a partir de maio 2011

sexta-feira, 12 de setembro de 2014

Vencendo nossos medos-Parte 2 e final



EURÍPEDES KUHL 
euripedes.kuhl@terra.com.br
Ribeirão Preto, SP (Brasil)

“Classificamos o medo como dos piores inimigos da criatura, por alojar-se na cidadela da alma, atacando as forças mais profundas.” (1) 
Parte 2 e final

 
Pela Psicanálise temos que a maioria das fobias, na verdade, mascaram um perigo simbólico, cujo objeto exato esconde-se nas fímbrias do subconsciente, muitas vezes como defesa subjetiva, derivando um fato real para um perigo imaginário.
Como exemplo, podemos citar o caso de Hans, uma criança que foi psicanalisada por Freud, e que tinha “pavor” de cavalos, aos quais, paradoxalmente, admirava... Em suas pesquisas, o grande mestre austríaco percebeu que, para Hans, o cavalo (animal forte) era uma representação simbólica do pai, que vivia ameaçando-o de castração.
Vamos citar algumas fobias:
claustrofobia: é a mais citada de todas as fobias e refere-se ao medo de lugares fechados [pela teoria junguiana — Carl Gustav Jung (1875-1961), notável psiquiatra suíço —, esse medo está relacionado ao nascimento. O ser precisa deixar o conforto e atravessar um túnel estreito, rumo ao desconhecido...]; também se manifesta junto a multidões;
nosofobia: o medo de adoecer, o que leva o fóbico a se julgar doente; começa pelo medo de se infectar por micróbios e por isso até não dá a mão nos cumprimentos... Essa fobia conduz rapidamente à hipocondria (busca obcecada de tratamento para doenças inexistentes);
agorafobia: medo de espaços abertos e amplos: (medo de deslocar-se sem ajuda); (meditando sobre essa fobia, bem podemos calcular a coragem de Cristóvão Colombo...);
altofobia: medo das alturas;
antropofobia: medo de enfrentar a sociedade, levando o indivíduo a trágicas solidões;
gerontofobia: medo de envelhecer... e até do convívio com pessoas idosas;
necrofobia: medo da morte e até dos mortos;
obesofobia: medo de engordar (fobia muito cultivada pelas jovens modelos de modas); quase sempre leva à anorexia (perda do apetite), que é porta aberta ao comprometimento do sistema orgânico de defesa autoimune;
talassofobia: medo das águas, rios etc. 
Autoanálise 
Todos nós, sem exceção, temos medos...
Disso, de alguma forma, sempre resultam grandes ou pequenos desconfortos. Assim, impõe-se que idealizemos uma “administração” dos nossos medos. Dizemos “administração”, pois extingui-los é totalmente impossível. Em primeiro lugar, nada melhor do que identificar e classificar o medo. Uma vez identificados e classificados os nossos medos, o trabalho agora é realizar um mapeamento da origem deles.
Para começar, devemos ter como certeza de que a humanidade sempre se defrontou com o medo e poucos não foram os homens que se dedicaram a explicá-lo, primeiro para poderem entendê-lo, para em seguida eliminá-lo.
Todos fracassaram, eis que o medo, enquanto sentimento de evitação do mal, é um instrumento de sobrevivência, sem exageros, de todos os seres vivos.
Até porque há a classe de medo que é muito benéfica, como vimos. Dessa forma, o medo tanto pode ser, em potencial, um amigo ou um grande inimigo. Se o perigo pode ser real ou imaginário, o medo também o será.
Para um medo ser identificado, necessário se torna compreender como ele se instalou, ou, dizendo de outra forma, como é que ele “apareceu”: quando, como, por quê.
Quase sempre o medo se disfarça, lançando mão de símbolos, num processo muito parecido com os sonhos, cuja interpretação é problemática, justamente pelo simbolismo com o qual a maioria se apresenta ao sonhador.
É sob convicção que afirmamos que o medo pode e deve ser trabalhado para se tornar um incomparável instrumento de equilíbrio no nosso dia a dia. Em todos os medos, se a pessoa não conseguir dominá-los racionalmente (autolibertação), um bom caminho a seguir será procurar um aconselhamento:
na fé: em primeiro lugar, orações a Deus e ao Anjo Guardião!
na família: ouvindo a experiência dos pais e familiares mais íntimos;
na ajuda espiritual: outra via será procurar um orientador espiritual; de nossa parte, sugerimos visita a um Centro Espírita e um diálogo com alguém disposto a ouvir essa pessoa com tolerância e fraternidade, sugerindo caminhos evangelhoterápicos.
Obs.: Se a pessoa fizer questão, nada objeta o auxílio de um psicanalista. Devemos considerar que a Medicina terrena com seus avanços científicos é um dos canais pelo qual mais têm aportadas benesses vindas da Espiritualidade, a bem da Humanidade. 

