a partir de maio 2011

segunda-feira, 7 de outubro de 2013

MORTE/PÓS-MORTE/A PASSAGEM



Já me perguntaram se há dor na hora da morte. A morte não é dolorida e nem é temida pelos que creem em Deus e no plano Espiritual e os serve. Uma vez que quem crê em Deus a compreende como o fim de uma jornada de sofrimento, de um retorno da missão terrena para o local de origem, o que facilita o desprendimento do espírito da matéria. Mas para os materialistas a “morte” é um terror, uma vez que não acreditando em Deus e no plano espiritual, o espírito não está preparado para a “passagem”, sofrerá errante e prolongará esse momento por longo tempo, perturbado e confuso, por ainda está ligado à matéria, até aceitar sua condição. Estou falando do momento da morte e não do pós-morte.

Quanto ao pós-morte, devemos entender que nossos atos de bondade e maldade serão julgados e recompensados. A crença em Deus e no plano espiritual pode nos livrar da dor da morte, mas não nos livrará das dores dos castigos de nossos erros. E também ninguém deve esperar, por mais crente que seja, por mais bem que tenha feito que só receberá galardão; não somos perfeitos, razão pela qual prestaremos contas de todas as nossas faltas à quem disse: “A mim pertence à vingança, e Eu retribuirei!”. 

Com certeza os que de fato creem e servem a Deus sofrerão menos, uma vez que aceitaram os propósitos divinos, sofreram com resignação suas dores; serviram a Deus praticando o bem incondicionalmente; sim, pois, muitos praticam o bem simplesmente porque não querem ir para o inferno ou para satisfazer a vaidade pessoal; bem incondicional é o bem praticado espontaneamente, sem esperar nada. 

Também, muitos creem que servem a Deus só por dizer que ele existe; ora, “até as pedras” dizem que Ele existe.

Servir a Deus é sacrifício, é desprendimento em função do próximo.
Muitos fazem o sacrifício do jejum com a dispensa cheia, mas não doa um pedaço de pão a quem tem fome, esquecendo a máxima: “Misericórdia quero, e não holocausto”. 

Servir a Deus é servir de exemplo, como tantos que temos: Jó, em sua paciência; como o ex-prisioneiro Nelson Mandela, que amargou 27 anos de prisão no regime do apartheid, mas,  ao virar Presidente, abriu mão de qualquer vingança para unificar e pacificar seu país; como o industrial alemão Oskar Schindler, que perdeu tudo e se expôs ao perigo nazista para salvar a vida de 1200 judeus do holocausto (“Quem salva uma vida salva a Humanidade”); como o médium Chico Xavier, que não si locupletou com a renda de seus mais de 400 livros, publicados e vendidos aos milhões em mais de 40 países, e, todos os presentes que recebeu, de um simples isqueiro a fazenda, doou tudo as obras de caridade, seguindo os passos do Mestre. 
Quisera eu falar de frei Damião, Madre Tereza de Calcutá, Mahatma Gandhi, Luther King e tantos outros anônimos que de alguma forma serviram e servem a Deus, seguindo os passos daquele que chegou sem pompa montado em uma jumenta em sua entrada triunfal na cidade sagrada; em contraste a tantos lideres religiosos que se dizem servos de Deus, mas que vivem pregando o evangelho a miseráveis, rodeados de fartura e luxo. Mas de todos estes o mestre falou: “pelos frutos se conhece a árvore”.

