a partir de maio 2011

sábado, 6 de setembro de 2014

Crentes e não crentes: unidos na felicidade e na paz

DIAMANTINO LOURENÇO RODRIGUES DE BÁRTOLO
bartolo.profuniv@mail.pt 
Venade - Caminha
,
 Viana do Castelo (Portugal

A dificuldade em se definir, numa fórmula objetiva, o que é a felicidade, parece muito evidente; provar que a felicidade se pode obter pela via religiosa é, epistemologicamente, muito complexo, o que não invalida uma abordagem séria, responsável e respeitosa, justamente, com o objetivo de, no mínimo, incentivar todos os interessados, crentes e não crentes, a percorrer este longo caminho, tendo por veículo privilegiado a religião e, quem sabe, se num determinado ponto do percurso surjam indicações, e/ou sinais, que apontem para uma situação que se possa equiparar a um estado de espírito que seja enquadrável num conceito de felicidade.
O instrumento que, quantitativamente, indique o valor da felicidade, por enquanto, não é conhecido, mesmo que fosse possível enumerar os momentos, mais ou menos longos, intensos e profundos dessa felicidade.
Em todo o caso e para facilidade de compreensão e, entre inúmeras opiniões, aceite-se, como ponto de partida, que ser feliz consiste: «Ter sensações de bem-estar e prazer físico; poder manifestar alegria; ter tranquilidade de espírito; sentir emoções agradáveis; desfrutar de coisas boas na vida; sentir-se valorizado, aceito e amado; ter a sensação de utilidade; conseguir realizações na vida; conversar agradavelmente com parentes e amigos, entre outras situações” (RESENDE, 2000: 176-77).
Verifica-se que um dos fatores que intervêm na felicidade é, justamente, a tranquilidade de espírito ou, se se preferir, de consciência que, de entre outros processos, se pode obter pela religião, com toda a liturgia, rituais e crenças que a envolvem – o que não significa que o não crente, o religioso não praticante não tenham, em dados períodos das suas vidas, momentos de tranquilidade de espírito, de felicidade, conseguidos por práticas adequadas que conduzem àquela situação de calma espiritual, de consciência serena e boa condição física.
A religião é, naturalmente, vivenciada pelo homem e pela sociedade, através de processos e reações diferentes, mas que tem em comum uma relação com Algo Transcendente.
Por muito santificado e/ou divinizado que se pretenda ver um outro homem, nosso semelhante, e existindo concreta e fisicamente a relação que com ele se estabelece, esta não configura, necessariamente, uma dimensão religiosa, apesar de nessa união se colocar crença, respeito, e uma ligação mística.
A elevação e a fé, que se colocam na relação transcendente do Espírito com Deus e com o mundo inefável, é que podem assumir a dimensão única da religiosidade dessa relação porque: «De fato, o espírito humano penetra tudo no homem, unifica e dá a dimensão humana a tudo e, portanto, tudo no homem deve ser orientado segundo os valores mais altos do Espírito» (SILVA, 1966: 192).
As sociedades atuais também se organizam com objetivos religiosos, tal como na perspetiva política, econômica, social, cívica e outras. A sociedade religiosa existe em todos os países e, enquanto tal, desenvolve as atividades que, espiritualmente, lhe são próprias e que, também por esta via, pretende obter a felicidade e a paz em determinadas épocas da sua história, quando a maioria dos seus elementos manifesta os sintomas antes referidos, dos quais, e para esta reflexão, importa destacar a tranquilidade de espírito. Acredita-se que um espírito/consciência tranquilo tem mais clarividência para analisar e decidir acerca de situações difíceis, no homem e na sociedade.
Delineados os mecanismos para melhorar e/ou manter a felicidade e a paz humanas, através do espírito religioso e do bem comum ético-religioso, abre-se a possibilidade de, com competência, desenvolver estratégias que conduzam o espírito/consciência a uma sensação real, sentida e vivida de felicidade e de paz.
Nesta perspectiva é possível tentar-se ser competente na busca da felicidade e da paz, podendo-se começar pela satisfação de necessidades de ordem material até se chegar às de natureza axiológica, consubstanciadas nos valores da estima, da solidariedade, da lealdade, do amor, da oração, porque:«Satisfazer as necessidades é adquirir condições para ser feliz (…) através do desenvolvimento das competências essenciais – intelectuais, espiritual, emocional e física (…). Mais objetivamente: se pode ficar espiritualmente mais otimista, mais de bem com a vida» (RESENDE, 2000: 178).

Bibliografia:
RESENDE, Enio, (2000). O Livro das Competências. Desenvolvimento das Competências: A melhor Autoajuda para Pessoas, Organizações e Sociedade. Rio de Janeiro: Qualitymark.
SILVA, António da, S.J. (1966). Filosofia Social, Évora: Instituto de Estudos Superiores de Évora.

Nenhum comentário:

Postar um comentário