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terça-feira, 8 de abril de 2014

ELIAS E JOÃO BATISTA. REFUTAÇÃO.

Revista Espírita Jornal de Estudos Psicológicos publicada sob a direção de Allan Kardec
 
ANO 6 – DEZEMBRO 1863 – Nº. 12

Uma carta que nos foi endereçada contém a passagem seguinte:
 
"Acabo de ter uma discussão com o cura daqui sobre a Doutrina Espírita; a respeito da reencarnação, disse-me para dizer-lhe qual dos corpos tomará o Espírito de Elias no último julgamento anunciado pela Igreja para se apresentar diante de Jesus Cristo; se será seu primeiro ou seu segundo. Não pude responder-lhe; ele riu e disse-me que não éramos fortes, os senhores Espíritas."
 
Não sabemos qual dos dois provocou a discussão; em todos os casos, há sempre imprudência em se envolver numa controvérsia quando não se sente com força para sustentá-la. Se a iniciativa veio de nosso correspondente, lembrar-lhe-emos o que não cessamos de repetir, que "o Espiritismo se dirige àqueles que não creem ou que duvidam, e não àqueles que têm uma fé e que essa fé basta; que não diz a ninguém para renunciar às suas crenças para adotar as nossas," e nisso é consequente nos princípios de tolerância e de liberdade de consciência que professam. Por esse motivo, não saberíamos aprovar as tentativas, feitas por certas pessoas, para converter às nossas ideias o clero de qualquer comunhão que seja. Repetiremos, pois, a todos os Espíritas:Acolhei com solicitude os homens de boa vontade; dai a luz àqueles que a procuram, porque com aqueles que creem tê-la não triunfareis; não violenteis a fé de ninguém, não mais do clero do que dos laicos, porque vindes semear os campos áridos; colocai a luz em evidência, para que aqueles que querem vê-la a olhem; mostrai os frutos da árvore, e dai de comer àqueles que têm fome, e não àqueles que dizem estar saciados. Se os membros do clero vêm a vós com intenções sinceras e sem pensamento dissimulado, fazei por eles o que fazeis para os outros vossos irmãos: instruí aqueles que o pedirem, mas não procureis conduzir à força àqueles que crerem sua consciência convidada a pensar de outro modo do que vós; deixai-lhes a fé que têm, como pedis que vos deixem a vossa; mostrai-lhes, enfim, que sabeis praticar a caridade segundo Jesus. Se atacam os primeiros, é então que se tem o direito de resposta e de refutação; se abrem a liça, é permitido segui-los sem se afastar, no entanto, da moderação da qual Jesus deu o exemplo aos seus discípulos; se nossos adversários disso de afastam por si mesmos, é preciso deixar-lhes esse triste privilégio que jamais é uma prova da verdadeira força. Se nós mesmos entramos há algum tempo no caminho da controvérsia, e se nós erguemos a luva lançada por algum dos membros do clero, se nos dará essa justiça que nossa polêmica jamais foi agressiva; se não tivessem atacado primeiro, seu nome jamais seria pronunciado por nós. Sempre desprezamos as injúrias e o personalismo dos quais fomos objetos, mas era de nosso dever tomar a defesa de nossos irmãos atacados e de nossa Doutrina indignamente desfigurada, uma vez que se chegou até a dizer, em pleno púlpito, que ela pregava o adultério e o suicídio. Dissemos e o repetimos, essa provocação era inábil, porque ela conduz, forçosamente, ao exame de certas questões que teria sido de uma melhor política deixar adormecidas, porque uma vez aberto o campo, não se sabe onde pode deter-se; mas o medo é mau conselheiro.
 
Isto dito, vamos tentar dar ao Sr., o cura citado mais acima, a resposta à pergunta que propôs. Todavia, não podemos nos impedir de notar que se seu interlocutor não era tão forte quanto ele em teologia, ele mesmo não parecia muito forte sobre o Evangelho. Sua questão retorna àquela que foi posta a Jesus pelos Saduceus; não tinha, pois, senão que se referir à resposta de Jesus, que tomamos a liberdade de lembrar-lhe, uma vez que não a sabe.
 