R.S. DURANT DART
1. A confiança na vida futura não afasta as apreensões da passagem desta vida para a outra. Muitas pessoas não temem a morte em si; o que elas receiam é o momento da transição. Sofre-se ou não nessa travessia? É isso que as inquieta, e o fato tem mais valor apenas porque dela ninguém pode escapar. Pode-se prescindir
de uma viagem terrestre, mas neste caso, tanto ricos como pobres devem transpor a passagem, e se ela é dolorosa, nem a posição, nem a fortuna poderiam suavizar a sua amargura.
2. Ao ver a calma em certas mortes, e as terríveis convulsões de agonia em algumas outras, pode-se já imaginar que as sensações experimentadas nesse momento não são sempre as mesmas; mas quem pode nos esclarecer a esse respeito? Quem nos descreverá o fenômeno foi sexológico da separação da alma e do corpo? Quem nos contará as impressões desse instante supremo? Sobre esse ponto a Ciência e a Religião permanecem mudas.
E por que isso? Porque falta a uma e a outra o conhecimento das leis que regem as relações do espírito e da matéria; uma se detém no limiar da vida espiritual, outra no da vida material. O Espiritismo é o traço de união entre as duas; só ele pode dizer como se opera a transição, seja pelas noções mais positivas que ele
dá sobre a natureza da alma, seja pela narração daqueles que deixaram a vida. O conhecimento do laço fluídico que une a alma ao corpo é a chave desse fenômeno, como de muitos outros.
3. A matéria inerte é insensível, isso é um fato real; somente a alma experimenta as sensações do prazer e da dor. Durante a vida, toda desagregação da matéria repercute na alma que disso recebe uma impressão mais ou menos dolorosa.
É a alma que sofre e não o corpo; este é apenas o instrumento da dor, a alma é a paciente. Após a morte, estando o corpo separado da alma, pode ser impunemente mutilado, porque ele não sentirá nada; a alma, por sua vez, dele estando separada, não recebe nenhuma impressão da desorganização desse corpo, ela tem suas próprias sensações cuja fonte não está na matéria tangível.
O perispírito é o invólucro fluídico da alma, da qual não é separado nem antes, nem após a morte, e com a qual forma, por assim dizer, apenas um, porquanto não se pode conceber um sem a outra. Durante a vida, o fluido perispiritual penetra no corpo em todas as suas partes e serve de veículo às sensações físicas da alma; é do mesmo modo, por esse intermediário, que a alma age sobre o corpo e dele dirige os movimentos.
4. A extinção da vida orgânica ocasiona a separação da alma e do corpo pelo rompimento do laço fluídico que os une; mas essa separação jamais é brusca; o fluido perispiritual se desprende pouco a pouco de todos os órgãos, de forma que a separação só é completa e absoluta quando não restar mais um só átomo
do perispírito unido a uma molécula do corpo. A sensação dolorosa que a alma experimenta nesse momento está em relação com a soma dos pontos de contato que existem entre o corpo e o perispírito, e da maior ou menor dificuldade e lentidão que a separação apresente. Portanto, não é preciso ocultar que, segundo as circunstâncias, a morte pode ser mais ou menos penosa. São essas diferentes circunstâncias que vamos examinar.
5. Coloquemos inicialmente, como princípio, os quatro casos seguintes, que se podem julgar como situações extremas, entre as quais existe um grande número de nuanças:
1o) Se, no momento de extinção da vida orgânica, o desprendimento do perispírito fosse completamente realizado, a alma não sentiria absolutamente nada.
2o) Se, nesse momento, a coesão dos dois elementos está em toda a sua força, produz-se uma espécie de dilaceramento que reage dolorosamente sobre a alma.
3o) Se a coesão é fraca, a separação é fácil e se opera sem abalo.
4o) Se, após a cessação completa da vida orgânica, ainda existem numerosos pontos de contato entre o corpo e o perispírito, a alma poderá sentir os efeitos da decomposição do corpo até que o laço seja inteiramente rompido.
Disso resulta que o sofrimento que acompanha a morte está subordinado à força de aderência que une o corpo e o perispírito; e tudo o que pode ajudar na diminuição dessa força e na rapidez do desprendimento torna a passagem menos penosa; enfim, se o desprendimento se realiza sem nenhuma dificuldade, a alma
não experimenta nenhuma sensação desagradável.
