a partir de maio 2011

sexta-feira, 2 de maio de 2014

Kardec nunca foi João Evangelista

PAULO DA SILVA NETO SOBRINHO
paulosnetos@gmail.com

Belo Horizonte, MG (Brasil)


No Jornal da Mediunidade n° 37, de outubro/novembro/dezembro de 2013, uma publicação da Livraria Espírita Edições “Pedro e Paulo” - LEEPP, Uberaba, MG, há um artigo assinado pelo articulista Nuno Emmanuel, no qual ele afirma que uma psicografia de Chico Xavier – uma poesia de Casimiro Cunha – confirma a “revelação” de que Kardec foi João Evangelista. Transcrevemos este trecho do artigo:
MANDATO DE AMOR – AOS ESPÍRITAS
Capítulo II – A Doutrina em Versos

AOS ESPÍRITAS
Se queres viver à luz
Do Espiritismo Cristão,
Guarda o Discípulo Amado
No templo do coração.
Ele foi o Mensageiro
Do Espírito da Verdade,
Unindo a Ciência e a Fé
Nas lutas da Humanidade.
Imita o seu sacrifício
Nas oficinas da Luz,
Praticando o ensinamento
Do Evangelho de Jesus.
Suporta a calúnia, o apodo,
O ridículo, o tormento,
Sem fugir à tua fé,
Nos dias do sofrimento.
Lembra o Discípulo e o Mestre,
Nosso Mestre e Salvador,
E farás do teu caminho
Um sacerdócio de Amor.
Casimiro Cunha
(Poema psicografado por Francisco Cândido Xavier, no dia 31 de março de 1938, em solenidade realizada pela União Espírita Mineira.)
Do Livro “Mandato de Amor” – Geraldo Lemos Neto, Itens: “SÉCULO XX – AOS ESPÍRITAS”, Editora UEM – União Espírita Mineira: www.uemmg.org.br/, Livro: www.vinhadeluz.com.br/site/produto.php?n=32.

O Discípulo Amado de Jesus, João Evangelista, foi o Mensageiro do Espírito da Verdade, Allan Kardec!
(Jornal da Mediunidade nº 37, p. 2, grifo do original.)
A bem da verdade, para quase tudo aquilo que acreditamos sempre encontraremos alguma coisa para sustentar, mesmo que isso não esteja claro para a maioria das outras pessoas ou que busquemos nas “entrelinhas” de um artigo, isso é normal em quase todos nós, seres humanos; não há que se condenar quem assim age, porquanto vale a assertiva de Jesus: “atire a primeira pedra aquele que não tiver pecados”.
Nós já fizemos várias pesquisas sobre a possibilidade de Chico Xavier ter sido Allan Kardec em nova reencarnação, mas ainda não encontramos nenhum suporte para tal tese.
Entre as possíveis reencarnações do Codificador constam, entre outras personalidades, Platão e João Evangelista. O primeiro ponto que vem conflitar é que ambos, ou seja, Platão e João Evangelista, assinam o “Prolegômenos” emO Livro dos Espíritos, o que não faz sentido se fossem um só Espírito. Cada assinatura representa uma individualidade distinta, isso para nós é fato.
Ademais, é importante relembrar que na Revista Espírita há registros de mensagens assinadas pelo filósofo Platão: a) na sessão realizada em 18 de novembro de 1859 (KARDEC, 1993e, p. 358); b) na de 20 de janeiro de 1860 (KARDEC, 2000a, p. 39); c) na sessão 03 de fevereiro de 1860, assinada em conjunto com Moisés e Julien (KARDEC, 2000a, p. 68).
Mas voltemos o nosso foco para João Evangelista. Encontramos informações que, a nosso ver, derrubam a hipótese dele ter sido Kardec. A coisa é bem simples, pois temos o próprio Codificador presente numa reunião na qual, a seu pedido, evocou-se o Espírito João Evangelista, o que se pode comprovar naRevista Espírita 1861, no relato da ata da reunião na Sociedade Espírita de Paris do dia 14 de dezembro de 1860; do qual destacamos este trecho:
“3º) Fato pessoal ao Sr. Allan Kardec e que pode ser considerado uma prova de identidade do Espírito de um personagem antigo. A Senhorita J... teve várias comunicações de João Evangelista, e cada vez com uma escrita muito caracterizada e muito diferente da sua escrita normal. A seu pedido, o Sr. Allan Kardec,tendo evocado esse Espírito, pela senhora Costel, achou que a escrita tinha exatamente o mesmo caráter da senhorita J..., embora o novo médium dela não tivesse nenhum conhecimento; além do mais, o movimento da mão tinha uma doçura desacostumada, o que era ainda uma semelhança; enfim, as respostas concordavam em todos os pontos com aquelas feitas pela senhorita J... e nada na linguagem que não estivesse à altura do Espírito evocado. (KARDEC, 1993f, p. 5, grifo nosso.)
Não temos dúvidas de que as “várias comunicações de João Evangelista”, tendo como médium a Senhorita J..., ocorreram em reuniões na Sociedade Espírita de Paris, o que nos remete à possibilidade de que todas elas foram presididas por Kardec, uma vez que ele exercia a função de Presidente dessa Instituição.
Podemos acrescentar uma outra ocorrência da manifestação de João Evangelista. Em 2 de novembro de 1864, a Sociedade Espírita de Paris se reuniu “com o objetivo de oferecer uma piedosa lembrança aos seus colegas e aos seus irmãos em Espiritismo, falecidos” (Revista Espírita 1864, 1993h, p. 353). Após a locução de Kardec, abriu-se espaço para possível manifestação dos Espíritos. Vários se manifestaram entre eles João Evangelista, que deu uma bela mensagem através da médium Senhora Costel. (Revista Espírita 1864, 1993h, p. 362-363.)
Como já dissemos alhures, aqui temos um fato inusitado, caso persista a hipótese de João Evangelista ser Kardec, pois não há nada de lógico em evocar a si mesmo. A manifestação de um vivo só ocorre nos momentos em que o seu corpo esteja inativo (ou em êxtase), uma vez que, segundo Kardec, essa é a condição necessária para que seu Espírito se emancipe.
Além disso, voltamos a insistir, cabe aos defensores dessa tese que provem (o ônus da prova cabe a quem afirma) que todas as vezes que o Espírito Kardec se manifestou quando Chico Xavier estava vivo, este estava dormindo, para que seu Espírito pudesse emancipar e se manifestar como Kardec. Acho que isso vai ser muito difícil, já que Chico Xavier, segundo se sabe, geralmente ia dormir lá pela madrugada adentro.

Referências bibliográficas:
KARDEC, A. O Livro dos Espíritos. Rio de Janeiro: FEB, 2007a.
KARDEC, A. Revista Espírita 1859. Araras, SP: IDE, 1993e.
KARDEC, A. Revista Espírita 1860. Araras, SP: IDE, 2000a.
KARDEC, A. Revista Espírita 1861. Araras, SP: IDE, 1993f.
KARDEC, A. Revista Espírita 1864. Araras, SP: IDE, 1993h.
Jornal da Mediunidade nº 37. Uberaba, MG: LEEPP, out/nov/dez/2013

http://www.oconsolador.com.br/ano8/361/paulo_neto.html

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