a partir de maio 2011

quinta-feira, 11 de dezembro de 2014

Cristo, uma mercadoria importada!

  A religião cristã vem cumprindo, "magnificamente", a função de cada vez mais comercializar um judeu, filho de um pedreiro, que viveu no século I D.C. Sob a designação de Cristo, Yehoshú'a ben Yussef, foi tornado um produto. O Homem encantador que viveu ao lado de simples e analfabetos pescadores, foi substituído aos poucos por um mito. A produção do Cristo mítico da fé é em larga escala e os preços são elevados, afinal de contas ser escolhido pelo "Salvador" para ter uma cadeira cativa no Paraíso não é para qualquer um. Porém, tem gente disposta a pagar.
  O assunto, logo torna-se um campeão de vendas nas mãos dos que procuram soluções rápidas e mil maneiras de reinventar a realidade sofrida, e desta forma, ocupa as estantes das livrarias através de temas como, "Jesus - o maior Psicólogo", "Jesus um exemplo de líder para sua empresa", "Jesus e o Marketing", "Jesus, o maior médico de todos os tempos" e assim por diante...  Cada vez mais o desconhecido de Nazaré desaparece para ceder espaço ao Cristo, representante e fundador de uma religião salvacionista. Nascido na manjedoura, em Belém, morto entre bandidos e ressuscitado, o Cristo operador de milagres, agora os produz através de seus missionários, exclusivos portadores da palavra da salvação e que vendem curas à vista, no boleto ou no cartão em até 12 vezes sem juros.
  Disputando uma fatia deste rentável mercado, estão os cantores da renovação carismática. Mesmo à contragosto da CNBB, que finge que não está nem aí, mas em verdade se felicita pela volta do rebanho aos braços da Igreja, os padres cantores tentam resgatar as almas desviadas nos últimos dez anos para as mais de 1.500 (mil e quinhentas) denominações protestantes. De uns anos para cá, os adoráveis padres, que por sinal deixaram aquela imagem misteriosa dos monges medievais, agora se apresentam sempre bem vestidos com ares de Clark Gable, num misto de Fábio Júnior e Tacísio Meira, trazendo sempre um sorriso que combina com o olhar, arrastando multidões para a Fé Católica e ainda arrancam inúmeros suspiros das fervorosas irmãs em Cristo.
  Do outro lado, estão os novos convertidos para Cristo. Os cantores de música Gospel ocupam as maiores paradas de sucesso e o público alvo, é claro, não podia deixar de ser os sem esperança, os sofridos, essa gente do povo... Gente simples que trabalha duro e que antes apostava no jogo do bicho, fazendo a sua fezinha, mas que agora aposta numa vida tranquila, sonhando com a casa própria no céu, pondo a sua felicidade nas mãos de outra "gente", gente esperta que não trabalha, ou melhor, trabalha para Deus, que vive da religião e que tem "féde mais".
  No âmbito deste comércio, a concorrência é acirrada e o interessante é que quanto maior a crise econômica, moral e espiritual, mais Cristo vende! No mercado da música gospel, onde "Jesus é dez!", ou "É o cara!" tem forró, axé music, sertanejo, romântica, pagode, samba, funk, rap, rock metal, enfim todos os ritmos exaltando "Só Jesus é o Senhor!".
  O Cristo da fé, atualmente, se envolve até em jogos de futebol, recebendo orações de agradecimento após as partidas no próprio campo de batalha, à semelhança dos gladiadores romanos que agradeciam a Marte. Eles rendem graças a Cristo por tê-los ajudado, como seus atletas  a vencerem seus inimigos e também, é claro por ter deixado a torcida adversária chorando ou furiosa quebrando o patrimônio público e agredindo transeuntes na saída dos estádios.
  É bem verdade que a música sempre teve seu efeito terapêutico, mas a religiosa que hoje se apresenta tem uma certa diferença dos sensíveis cantos gregorianos, dos vibrantes e disciplinados corais das Igrejas Batistas e Presbiterianas, ou indo mais ao passado, da arrebatadora sacralidade renascentista e da alegre e envolvente sonoridade pagã. Já vão longe os dias de almas inspiradas como Handel que compôs O Messias ou de Bach em Jesus Alegria dos Homens.
  E o mais irritante desta musicalidade que comercializa Cristo está chegando... Pois o natal vem por aí. Prepare-se para ouvir, tocando nas lojas Renner e na Riachuelo, Imagine de John Lennon, e aquela outra que quando toca, estimula depressão e suicídio, o clássico Então é Natal, de Simone, sempre em primeiro lugar nas Lojas Bompreço do grupo Walmartt. Para quem estiver sozinho, sem a companhia daqueles familiares falsos vale a pena se sentir mais egoísta, ouvindo Oswaldo Montenegro com a melancólica A Lista, sempre bem acompanhada de um vinho Quinta do Morgado para terminar a enfadonha noite de Natal.
  Entretanto, para quem curte Cristo na manjedoura ao lado dos animaizinhos, é bom se preparar para gastar muito, pois tem guirlanda, árvore, estrela, presépio, presentes, Coca-Cola, salpicão, peru ou chester para a perigosa e em "cima do muro" classe média, composta de uma infinidade de comilões e comilanças noite à fora, ou melhor noite à dentro, dentro de sua casa é claro.
  Essa gente não sabe que lhe deu muito trabalho arrumar tudo aquilo, pois acreditam que é um sonho de Natal, um presente de Cristo, quem sabe. Você passou o dia inteiro arrumando o apartamento para receber aquela turma da barra pesada, sempre cheirando a perfumes amadeirados. É um pessoal que não respeita seu esforço e nessa 'plebe rude' tem sempre um cunhado que vai fazer um comentário desagradável sobre tua filha de quinze anos e o playboy marombado com quem ela está de "rolinho", como dizem os jovens.
  Não podemos esquecer do sem graça "Amigo secreto", que por sinal não é nada secreto, e sim indiscreto, porque todo mundo sabe quem tirou quem, mas todos fingem que não sabem, e que nem viram o ridículo sorteio dos papeis com os nomes previamente escolhidos. E é indiscreto sim... Porque tem sempre alguém dizendo o que aquela prima azeda ou aquela tia velha precisam ganhar ou então, dá logo para ver a simpatia e a amizade reinando na família quando tira-se o nome do chato ou daquele que dizem ter tudo, e você pede para trocar o papel, alegando que tirou você mesmo. Que mentira!
  Depois disso tudo, você vai prometer que este natal foi o último em sua casa, mas não se iluda não, porque ano que vem tem mais. Sabe por que? Porque tem mais Cristo no comércio, e toda sua família escravocrata estará em sua senzala.
  Como se não bastasse tanto Cristo mercantilizado com código de barra, tem também o pirateado. Todos sabem que ninguém supera em chatice e irritação, o Jingle bells executado ao som de um odiento cavaquinho e que com certeza, você poderá ouvir nas Lojas Americanas, ou então, passando em frente de sua casa ou do seu trabalho naquele carrinho de ambulante que vende CD pirata. Para irritar mais ainda, o vendedor usa um ridículo gorrinho do Papai Noel!
  Ai que saudade daqueles vira-latas que corriam atrás dos carros-de-boi, das bicicletas, dos caminhões do lixo, dos carteiros e das motos. As carrocinhas que tocam Jingle Bells mereciam conhecê-los!
  Enfim... Cristo tornou-se ou não um recorde de vendas? É um sucesso inquestionável. Fizeram dele uma mercadoria importada, segundo os desejos e os interesses dos cristãos.
  Discografia Sugerida na Crônica para seu Natal
                                             
Liszt Rangel

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