6. Na passagem da vida corporal para a vida espiritual, produz-se ainda um outro fenômeno de uma importância capital: o da perturbação. Nesse momento a alma experimenta um entorpeci mento que paralisa momentânea mente suas faculdades e neutraliza, pelo menos em parte, as sensações; ela está, por assim dizer, cataleptizada1,  de maneira que quase nunca é testemunha consciente do último suspiro. Dizemos quase nunca porque existem casos em que a alma pode ter consciência dele, assim como o veremos dentro em pouco.
A perturbação, portanto, pode ser considerada como o estado normal no instante da morte; sua duração é indeterminada, ela varia de algumas horas a alguns anos. À medida que ela se dissipa, a alma fica na situação de um homem que sai de um sono profundo; as idéias são confusas, vagas e incertas; vê como se o fizesse através de um nevoeiro; pouco a pouco a visão vai se aclarando, a memória retorna, e a alma se reconhece. Esse despertar, porém, é bem diferente conforme os indivíduos; para uns ele é calmo e proporciona uma
sensação deliciosa; para outros é pleno de terror e de ansiedade, e produz o efeito de um terrível pesadelo.
7. O momento do último suspiro não é, portanto, o mais penoso, porque, geralmente, a alma não tem consciência de si mesma; mas antes dele a alma sofre pela desagregação da matéria durante as convulsões da agonia, e depois pelas angústias da perturbação. Apressamo-nos em dizer que esse estado não é geral.
A intensidade e a duração do sofrimento dependem da afinidade que existe entre o corpo e o perispírito; quanto maior for essa afinidade, mais longos e penosos são os esforços do espírito para se desprender dos seus laços; mas existem pessoas nas quais a coesão é tão fraca que o desprendimento se faz por si mesmo e
naturalmente.
O espírito se separa do corpo como um fruto maduro se desprende da sua haste; é o caso das mortes calmas e dos pacíficos despertares.
8. O estado moral da alma é a principal causa a influir na maior ou na menor facilidade de desprendimento. A afinidade entre o corpo e o perispírito depende diretamente da ligação do espírito à matéria; ela chega ao seu máximo no homem em que todas as preocupações se concentram na vida e nos prazeres materiais; ela é quase nula naquele cuja alma depurada se identificou por antecipação com a vida espiritual. Visto que a lentidão e a dificuldade da separação são proporcionais ao grau de depuração e de desmaterialização da alma, depende de cada um tornar essa passagem mais ou menos fácil, mais ou menos penosa, agradável ou
dolorosa.
Isto sendo posto, ao mesmo tempo como teoria e como resultado da observação, falta-nos examinar a influência do gênero de morte sobre as sensações da alma no último momento.
9. Na morte natural, aquela que resulta da extinção das forças vitais pela idade ou pela doença, o desprendimento se opera gradualmente; no homem cuja alma é desmaterializada e cujos pensamentos estão desligados das coisas terrestres, o desprendimento é quase completo antes da morte real; o corpo ainda vive a vida orgânica e a alma já entrou na vida espiritual, a alma prende-se ao corpo apenas por um laço tão frágil que este se rompe facilmente com o último batimento do coração.
Nessa situação, o espírito já pode ter recuperado sua lucidez e ser testemunha consciente da extinção da vida do seu corpo, sentindo-se feliz por ter se livrado dele; para esse espírito, a perturbação é quase nula; não é mais que um momento de sono pacífico, do qual ele sai com uma indizível impressão de felicidade e de esperança.
No homem materialista e sensual, aquele que viveu mais pelo corpo que pelo espírito, para quem a vida espiritual não é nada, nem sequer uma realidade em seu pensamento, tudo contribuiu para apertar mais os laços que o ligam à matéria; nada veio afrouxá-los durante a vida. Na proximidade da morte, o desprendimento também se opera gradualmente, mas com esforços contínuos. As convulsões da agonia são o indício da luta que o espírito enfrenta, porquanto, às vezes, ele quer romper os laços que lhe resistem e, em outras vezes, agarra-se ao seu corpo do qual uma força irresistível o arranca violentamente, parte por parte.
