a partir de maio 2011

sexta-feira, 7 de março de 2014

Um sentido para a vida

  •  Jaime Facioli
Os contratempos não constituem motivos para a vida perder o sentido, mas a bendita oportunidade para a renovação dos cometimentos da existência.

a ciência da observação não somente se vê, como também se sente no imo d’alma, o desalinho de uma parcela dos irmãos de caminhada, viajando pelas veredas da vida sem se dar o direito de uma análise dos problemas existenciais, sob o pálio das provas e expiações a que todas as criaturas estão sujeitas e, com isso, ver o objetivo e o sentido para a existência preciosa da vida, sempre bela, colorida e consentida.
Bem por isso, pode-se asseverar que uma das dificuldades do ser humano quando moureja no lado escuro da vida é a ausência de sentido que lhe dê um colorido, vendo-a sob a perspectiva do futuro como lecionou o Divino Pastor, prometendo os esplendores celestes. Nesse sentir, observa-se um dos crimes mais violentos que se pode cometer contra as leis divinas expressar-se no suicídio, atingindo todos aqueles que estão entibiados, ainda que sejam jovens dotados de beleza física, com origem em famílias bem estruturadas financeiramente, ilustrando-se nas melhores universidades da vida, mas que se esquecem dos valores d’alma. 
São criaturas possuidoras de todos os recursos materiais que poderia valer-se das oportunidades concedidas pelo Senhor da Vida, serem felizes, aproveitarem a bendita oportunidade da reencarnação e colocarem no coração o suave perfume do Divino Jardineiro, celebrando, homenageando a vida e vivendo feliz. Nada obstante, não é incomum essas criaturas buscarem a morte voluntária, surpreendendo os que se esforçam para ter puro o coração, como ensinou o Homem de Nazaré, porquanto se constata nas estatísticas, verbi e gratia, uma das causas mais frequentes de morte, o suicídio, provocado por criaturas em desalinho, ao eleger viver sem sentido religioso ou o exercício da fé, e da mesma sorte, sem se estimular na prece-poema de São Francisco de Assis que concita aos corações amorosos o “dando que se recebe”.
Com fulcro nesse sentimento, há na redação espírita um relato humanista no capítulo “O ser humano que sofre” inserto no livro O que não está escrito nos meus livros, de Viktor E. Frankl, da editora É Realizações, autêntico exemplo de vida e sentido para a existência daqueles que se deixam levar pelo desânimo, inconformismo e desesperança da vida. O psiquiatra vienense, em uma de suas conferências, contou que, certa feita, foi acordado pelo telefone às três horas da manhã. Do outro lado da linha, uma mulher dizia que acabara de tomar a decisão de se suicidar. 
Ela estava curiosa para saber a opinião dele. Calmamente, ele lhe disse o que sempre existe para se falar contra o suicídio. Durante um largo tempo eles discutiram todos os prós e contras. Por fim, Viktor conseguiu que ela prometesse não fazer nada nas próximas horas e pediu-lhe que fosse ao seu consultório naquela manhã. Pontualmente às nove horas, conforme ele estabelecera, ela apareceu. E confessou: “O senhor vai se enganar doutor, se estiver achando que qualquer um dos argumentos que o senhor me apresentou essa madrugada teve o mínimo efeito sobre mim. Se alguma coisa me impressionou, foi o fato de tirar um homem do seu sono e, em vez de brigar comigo, ele me escutou pacientemente por mais de meia hora. E depois conversamos. A partir daí, cheguei à conclusão de que, se isso existe, então quer dizer que é preciso dar mais uma chance à vida, à continuação da vida”. 
