a partir de maio 2011

domingo, 29 de junho de 2014

Sectarismo...

PAULO OLIVEIRA
psdo2010@gmail.com
Santos, SP (Brasil)

Não cuideis que vim trazer a paz à Terra;
não vim trazer paz, mas a espada... (Jesus)

“Com efeito, o corpo é um e, não obstante, tem muitos membros, mas todos os membros do corpo, apesar de serem muitos, formam um só corpo. Assim também acontece com Cristo. Pois fomos todos batizados num só Espírito para ser um só corpo, judeus e gregos, escravos e livres, e todos bebemos de um só Espírito.”
 (I Coríntios 12: 12-13) 
A mensagem evangélica é fundamentalmente de paz, união e harmonia entre todos os filhos de Deus. Jesus deixou isso expresso em suas palavras dirigidas aos discípulos: “A minha paz vos deixo, a minha paz vos dou!”[1]
No entanto, Jesus sabia que o preço da paz verdadeira seria muito alto, pois o mundo entende que essa paz é obtida apenas no vencer as disputas impostas pelo orgulho que, muitas vezes, estão totalmente em oposição aos valores que deveriam constituir a base de todas as relações pessoais, expressos pelo comportamento ético-moral.
O ser humano, de maneira geral, na condição de Espíritos em evolução, traz em suas tendências aquilo que desenvolveu, e fortaleceu, em sua trajetória espiritual, ao longo dos milênios, forjando sua singularidade. Assim, agimos baseados em nossas crenças e valores construídos e consolidados por meio das decisões que fizemos – nossas escolhas – resultando em consequências boas ou não, a depender da característica positiva ou negativa das ações que praticamos. É a lei de causa e efeito!
Ao olharmos mesmo que rapidamente o nosso passado, analisando a história do desenvolvimento humano sobre o orbe terrestre, vamos encontrar sempre grupos de pessoas, povos e até nações lutando para alcançar o domínio e a primazia sobre outros, destruindo e aprisionando os vencidos nas guerras desencadeadas.
A recomendação de Jesus quanto à Sua paz ser diferente da paz do mundo resume, em essência, esse conflito que ainda provoca desentendimentos, separações e as próprias guerras.
O desejo de domínio, e da pretensa superioridade, persiste no espírito humano até hoje, e manifesta-se em todos os segmentos de nossa sociedade. Surge nos negócios que fazemos, onde tentamos tirar o melhor proveito injustificado, em detrimento dos direitos alheios; na política onde prevalecem os interesses e direitos de grupos minoritários, que detêm o poder, mesmo que com essa atitude muitos sejam relegados à condição de miserabilidade; nas organizações em que os colaboradores nem sempre são considerados como sua verdadeira força produtiva, submetidos à tirania de “líderes” insanos e famintos de poder; e nas próprias manifestações religiosas, cujo objetivo maior é o de semear a boa palavra deixada pelo Mestre, imagem eternizada na belíssima Parábola do Semeador.
Essa busca da condição de “donos da verdade” e exclusividade da posse das “chaves” que abrem as “portas dos céus”, também tem gerado lutas acérrimas que, ao longo dos últimos séculos, fizeram aumentar o sofrimento e o desespero, gerando severas responsabilidades às quais, em função das leis naturais, devemos responder assumindo compromissos reeducadores, através dos processos reencarnatórios, que são a expressão máxima do amor e da justiça divina.
A citação da epístola de Paulo de Tarso aos Coríntios, em epígrafe, dá-nos a noção exata de que essa busca de primazia e de direitos especiais, alegadamente concedidos pelo Criador, não passa de descumprimento da palavra que é, muitas vezes, expressa nos púlpitos, mas pouco aplicada na vida diária. A paz do Cristo é para o dia a dia e não para eventos ou momentos especiais que, possivelmente, dedicamos para cumprir obrigações mais sociais do que de fato morais.
Paulo deixa claro que somos TODOS de um só Deus, e que Ele não desampara a nenhum de seus filhos por crerem nesta ou naquela manifestação religiosa. Já é do nosso entendimento que se as religiões fossem, isoladamente, a saída para a paz mundial, esta já estaria instalada de há muito. Não o são, porque estão muito preocupadas na busca por serem a única, a melhor e a escolhida por Deus. Tolice que não se sustenta, conforme nos alerta o apóstolo dos gentios: “Mas Deus dispôs cada um dos membros no corpo, segundo a sua vontade. Se o conjunto fosse um só membro, onde estaria o corpo?”[2]. Lógica e clareza inquestionáveis!
Essa é a “paz” do mundo! Aparente, vazia e que não acolhe nem ampara verdadeiramente as dores humanas, mas sim a que estimula, cada vez mais, a separação e a dissensão entre os seres que habitam este planeta. Lembremos que Jesus Cristo, o Messias enviado por Deus, foi preso, humilhado e sentenciado à morte infamante, justamente pelos líderes político-religiosos de então, que arraigados ao orgulho de raça e à ideia de exclusividade da posse da verdade, acreditavam-se “os únicos com a condição de interpretar e entender a palavra de Deus”.
Esse risco também acontece nas fileiras espíritas, onde vamos encontrar, vez por outra, os vulgos conhecedores da interpretação da doutrina codificada por Allan Kardec, e que instalam conflitos e discussões que só fazem desviar do rumo certo àqueles que por sua incúria e falta de conhecimento doutrinário deixam-se arrastar para caminhos outros. Lembremos: “Não vim trazer a paz, mas a espada!”. Isso já havia sido previsto pelo Mestre, alertando-nos para a necessidade da vigilância contra o maior de todos os defeitos humanos que é o egoísmo: “Ninguém pode servir a dois senhores”.[3]
– Sou mais ciência! – dizem alguns.
– Eu, filosofia! – outros acrescentam.
O Espiritismo, o outro Consolador prometido por Jesus, vem ao mundo para ensinar coisas que Ele não podia sequer mencionar àqueles com quem conviveu, como também relembrar Seus ensinamentos, pois que foram esquecidos ou desvirtuados.
 
