a partir de maio 2011

domingo, 26 de abril de 2015

Telenovelas e Espiritismo

ANSELMO FERREIRA VASCONCELOS 
afv@uol.com.br 
São Paulo, SP (Brasil)


Uma parte considerável dos moradores da cidade de São Paulo praticamente acorda ouvindo o noticiário do Jornal da Manhã da Rádio Jovem Pan. É uma tradição paulistana tomar o café matinal embalado pelas notícias, entrevistas, análises e opiniões dos respeitáveis e influentes jornalistas e comentaristas que compõem a bancada do famoso e longevo jornal. 
Há poucos dias atrás, o repórter especializado em programação de TV informava a respeito da sua conversa com um diretor da TV Globo. O assunto tratado era a decepcionante audiência obtida pela emissora até aquele momento com a atual telenovela das 21h, ou seja, Babilônia, apesar do seu elenco estelar. No debate que se seguiu com os outros membros do jornal ficou evidenciado que a referida telenovela – segundo as pesquisas qualitativas reportam – está apresentando uma temática extremamente pesada, destituída de humor e muito apelativa.
Diante da enorme repercussão negativa, os executivos da poderosa rede de TV mostravam enorme preocupação especialmente diante dos altos investimentos realizados e a gradual perda de mercado para a telenovela concorrente da TV Record que trata, por sinal, de tema bíblico. Na avaliação dos jornalistas, as pessoas chegam às suas casas à noite cansadas, esgotadas, estressadas e não desejam ver conteúdos televisivos que lhes façam lembrar as suas próprias vidas (no geral, ásperas e sofridas), mas sonhar ou pelo menos encontrar alguma distração.
Com efeito, os brasileiros têm enfrentado duríssimos tempos: inflação alta, desemprego, violência desmedida, corrupção sem precedentes, hipocrisia oficial, dengue, transporte coletivo caótico e por aí vai. Não há dúvidas de que, nessa parte do mundo, as provações coletivas e a transição planetária observada pelos Espíritos vão “de vento em popa”. Dito de outra maneira, a nossa realidade tem sido sombria. Portanto, encontrar uma distração agradável depois de uma jornada de trabalho estafante é uma aspiração legítima e imprescindível para o enfrentamento da luta diária. No entanto, nem todos possuem recursos para assinar um pacote de TV a cabo, sobrando, então, a TV aberta como grande opção de lazer na maioria dos lares. Aliás, é importante ressaltar que, lamentavelmente, os índices de leitura continuam sendo vergonhosos, haja vista que 70% dos brasileiros não leram sequer um livro no ano passado, segundo pesquisa da Fecomercio-RJ.
De modo geral, a situação exposta nos fez lembrar algo pouco explorado até aqui como forma de entretenimento, ou seja, o conteúdo das obras espíritas. Em termos de televisão, poucas iniciativas foram tomadas nessa direção, particularmente no chamado horário nobre. É inegável que a temática espírita é extremamente rica e reveladora, e, no conturbado momento em que vivemos, por que não aprofundar ainda mais nesse veio tão interessante e esclarecedor? As obras espíritas abarcam pelo menos dois aspectos básicos, a saber, servem como distração e proporcionam informação.
Como sabemos, elas distraem os leitores com a apresentação de situações, enredos, personagens e eventos que prendem a atenção e, concomitantemente, levam ao conhecimento, a introspecção e a reflexão. Desfrutar de tal possibilidade é indispensável para recobrarmos as forças e mantermos a lucidez diante da pletora de dificuldades e problemas que envolvem as nossas existências atuais. Mas elas também informam sobre realidades desconhecidas ou pouco conjecturadas pela maioria das pessoas, isto é, a vida após a morte, o fenômeno da reencarnação, das consequências morais das nossas ações, da necessidade do bem proceder, do controle dos sentimentos e dos pensamentos, entre tantos outros ensinamentos.
Além disso, elas sempre transmitem aos leitores - esse é um dos seus propósitos – uma mensagem de otimismo, esperanças, fé, bem como alertas e recomendações absolutamente vitais nesse quadro de desequilíbrios e desamor que ora se observa no planeta. Nesse sentido, ficamos imaginando o impacto que as obras do Espírito André Luiz (psicografadas pelo médium Francisco Cândido Xavier) – que devassam a vida além-túmulo - poderiam ter em audiências mais amplas. Conjecturamos o quão interessante seria assistir a uma versão de Nosso Lar em formato de telenovela com mais tempo para explorar outros aspectos que o filme não pôde.
Ou ainda quão revelador seria para os não versados em espiritualidade poder assistir a uma telenovela baseada, por exemplo, na extraordinária obra Mansão Renoir, ditada pelo Espírito Alfredo (psicografia de Dolores Bacelar), que toca em pontos capitais examinados pelo Espiritismo? Não seria também apropriado usar o recurso da telenovela para analisar e esclarecer a situação da mulher no mundo moderno e o que a espiritualidade maior espera, tal como o faz, por exemplo, a obra Salomé, do Espírito Lucius (psicografia de Sandra Carneiro)?
Ah! Quão fascinante seria ver notáveis obras como Há dois mil anos ou Paulo e Estêvão (ambas ditadas pelo Espírito Emmanuel e também psicografadas por Francisco Cândido Xavier) serem transpostas para a TV? É verdade que em outros horários menos nobres, as emissoras têm feito esporádicas incursões na temática espiritualista e/ou espírita por meio das novelas como A Viagem, Alma Gêmea, Escrito nas Estrelas ou a recente Alto Astral.
Pelo que apuramos, elas deixam um considerável índice de recall e curiosidade nas pessoasEntão, por que não testar essa fórmula precisamente no carro-chefe da grade? Afinal, pelo que extraímos da análise dos especialistas, conforme acima destacado, as pessoas estão, aparentemente, cansadas de assistir a coisas que lhes recordem “o mundo cão” em que vivem.
Não seria, portanto, agora o momento dos profissionais de TV ousarem um pouco mais através do provimento de obras novelísticas com conteúdos mais moralizantes, espiritualizantes e que tragam, ao mesmo tempo, uma mensagem de esperanças, alento, consolo e de transformações positivas? Não é de tudo isso, enfim, que a humanidade mais precisa nessa hora de testemunhos e sofrimentos lancinantes?
Em resumo, as redes de TV brasileiras têm uma ótima oportunidade de melhorar substancialmente as suas grades através da inserção mais intensa de telenovelas que tenham efetivamente algo a dizer. O Espiritismo, nesse sentido, tem muito a oferecer. Podem até não fazer proselitismo da doutrina, o que seria absolutamente compreensível, mas também podem cumprir um papel mais relevante de ajudar a humanidade nesse momento crítico. Ademais, acreditamos piamente que não seria ruim para os seus resultados comerciais.

http://www.oconsolador.com.br/ano9/411/anselmo_vasconcelos.html

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