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sexta-feira, 23 de janeiro de 2015

Fisiologia da reencarnação Parte 1




RICARDO BAESSO DE OLIVEIRA kargabrl@uol.com.br
Juiz de Fora, MG (Brasil)

O estudo do processo de reencarnação dos Espíritos pode ser feito, de forma didática, a partir do exame de cinco indagações: Para que reencarnamos? Por que reencarnamos? Quando reencarnamos? Onde reencarnamos? Como reencarnamos? 
1 - Para que reencarnamos? 
Emmanuel, através da mediunidade de Chico Xavier, coloca a reencarnação como um impositivo natural [i], ou seja, uma condição à qual o Espírito não pode furtar-se, um determinismo evolutivo, estabelecido por leis específicas. Para que o princípio inteligente, criado simples e ignorante, se identifique com o projeto de perfectibilidade, que lhe é inato, é imperativo que se submeta, durante longo período de sua história, à lei da reencarnação. Esta é uma lei natural, cósmica, espiritual e biológica, inerente a todos os seres, que tem como finalidade o desenvolvimento do princípio espiritual. 
Segundo Kardec:
[...] a reencarnação surge como uma necessidade absoluta, como condição inerente à humanidade; numa palavra: como lei da Natureza.[ii]  
E ainda o codificador:
A passagem dos Espíritos pela vida corporal é necessária para que eles possam cumprir, por meio de uma ação material, os desígnios cuja execução Deus lhes confia. É-lhes necessária, a bem deles, visto que a atividade que são obrigados a exercer lhes auxilia o desenvolvimento da inteligência.[iii]   
E também Kardec:
Para o Espírito do selvagem, que está apenas no início da vida espiritual, a encarnação é um meio de ele desenvolver a sua inteligência [...] aquele que trabalha ativamente pelo seu progresso moral, além de abreviar o tempo da encarnação material, pode também transpor de uma só vez os degraus intermédios que o separam dos mundos superiores.[iv]     
2 - Por que reencarnamos?
A literatura mediúnica mostra-nos que a evolução se verifica também na dimensão espiritual. Por que então a obrigatoriedade das experiências na dimensão física? Não poderia o princípio inteligente desenvolver todas as suas potencialidades exclusivamente na dimensão espiritual?  Isso não é possível, e pode ser explicado em razão de determinadas características particulares da dimensão física, que a diferenciam da dimensão espiritual. Essas características tornam as experiências na dimensão física essenciais ao desenvolvimento das potencialidades do Espírito.
A dimensão física se diferencia da dimensão espiritual pelos seguintes aspectos:

1-               
A inserção em um ciclo vital que é próprio da biologia reencarnatória: nascer, crescer, reproduzir-se, criar filhos, envelhecer, vivenciar enfermidades que são exclusivas da vida física.

2-               
A luta pela vida: a inserção na dimensão física coloca o Espírito em um meio em que a atividade e o trabalho são praticamente obrigatórios, do contrário, vem a fome, a doença e a morte. Tal estado de coisas não parece existir na dimensão espiritual.

3-               
O período da infância tornando o Espírito mais acessível ao burilamento de seu caráter, através da educação e dos bons exemplos dos pais, professores e outras pessoas podem auxiliar na transformação moral da individualidade. Não existe infância, como a conhecemos, na erraticidade.

4-               
O esquecimento do passado, que permite à individualidade conviver com seus desafetos, sem recordar-se dos desatinos perpetrados reciprocamente. Tais recordações poderiam reviver animosidades, criando embaraços à harmonização dos relacionamentos.

5-               
A convivência com pessoas de nível evolutivo diferente. Na dimensão espiritual, a lei de sintonia é absoluta. Os iguais se buscam na imensidão do espaço e vivem entre si. Na dimensão física, isso não se dá – vivem todos em um “balaio de gato”. A convivência na diversidade estimula o progresso. Os que se acham em condição evolutiva inferior têm, em seus superiores, o exemplo e o estímulo para a autossuperação. Os últimos encontram, na convivência com os primeiros, oportunidades para exercitar a tolerância, a paciência e a perseverança.
3 - Quando reencarnamos?
Considerando a condição de a individualidade encontrar-se na dimensão espiritual, que fatores determinam o momento em que seu retorno ao cenário físico deverá verificar-se?
Em O Livro dos Espíritos se lê:
[...] a fatalidade só consiste nestas duas horas: aquelas em que deveis aparecer e desaparecer neste mundo. [v]
Os Benfeitores colocam, então, o momento em que devemos aparecer no mundo, ou seja, a reencarnação, como uma fatalidade, algo que está determinado por princípios bem definidos. Isso porque a reencarnação é uma necessidade da vida espiritual, como a morte é uma necessidade da vida corporal. Assim os Espíritos pressentem a época em que reencarnarão como o cego sente o fogo que se aproxima. Embora nem todos se preocupem com ela, pois há os que não pensam nela e que nem mesmo a compreendem, cedo ou tarde o Espírito sente a necessidade de progredir, pois a condição de desencarnado não pode se prolongar indefinidamente.