Na mesma fonte, o famoso psiquiatra, criador da logoterapia, considerada a Terceira Escola Vienense de Psicoterapia, contou ainda que, certa manhã, chegou à clínica e cumprimentou um pequeno grupo de professores, psiquiatras e estudantes americanos que estavam em Viena, com o intuito de realizar algumas pesquisas. Ele lhes disse que um programa televisivo nos Estados Unidos escolhera algumas pessoas e lhes pedira que resumissem numa frase o objetivo da vida. “Bem, eu fui selecionado. O que os senhores acham que eu escrevi?”, perguntou Viktor. Todos ficaram pensando até que um estudante respondeu: “O senhor escreveu que o sentido de sua vida era ajudar os outros a ver o sentido de suas vidas”. “Exato – respondeu o médico –, foi precisamente isso que escrevi”.
O sentido da vida, a toda evidência, não se encontra apenas nesse fato humanitário, o relato que foi capaz de estabelecer a relação humana com quem estava enfraquecida momentaneamente, e mais do que isso, salvou uma vida preciosa. Da mesma sorte, essa lição no auxílio ao próximo estende-se também nos versículos 12, do cap. VII e 39 do cap. XXII do Evangelho de Mateus, e no versículo 31, do cap. VI do Evangelho de Lucas, sendo notória a prescrição do médico dos médicos há mais de dois mil anos: “Amai o vosso próximo. Fazei aos homens tudo o que queirais que eles vos façam. Tratai todos os homens como desejai que eles vos tratem”. Sob o fluxo desse sentimento, se nos importarmos com nosso irmão de caminhada, encontraremos o sentido na vida porque sempre haverá uma lágrima para enxugar, um coração para consolar, alguém para agasalhar, um carinho a dar. 
Oh! Meu Deus. A esse respeito, que exemplo foi o legado de Francisco Cândido Xavier para traçarmos os objetivos de nossas vidas: crescer em intelectualidade, mas não esquecer que somos gente, rodeados de gente e que todos ansiamos muito por alguém que se importe conosco. Com esses sentimentos, os desgostos da vida sobrevêm em nossas atuais condições evolutivas, porque as criaturas são propensas a fixar o coração nos fenômenos do mal, extremamente desmemoriados quanto ao bem, à feição de pessoa que preferisse morar dentro de uma nuvem obnubilada, mesmo estando à frente do sol. 
Ligeiro mal-estar obscurece-nos a harmonia interior e adotamos regime de aflição que acaba por atrair-nos moléstia grave, porque apagamos da lembrança os milhares de horas felizes que lhe antecederam o aparecimento, sem perceber que o incômodo diminuto é aviso da natureza para que retomemos posição de equilíbrio. 
Breve desajuste no lar interrompe-nos a alegria, permitindo a presença da revolta em nossos corações, instalando-se perigosos quistos de malquerença no organismo familiar, porque olvidamos de relacionar os tesouros de estabilidade e euforia com que somos favorecidos pelo Pai Celestial, tudo em razão de fazermos ouvidos moucos à realidade de que o problema imprevisto expressa bendita oportunidade de consolidarmos o amor e a tranquilidade no instituto doméstico. 
Insignificante desentendimento reponta na esfera profissional e exageramos o acontecido, lançando perturbação ou incrementando a desordem ao se relegar a justa importância aos dotes inúmeros que já recolhemos do nosso campo de trabalho, na evolução do Espírito na direção do cumprimento da lei do progresso. 
Sem contradita, os contratempos não constituem motivos para a vida perder o sentido, mas a bendita oportunidade para a renovação dos cometimentos da existência, assim como na natureza, a primavera deixa cair as folhas secas para nascerem outras esplendorosas em seu lugar. Jamais em tempo algum se permita as criaturas pôr termo a sua existência, porque o mundo em que vivemos é bênção do Senhor do Universo aos seus filhos para alcançarem os páramos celestiais, é o meio e o caminho para o progresso das criaturas com destino aos esplendores celestes. Toda graça recebida se constitui sentido para a vida e motivo de alegria e satisfação, ainda que haja na estrada a ser percorrida acúleos que necessitam ser suportados ou retirados pela fé sincera e confiança no Senhor do Universo. 


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