No Espiritismo

A Doutrina dos Espíritos leciona que todos temos um extenso passado existencial, de multiplicadas existências, que espelham atualmente nosso painel mental de emoções e sentimentos, painel esse que se atualiza segundo a segundo.
De posse de tão transcendental entendimento, ao espírita convicto será possível iniciar, por uma enérgica e sincera autorreforma, um intenso e permanente tratamento, visando libertar-se de seus medos, manias, fobias, neuroses e eventuais psicoses.
Na questão 919 de “O Livro dos Espíritos”, o Espírito Santo Agostinho nos dá preciosa maneira de nos conhecermos a nós mesmos, através do balanço diário das nossas ações, ao final de cada dia, bem como interrogação constante à consciência. E na “Introdução” da mesma obra registrou, a propósito dos nossos temores:
“O Espiritismo mostra a realidade das coisas e com isso afasta os funestos efeitos de um temor exagerado”.
Tratando-se dessa realidade das coisas, aos espíritas acorre compreender muitos fatos da presente existência, conjeturando que sua origem pode estar em vidas passadas.

Obs.: Em Psicologia, segundo C. G. Jung, que já citamos, esse atavismo recebe o nome de “sombra”, caracterizando-se por componentes da personalidade, formado por instintos, que produzem sentimentos e ações desagradáveis.

Sabendo que o perispírito guarda indelevelmente as chamadas “matrizes psíquicas” (fatos marcantes de outras existências), não ficará difícil conjeturar que o medo, no presente, pode ter-se originado por suicídio ou por ter sido vítima, assim:
medo de multidão: será que essa pessoa não foi condenada e quem sabe até apedrejada em público?
medo de altura: não teria se suicidado atirando-se ou sido vítima de queda de penhascos?
medo de água: não teria se afogado?
medo de lugares fechados: não teria morrido num calabouço?
medo de animais: não teria morrido sob ataque de algum deles?
Além disso, a obsessão e seus agentes ocultos fragilizam a razão do obsidiado. Daí que, vulnerável, ele se torna quase sempre cliente de novos medos... É nesse ponto que a prece sincera e a autorreforma carreiam-lhe o amparo do Mais Alto.

Conclusão

O medo edifica muros altos ao discernimento, impedindo análises, reflexões e soluções para nosso dia a dia, qual lanterna que se apaga na mente. Além disso, é um grande gerador de bloqueios, com perda de novas oportunidades de aprendizado.
Infinitos medos existem e infinitas são também as maneiras de administrá-los.
Uma constante, porém, se impõe: é que o medo seja reconhecido, analisado racionalmente e aceito como parte da estrutura emocional.
Em sendo real, a prudência dará o toque de como agir.
Contudo, se imaginário, conscientizado disso, por si mesmo, em autoanálise ou por aconselhamento, esse medo deverá ser enfrentado pelo “medroso”.
Logo se perceberá que até o medo tem medo...
Como asseverou Santo Agostinho, qualquer medo se dissolve, diante da fé, numa enfrentação racional. Com respeito, acrescentamos:
A luta entre o medo e a razão
É igual à da vespa contra o leão:
Incomoda sim, mas vence não! 


 (1)
 Instrução do Governador – In: “Nosso Lar”, André Luiz/FCX, Cap. 42, pág. 230, 48ª Ed., 1998, FEB, Rio/RJ.

http://www.oconsolador.com.br/ano8/380/especial.html


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