Acredita o psiquiatra e escritor espírita Jorge Andréa que a “estrutura energética do Espírito”, com o passar dos anos na dimensão espiritual, vai tendo maior dificuldade em se “recarregar”, impossibilitando a permanência da individualidade desencarnada na dimensão espiritual, por um período de tempo superior à sua capacidade de renovação fluídica. Quanto mais primitiva for a condição evolutiva da entidade espiritual, mais brevemente deverá retornar à dimensão física. Ocorre, segundo ele, um desgaste progressivo das “unidades energéticas”, que passam a “vibrar mais lentamente”. Os Espíritos menos evoluídos, estando mais necessitados do retorno à gleba planetária, reencarnariam com intervalo de tempo menor; os mais evoluídos reencarnariam com maior intervalo de tempo, pela possibilidade de mais fácil aquisição de material necessário ao metabolismo do psicossoma e por possuírem, em potencial, qualidades energéticas que lhe permitiriam "viver" mais tempo no estágio dimensional em que se encontram. [vi]

O tempo de permanência do Espírito desencarnado na dimensão espiritual é, segundo André Luiz, diretamente proporcional à sua condição evolutiva:
A percentagem de tempo no plano espiritual para as criaturas de evolução mediana varia com o grau de aproveitamento de tempo no estágio recente que desfrutaram no corpo físico. Quão mais vasta a provisão de conhecimento e maior a aquisição de virtudes, por parte do Espírito, mais largo período desfruta na Esfera Superior para obtenção de mais nobres recursos para mais alta ascensão. [vii]   
À medida, então, que as vibrações espirituais se tornam mais “pobres”, em decorrência de uma espécie de “enfraquecimento espiritual”, comenta Jorge Andréa, observa-se uma redução progressiva das atividades do Espírito. Essa condição leva-o a um estado de torpor e fraqueza progressiva. A lei de causa e efeito, por mecanismos desconhecidos, o impele à vinculação ao aparelho genésico de uma mulher em idade fértil, com a qual o mesmo se relaciona por elos de afinidade espiritual. Desencadeia-se assim o mecanismo reencarnatório automático por necessidade imperiosa da entidade desencarnada de retornar à dimensão física, por absoluta falta de condições fisiopsíquicas de manter-se distante das vibrações materiais.
Léon Denis esclarece, em Depois da morte:
Quando chega a ocasião de reencarnar, o Espírito sente-se arrastado por uma força irresistível, por uma misteriosa afinidade, para o meio que lhe convém.
E ainda Denis:
As leis inflexíveis da Natureza, ou antes, os efeitos resultantes do passado, decidem da reencarnação. O Espírito inferior, ignorante dessas leis, pouco cuidadoso de seu futuro, sofre maquinalmente a sua sorte e vem tomar o seu lugar na Terra sob o impulso de uma força que nem mesmo procura conhecer.
A hipótese apresentada por Jorge Andréa, segundo a interpretação que faz de algumas citações de Kardec e André Luiz, nos permite traçar um paralelo entre a necessidade de renovação do corpo físico que se dá com a morte física e a equivalente necessidade de renovação do corpo espiritual com a reencarnação. O vestuário físico de que se vale o Espírito enquanto encarnado se deteriora com o envelhecimento e as enfermidades, advindo daí a desencarnação. De forma semelhante, o corpo espiritual, impossibilitado de renovar-se indefinidamente na dimensão espiritual, necessita refazer-se, através do regresso à dimensão material.
Importante considerar que, em muitas ocasiões, o processo reencarnatório é efetivado bem antes do esgotamento dos recursos fisiopsíquicos, pois Espíritos lúcidos e almas mais evoluídas podem direcionar o processo encarnatório de seus tutelados, fazendo com que retornem à gleba planetária, em encarnações previamente organizadas, gerenciando todo o processo.
4 - Onde reencarnamos?
Os Espíritos formam famílias espirituais, cujos elos se devem a tendências e características comuns. A necessidade de estarem juntos faz com que eles se busquem, movidos por forças inconscientes. Kardec, examinando as relações entre indivíduos, perguntou aos Espíritos Superiores se os encontros, que costumam dar-se, de algumas pessoas e que comumente se atribuem ao acaso, não serão efeito de certa relação de simpatia? Eles responderam queentre os seres pensantes há ligação que ainda não conhecemos, e que o magnetismo é o piloto desta ciência, que mais tarde compreenderemos melhor.[viii] Relações magnéticas, ignoradas por nós, ligam os Espíritos uns aos outros, e o Espírito reencarnante tenderá a vincular-se a Espíritos “simpáticos” domiciliados na esfera física em condição de recebê-lo na condição de filho. (Continua no próximo número.)


[i]  Emmanuel/Chico Xavier: Roteiro
[ii] Allan Kardec: O Evangelho segundo o Espiritismo, cap. IV, item 17
[iii] Allan Kardec. O Evangelho segundo o Espiritismo, cap. IV, item 25
[iv] Allan Kardec. O Evangelho segundo o Espiritismo, cap. IV, item 26
[v] Allan Kardec. O Livro dos Espíritos, item 859
[vi] Jorge André: Palingênese, a grande lei
[vii] André Luiz/ Chico Xavier. Evolução em dois mundos, parte II, cap. XVIII
[viii] Allan Kardec. O Livro dos Espíritos, item 338

http://www.oconsolador.com.br/ano8/398/especial.html

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