10. O espírito mais se apega à vida corporal quanto menos vê além dela; ele sente que a vida lhe escapa e quer retê-la; em vez de se abandonar ao movimento que o arrasta, ele resiste com todas as suas forças e pode, dessa forma, prolongar a luta durante dias, semanas e meses inteiros. Sem dúvida, nesse momento, o espírito não tem toda a sua lucidez; a perturbação começou muito tempo antes da morte, mas nem por isso ele sofre menos, a indefinição em que se encontra, a incerteza sobre o que lhe acontecerá, juntam-se às suas angústias. A morte chega, e tudo não se acabou, a perturbação continua; ele sente que vive, mas não sabe se é vida material ou espiritual; ele luta ainda até que os últimos laços do perispírito tenham se rompido. A morte deu um fim à doença efetiva, porém, não deteve as conseqüências; enquanto existem pontos de contato entre o corpo e o perispírito, o espírito sente suas impressões e sofre com isso.
11. Bem diferente é a posição do espírito que não é materialista, mesmo nas doenças mais cruéis. Os laços fluídicos que o unem ao corpo, sendo muito frágeis, rompem-se sem nenhum abalo, pois sua confiança no futuro, que ele já entrevê pelo pensamento e algumas vezes mesmo em realidade, faz com que encare a morte como uma libertação e seus males como uma prova; daí lhe vem uma calma moral e uma resignação que aliviam o sofrimento. Após a morte, mesmo esses laços sendo rompidos nesse momento, nenhuma reação dolorosa o atinge; ao seu despertar, ele se sente livre, disposto, desembaraçado de um grande peso, e muito feliz por não sofrer mais.
12. Na morte violenta, as condições não são exatamente as mesmas. Nenhuma desagregação parcial pôde ocasionar uma separação prévia entre o corpo e o perispírito; a vida orgânica, em toda a sua força, subitamente é interrompida; o desprendimento do perispírito só começa após a morte, e, nesse caso como em outros, não pode se realizar instantaneamente. O espírito, colhido de súbito, está como atordoado; mas, percebendo que pensa, ele acredita que ainda está vivo, e essa ilusão dura até que compreenda a sua situação. Esse estado intermediário entre a vida corporal e a vida espiritual é um dos mais interessantes
para se estudar, porque apresenta o singular espetáculo de um espírito que confunde seu corpo fluídico com seu corpo material, e que experimenta todas as sensações da vida orgânica. Esse estado oferece uma variedade infinita de nuanças segundo o caráter, os conhecimentos e o grau de adiantamento moral do espírito. É de curta duração para aqueles cuja alma está depurada, porque neles havia um desprendimento
antecipado do qual a morte, mesmo a mais súbita, nada mais faz que apressar a realização; em outros, pode se prolongar durante anos. Esse estado é muito freqüente, mesmo nos casos de morte comum, e para alguns nada tem de penoso segundo as qualidades do espírito; mas para outros é uma situação terrível. É no suicídio principalmente que essa situação é mais penosa. O corpo estando ligado ao perispírito por todas as suas fibras, todas as convulsões do corpo repercutem na alma que experimenta grandes sofrimentos.
13. O estado do espírito no momento da morte pode assim se resumir:
Quanto mais lento é o desprendimento do perispírito, mais o espírito sofre; a rapidez do desprendimento está em relação com o grau de adiantamento moral do espírito; para o espírito que não é materialista, cuja consciência é pura, a morte é um sono de alguns instantes, isento de qualquer sofrimento, do qual o despertar é pleno de suavidade.
14. Para trabalhar para sua depuração, reprimir suas más tendências, vencer suas paixões, é preciso ver as vantagens dessas ações no futuro; para identificar-se com a vida futura, dirigir-lhe suas aspirações e preferir à vida espiritual à vida terrestre, é preciso não somente crer nela, mas compreendê-la; é preciso representá-la sob um aspecto satisfatório para a razão, em completo acordo com a lógica, o bom senso e a idéia que se faz da grandeza, da bondade e da justiça de Deus.

(1) Cataleptizada: em estado de catalepsia, em que se observa uma rigidez cérea dos músculos, de modo que o paciente permanece na posição em que é colocado. Observa-se a catalepsia principalmente em casos de demência precoce e de sono hipnótico. (N.T., segundo o Novo Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa.)
 
 
Texo copilado do livro: O Céu e o Inferno ou a Justiça Divina - Segundo o Espiritismo/Allan Kardec

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