"Naquele dia, os Saduceus, que negam a ressurreição, vieram encontrá-lo e lhe propuseram uma questão, dizendo-lhe: "Mestre, Moisés ordenou que se alguém morresse sem filhos, seu irmão esposasse sua mulher, e suscitasse filhos ao seu irmão morto. Ora, havia entre nós sete irmãos, dos quais o primeiro, tendo esposado uma mulher, morreu; e não tendo tido filhos, deixou sua mulher ao seu irmão. A mesma coisa ocorreu ao segundo, ao terceiro e a todos os outros até o sétimo. Enfim, essa mulher morreu depois deles todos. Então, pois, que a ressurreição chegue, do qual desses sete seria mulher, uma vez que o foi de todos?
 
"Jesus lhes respondeu: "Estais no erro, não compreendendo as Escrituras nem o poder de Deus; porque depois da ressurreição os homens não terão mulher, nem as mulheres marido; mas serão como OS ANJOS DE DEUS NO CÉU. E pelo que é da ressurreição dos mortos, não lestes estas palavras que Deus vos disse: Eu sou o Deus de Abraão, o Deus de Isaac e o Deus de Jacó? Ora, Deus não é o Deus dos mortos, mas dos vivos." (São Mateus, cap. XXII, v. de 23 a 32.)
 
Uma vez que, depois da ressurreição, os homens serão como os anjos do céu, e que os anjos não têm corpo carnal, mas um corpo etéreo e fluídico, os homens não ressuscitarão, pois, não mais em carne e osso. Se João Batista foi Elias, não é senão uma mesma alma tendo tido duas vestes deixadas em duas épocas diferentes sobre a Terra, e que não se, apresentará nem com uma nem com a outra, mas com o envoltório etéreo próprio ao mundo invisível. Se as palavras de Jesus não vos parecem bastante claras, lede as de São Paulo (1), elas são ainda mais explícitas. Duvidais de que João Batista foi Elias? Lede São Mateus, cap. XI, v. 13, 14, 15: "Porque até João, todos os profetas, tão bem quanto a lei, profetizaram; e se quereis compreender o que vos digo, é ele mesmo que é esse Elias que deve vir. Que ouça aquele que tem ouvidos para ouvir." Aqui não há nenhum equívoco; os termos são claros e categóricos, e para não ouvir é necessário não ter ouvidos, ou querer fechá-los. Sendo estas palavras uma afirmação positiva, de duas coisas uma: Jesus disse a verdade, ou está enganado. Na primeira hipótese, é a reencarnação atestada por ele; na segunda, é a dúvida lançada sobre todos os seus ensinamentos, porque se está enganado sobre um ponto, pôde se enganar sobre os outros; escolhei.
 
Agora, senhor cura, permiti que, ao meu turno, vos dirija uma pergunta, à qual, sem dúvida, vos será fácil responder.
 