A missão do Consolador é consolar! Esta é a missão de todo aquele que se diz trabalhador da Seara do Mestre. Não há espaço para dissensões produzidas pela crítica contumaz e pelo senso de superioridade (orgulho). Não existem “proprietários” do saber além do próprio Mestre e de seus emissários. O próprio codificador, de forma intensa e constante, rejeitou essa posição, afirmando que a doutrina é dos ESPÍRITOS, e não dos espíritas:

"Todas as doutrinas filosóficas e religiosas trazem o nome da individualidade fundadora: o mosaísmo, o cristianismo, o maometismo, o budismo, o cartesianismo, o furierismo etc. A palavra Espiritismo, ao contrário, não lembra nenhuma personalidade, ela encerra uma ideia geral, que indica, ao mesmo tempo, o caráter e a fonte múltipla da doutrina”. [4]

Em apoio a esse pensamento, transcrevemos o seguinte texto, referindo-se a Allan Kardec:

Por outro lado, se ele era, entre os homens, o chefe do movimento, pois alguém tinha que o liderar, compreendeu logo que não era o dono da doutrina e jamais desejou sê-lo. Quando lhe comunicam que foi escolhido para esse trabalho gigantesco, sente com toda a nitidez e humildade a grandiosidade da tarefa que lhe oferecem e declara que de simples adepto e estudioso a missionário e chefe vai uma distância considerável, diante da qual ele medita, não propriamente temeroso, mas preocupado, dado que era homem de profundo senso de responsabilidade. Do momento em que toma a incumbência, no entanto, segue em frente com uma disposição e uma coragem inquebrantáveis. Esse aspecto da sua atuação jamais deve ser esquecido, a consciência que tem da sua posição de coordenador do movimento e não de seu criador. Não deseja que a doutrina nascente seja ligada ao seu nome”.[5](grifo nosso)
“Amai-vos e instruí-vos” – ensinamento dado pelo Espírito de Verdade – representa a lei máxima para todo espírita. A instrução é o meio para a realização do aprendizado, através do estudo, e compreensão, do conteúdo doutrinário em seu tríplice aspecto – científico, filosófico e moral –, que deve ser o alvo de todo espírita sincero e preocupado com o próprio desenvolvimento, bem como com a prática dos ensinos de Jesus, em suas atitudes em relação ao seu próximo.
Nas fileiras espíritas encontramos, com muita frequência, posições acirradas que raiam ao fanatismo e ao fundamentalismo, inclusive, muitas delas apoiadas em questões pragmáticas de fundo místico ou supersticioso, sendo que aqueles que não comungam com suas ideias passam a “opositores”, sendo tratados pela maledicência de forma nada caridosa, em total descumprimento dos ensinos evangélicos.
A desconsideração daqueles que não esposam as mesmas ideias, ou que não apresentam condições de trabalho conforme nossas expectativas pessoais, indica uma atitude que causará divisão na casa espírita, e, consequentemente, no movimento espírita.
Notadamente aqueles que ocupam a tribuna ou os diversos meios de comunicação disponíveis têm enorme e séria responsabilidade em relação ao que comunicam. Podem incentivar a prática das dissensões e lutas entre irmãos, membros de um mesmo corpo em Cristo Jesus, conforme nos afirma Paulo de Tarso, provocando afastamento e desunião.
Deus criou-nos a todos da mesma forma – simples e ignorantes – e deu-nos os caminhos da evolução para percorrermos conforme nossas escolhas, colhendo sempre, porém, as respectivas consequências.
Portanto, já está mais do que na hora de acordarmos para as realidades espirituais ensinadas por Jesus, e colocá-las em prática.
Agindo assim, estaremos contribuindo com o trabalho do Cristo e sendo trabalhadores efetivos da última hora, que receberão o salário justo, mas que, antes de querer receber, estão prontos para ofertar sua vida, seu tempo e sua capacidade de amar e compreender o seu próximo.
Para concluir, gostaríamos de citar um trecho de uma mensagem de Emmanuel: “Os homens esperam por Jesus e Jesus espera igualmente pelos homens”.[6]

 
[1] João 15:27.
[2] (I Coríntios 12: 18-19)
[3] Mateus 6:24.
[4] Nota explicativa de rodapé em A Gênese, capítulo XVII - Anunciação do Consolador- Item: 42.
[5] MIRANDA, Hermínio C.- Nas Fronteiras do Além – FEB 1994 – 1ª. edição.
[6] EMMANUEL, Espírito. [psicografia de Francisco Cândido Xavier]. Fonte Viva. FEB – Brasília-DF., 1988. Mensagem 17 – O Cristo e nó

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