compreendem o conhecimento velado pelos símbolos, não se preocupam em deturpar aquilo que não veem como perigoso para seus intentos. Infelizmente muitos conhecimentos profundos e extremamente valiosos para a elevação dos espíritos foram eliminados de vários textos sagrados pelos líderes das sombras, a fim de não servirem de base para o desprendimento das massas. Mas os símbolos, a despeito dessas investidas, preservam esse saber profundo e eterno, oculto aos olhos dos cegos da espiritualidade.

(Hugo Lapa)

Do livro: Luminosofia: perguntas e respostas

E-mail: portaldoespiritualismo@gmail.com

https://hugolapa.wordpress.com/category/simbolismo/

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