Sabeis que a Gênese, assinalando seis dias para a criação, não só da Terra, mas do Universo inteiro: sol, estrelas, lua, etc., havia contado sem a geologia e a astronomia; que Josué havia contado sem a lei da gravidade universal; parece-me que o dogma da ressurreição da carne contou sem a química. E verdade que a química é uma ciência diabólica, como todas as que fazem ver claro ali onde se gostaria que se visse perturbação; mas, embora isso seja de sua origem, ela nos ensina uma coisa positiva, é que o corpo do homem, do mesmo modo que todas as substâncias orgânicas animais e vegetais, é composto de elementos diversos dos quais os princípios são: o oxigênio, o hidrogênio, o azoto e o carbono. Ela nos ensina ainda, - e notai que é um resultado da experiência, - que na morte esses elementos se dispersam e entram na composição de outros corpos, se bem que, ao cabo de um tempo dado, o corpo inteiro é absorvido. Está ainda constatado que o terreno que tem em abundância as matérias animais em decomposição são os mais férteis, e é na vizinhança dos cemitérios que os ímpios atribuem a fecundidade proverbial dos jardins dos Srs. curas do campo. Suponhamos, pois, senhor cura, que as batatas-inglesas sejam plantadas na vizinhança de uma fossa; essas batatas-inglesas vão se alimentar dos gases e dos sais provenientes da decomposição do corpo morto; essas batatas-inglesas vão servir para engordar as galinhas; essas galinhas, vós as comereis, as saboreareis; de tal sorte de que vosso próprio corpo será formado de moléculas do corpo do indivíduo que está morto, e que isso não será menos dele embora tendo passado por intermediários. Teríeis, pois, em vós, partes que pertenceram a um outro. Ora, quando ressuscitardes ambos no dia do julgamento, cada um com vosso corpo, como fareis? Guardareis o que tendes de outro, ou o outro vos retomará o que lhe pertence, ou bem ainda teríeis alguma coisa da batata-inglesa ou da galinha? Questão pelo menos tão séria quanto aquela de saber se João Batista ressuscitará com o corpo de João ou de Elias. Coloco-a em sua maior simplicidade, mas julgai do embaraço se, como isto é certo, tiverdes em vós as porções de cem indivíduos. Está aí, propriamente falando, a ressurreição da carne; mas diferente é a do Espírito, que não leva seu despojo com ele. Vede, adiante, o que disse São Paulo.
 
Uma vez que estamos no caminho de perguntas, eis uma outra delas, senhor cura, que ouvimos fazer por incrédulos; ela é estranha, é verdade, ao assunto que nos ocupa, mas é trazida por um dos fatos narrados acima. Segundo a Gênese, Deus criou o mundo em seis dias, e repousou no sétimo; é esse repouso do sétimo dia que é consagrado pelo do domingo, e cuja estrita observação é uma lei canônica. Se, pois, assim como o demonstra a geologia, esses seis dias, em lugar de serem de vinte e quatro horas, são de alguns milhões de anos, qual será a duração do dia de repouso? Como importância, esta pergunta vale bem as outras duas.
 
Não creiais, senhor cura, que essas observações sejam o resultado de um desprezo das santas Escrituras; não, muito ao contrário; nós lhe damos talvez uma maior homenagem que vós mesmos. Levando em conta a forma alegórica, nela procuramos o espírito que vivifica, ali encontramos grandes verdades, e por ali levamos os incrédulos a nelas crerem e a respeitá-las; ao passo que se prendendo à letra que mata, se lhes faz dizer coisas absurdas e se aumenta o número dos céticos.
 
(1) (São Paulo, 1ª. Ep. aos Coríntios, cap. XV, v. de 35 a 44 e 50.)
 
"Mas alguém me dirá: Em que maneira os mortos ressuscitarão, e qual será o corpo no qual eles retornarão? - Insensatos que sois! não vedes que o que semeais não retorna mais da vida, se não se move antes? e quando semeais, não semeais o corpo da planta que deve nascer, mas somente o grão, como do trigo ou de qualquer outra coisa. Depois de que Deus lhe dá um corpo tal que lhe agrade, e dá a cada semente o corpo que é próprio a cada planta. Toda carne não é a mesma carne; mas outra é a carne dos homens, outra a carne dos animais, outra a dos pássaros, outra a dos peixes.
 
"Há também corpos celestes e corpos terrestres; mas os corpos celestes têm um outro brilho do que os corpos terrestres. O Sol tem seu brilho, que difere do brilho da Lua, como o brilho da Lua difere do brilho das estrelas, e, entre as estrelas, uma é mais brilhante do que a outra.
 
"Ocorrerá o mesmo na ressurreição dos mortos. O corpo, como uma semente, é agora colocado na terra cheia de corrupção, e ressuscitará incorruptível. É posto na terra todo disforme, e ressuscitará todo glorioso. Ele é posto na terra privado de movimento, e ressuscitará cheio de vigor. Ele é posto na terra como um corpo animal e ressuscitará como um corpo espiritual. Como há um corpo animal, há um corpo espiritual.
 
"Quero dizer, meus irmãos, que a carne e o sangue não podem possuir o reino de Deus e que a corrupção não possuirá essa herança incorruptível.


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