a partir de maio 2011

domingo, 21 de setembro de 2014

Explorando outros aspectos da alfabetização espiritual

ANSELMO FERREIRA VASCONCELOS 
afv@uol.com.br 
São Paulo, SP (Brasil)


Sempre leio com muito prazer as crônicas da escritora Lya Luft publicadas na prestigiosa revista VEJA. De modo geral, seus textos primam pela clareza, lucidez e elegância. Suas observações são apuradas e as conclusões são bem argumentadas deleitando o leitor. Enfim, o seu trabalho é um constante convite à realidade e ao entendimento de muitos dos problemas que dificultam a jornada humana nesse mundo, especialmente nesse país. Na edição de 27 de agosto da referida revista, a prezada autora escreveu uma crônica onde ela analisa o problema da morte intitulada: “O Ciclo da Vida”.
Nas suas linhas, ela revela inquietudes em relação à morte que certamente afligem milhões de criaturas nesse planeta. Segue daí a nossa decisão em retomar o tema. Em dado momento ela considera que “O ciclo da morte é um duro aprendizado. Nós, maus alunos”.
Sem dúvida, empenhar-se no entendimento da morte não consta, no geral, como uma das nossas prioridades. Talvez seja o assunto mais postergado das nossas vidas. É como se fosse um tema proibido ou desinteligente para cogitar, mesmo que se trate de algo ao qual nós todos estamos sujeitos.
Ocorre, no entanto, que parte da alfabetização espiritual implica em dominar tal imperativo. Não há outro jeito já que se trata de um fenômeno biológico incontrolável e que obedece a dinâmicas próprias. Apesar dos avanços obtidos na área da saúde por meio de medicamentos poderosos que prolongam a vida, eles não podem impedir indefinidamente o encerramento de um ciclo. Tal decisão advém de Deus e dos seus justos desígnios.
Voltando a Lya Luft, ela declara que: “[...] Precisamos de tempo para integrar a morte na vida. Talvez os mortos vivam enquanto lembrarmos suas ações, seu rosto, a voz, o gesto, a risada, a melancolia, os belos momentos e os difíceis [...]. Porque morrer é natural, deveria ser simples: mas, para quase todos nós, é um grande e grave enigma”. Na verdade, suspeito que o pensamento da ilustre escritora espelha o que, de fato, existe na mente de muitos. Em resumo, a morte é vista ainda como um acontecimento aterrador apesar de inevitável. E essa visão mítica, em nada racional, afasta a possibilidade de uma compreensão mais simplificada sobre o tema.
Há alguns anos atrás, a propósito, tivemos o privilégio de publicar n’O Consolador um artigo no qual tratamos de desmistificá-la, ou seja,“Desmistificando o Fenômeno da Morte” (ver emhttp://www.oconsolador.com.br/ano5/215/especial.html). Entre muitas observações, lá ponderamos que: “... somos constantemente lembrados – através de inúmeros acontecimentos que nos rodeiam – de que nossa vez também chegará mais cedo ou mais tarde. Posto isto, o fim da existência física (corporal) deve ser encarado de forma racional por nós todos. Afinal de contas, o corpo humano, como toda a máquina orgânica, com o tempo, apresenta sinais de fadiga, exaustão, e as células iniciam o processo de desagregação até a extinção completa do fluido vital”.
Lembramos aos que, como a escritora, acalentam o ceticismo, que papiros do Egito antigo datados de 3000 a.C. já sugeriam a reencarnação – afinal, só reencarna quem sobreviveu à morte. Não bastasse isso, há inúmeras evidências científicas trazidas a lume na atualidade sobre a reencarnação coligidas nos trabalhos de Erlendur Haraldsson, Ian Stevenson, entre outros. Num terreno mais transcendente, porém, devemos recordar a gloriosa visão do Tabor – testemunhada, aliás, pelos apóstolos Pedro, Tiago e João – relatada no Evangelho – ou seja: “E transfigurou-se diante deles; e o seu rosto resplandeceu como o sol, e as suas vestes se tornaram brancas como a luz. E eis que lhes apareceram Moisés e Elias, falando com ele” (Mateus, 17: 2-3). Cabe relembrar também que, nesse episódio, Jesus dialogou com duas entidades há muito não mais pertencentes ao “mundo dos vivos”. Seguindo esse raciocínio, todo o capítulo 20 do Evangelho de João é dedicado à ressurreição do próprio Mestre – reiterando a existência da vida além do túmulo e a nos recordar que ele era o exemplo mais dignificante disso. Vale citar ainda a advertência a Nicodemos (João, 3: 7-10) e a observação de João Batista como sendo outrora o profeta Elias (Mateus, 17: 10-13).
Muito provavelmente, a respeitável escritora não teve ainda a oportunidade de ler O Livro dos Espíritos – o mais completo tratado de espiritualidade já elaborado e disponível à humanidade há mais de século e meio (ver, por exemplo, o meu ensaio a respeito: 155 anos de Espiritismo: Evolução e Progresso – http://www.oconsolador.com.br/ano6/261/especial.html) – que nos dá sólidos argumentos acerca da continuidade da vida além do túmulo.
Desse modo, portanto, me sinto à vontade para declarar que os enigmas concernentes à morte já foram devidamente elucidados há bastante tempo. Não há mais nenhum sentido em levantar tais dúvidas diante de tão farto material disponível. A nós todos compete – pelo menos assim penso – assimilar os conhecimentos e as lições daí advindas. Acredito que elas fazem parte integrante da nossa alfabetização espiritual. Posto isto, devemos nos preparar com sabedoria para enfrentar a morte de modo a recebê-la, quando a Deus aprouver, com a consciência tranquila e a alma em paz – frutos de quem trabalhou intensamente por se autoiluminar.

http://www.oconsolador.com.br/ano8/381/anselmo_ferreira.html

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