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terça-feira, 1 de abril de 2014

A QUESTÃO DA PROPRIEDADE INTELECTUAL DO TEXTO ESPÍRITA

Licurgo Soares de Lacerda Filho

A vida de Chico Xavier foi um exemplo para todos. Um homem simples, amoroso, dedicado ao próximo.
 
Pela quantidade de livros que psicografou, e pela vendagem que os mesmos alcançaram, poderia ter tido uma vida luxuosa, sem preocupações de ordem material.
 
Todos nos sabemos que não foi assim, ele viveu e desencarnou na mais absoluta simplicidade e modéstia. Isto ocorreu porque ele sabia que tinha apenas a autoria mediúnica dos livros que psicografou, e não a autoria intelectual. Por essa razão, ele jamais considerou a hipótese de beneficiar-se da renda com a venda de tais livros.
 
Como sabemos, o mercado de livros espiritas e um sucesso estrondoso. Tendo se tornado um dos mais expressivos, dentre os mercados editoriais. Trata-se de um inegável beneficio para a divulgação do Espiritismo.
 
Todavia, para os autores espiritas, a volumosa vendagem pode tornar-se um desafio considerável, isso se da quando o autor admite a exacerbação da vaidade, distanciando-se do equilíbrio e da consciência de seu papel perante a divulgação da moral e do conhecimento de origem espiritual.
 
Além desse risco, ha de se considerar outro problema, ja que o escritor pode se sentir inclinado a obtenção de renda ou receita com a venda dos textos e obras espiritas.
 
Bem sabemos que o profissional dedicado, que se empenha em sua atividade, pretende obter retorno financeiro. Por outro lado, sabemos que todo o profissional que aufere renda com sua atividade esta sujeito a julgamentos e pressões externas, que interferem direta ou indiretamente no resultado final.
 
No caso do mercado editorial, surgem opiniões, sugestões e ideias de todos os lados; inclusive de interessados em multiplicar seus ganhos, aproveitando modismos. Requer-se, ainda, o cumprimento de prazos em tempo exíguo, para aproveitar oportunidades que surgem.
 
De forma geral, no mercado de livros nacional essas praticas são admissíveis, pois objetivam o aumento das vendas e a projeção dos escritores.
 
Porem, o que se deve pensar quando o autor do texto espirita recebe influencia para alterar sua obra, adaptando-a, ou, ate mesmo, maquiando-a, apenas com o fito de aumentar a vendagem, colocando em risco o que mais importa: a mensagem a ser disseminada? O que se deve pensar quando o esse escritor cede a pressões para apresentar um trabalho em um prazo ínfimo, desprezando o cuidado que se deve dispensar?
 
Lembremo-nos de que quando Kardec pretendia publicar a Revista Espirita ele chegou a pensar em contar com o apoio financeiro do Sr. Tiedeman. Mais tarde, o proprio codificador registraria:
 
(...) Reconheci mais tarde que fora para mim uma felicidade não ter tido quem me fornecesse fundos, pois assim me conservara mais livre, ao passo que outro interessado houvera querido talvez impor-me suas ideias e sua vontade e criar-me embaraços. Sozinho, eu não tinha que prestar contas a ninguém, embora, pelo que respeitava ao trabalho, me fosse pesada a tarefa...
 
Poderá dizer-se que Chico Xavier foi um enviado e Kardec um missionário. Todavia, são necessárias algumas reflexões: a obra espirita deve mudar seu foco, deixando de ser um alento de esperança, para admitir se perder no deserto da materialidade?  O texto espirita deve deixar de lado o objetivo principal. que e ser um farol a iluminar consciências., para se tornar simplesmente uma fonte de rendas?
 
No prefacio da obra A Vida Além do Véu, publicada pela FEB, de autoria mediúnica de George Vale Owen, seu filho, Eustace Owen, refere-se as anotações do escritor Bernard Folk, quando esse descreve o encontro entre Lord Northcliffe e seu pai. Na oportunidade, Northcliffe, o editor do jornal inglêsThe Weekly Despatch, tratava da publicação dos escritos mediúnicos de Owen naquele jornal:
 
"(...) Vale Owen abanou a cabeça. Por aqueles Escritos, disse ele, não poderia receber nenhuma importância.  Considerava.se bem pago pela publicidade que lhe fora dada e por lhe ser confiado o sagrado dever de colocar aquela revelação diante do mundo."
 
Conhecendo perfeitamente a pobreza de Vale Owen, fiquei muito pesaroso por vê-lo recusar o pagamento, porém não houve dissuadi-lo..."
 
As publicações do médium se tornaram um incrível sucesso na Inglaterra. Vale Owen, por sua vez, mesmo com os esforços de Arthur Conan Doyle, que arrecadou fundos para auxilia-lo, recusou ajuda e desencarnou na pobreza, tendo utilizado todos seus recursos financeiros na divulgação dos temas que os espíritos lhe revelaram.
 
Nos dias de hoje não se requer que o autor espiritista abrace a pobreza ou sacrifique o próprio conforto em prol da doutrina.
 
Em nosso entendimento, ele deve obter renda apenas através do exercício de sua profissão e, nessa pratica profissional, quando licito, deve se adaptar a dinâmica do mercado de trabalho, buscando o aperfeiçoamento, visando o consequente aumento dessa renda.
 
Quanto ao texto espirita, seja de origem mediúnica ou não - lembremos que e difícil estabelecer uma fronteira bem definida entre essas duas modalidades de escrita - acreditamos que ele não deve auferir qualquer renda ou receita pessoal, pelos inegáveis riscos a que se submetera e pelos onerosos compromissos que assumira caso adote tal pratica.
 
FONTES: KARDEC, Allan, Obras Póstumas. 40. ed., Rio de Janeiro: Federação Espírita Brasileira, 2009.
OWEN, G. Vale, A Vida Além do Véu. 6.ª ed., Rio de Janeiro: Federação Espirita Brasileira, 1998.



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