a partir de maio 2011

domingo, 19 de janeiro de 2014

Analisemos o espiritismo que estamos praticando

Manifestações de um polêmico


Partindo do princípio que o Espiritismo é uma proposta que sugere sempre a lógica e a coerência, obviamente sem abrir mão da racionalidade, que tal a gente analisar o espiritismo que estamos praticando, dentro dessa racionalidade que se faz necessária?
Sei que algumas pessoas, não muito habituadas a raciocinar, porque vivem acomodadas no “deixa como está, pra ver como é que fica”, vão dizer que é mais uma polêmica do Alamar e até que não deve ser levada a sério, posto que nada que convide o espírita a racionar deve ser levado a sério.
Já que nem todo mundo está inserido nesse universo comodista, ainda bem, e até, pelo contrário, em sintonia com Allan Kardec, porque prefere fazer como ele fazia, que era questionar sempre, pensar sempre e raciocinar sempre, é para esse que eu quero falar.
Você, que é espírita, freqüentador, trabalhador ou dirigente de instituição espírita, já parou para pensar no jeito como o Espiritismo vem sendo praticado?
Calma! Eu não vou ficar aqui dizendo que está tudo errado, porque senão vai ficar muito presunçoso, já que seria o Alamar se achando o conhecedor do Espiritismo e todas as outras pessoas erradas. Depois dos argumentos que vou colocar, é você mesmo quem vai tirar a sua conclusão acerca da forma como muita gente vem praticando o Espiritismo.
Há uma tendência natural da pessoa que freqüenta, ou mesmo que trabalha e até seja dirigente de um centro espírita achar que aquele modelo que é feito naquela casa, que existe muitas vezes há mais de meio século, é correto e que é daquele jeito que o espiritismo deve ser praticado, porque ele é assim mesmo. Afinal de contas, quando ele nasceu aquela casa já existia e “quem sou eu, para dizer como a casa deve ou não deve funcionar”.
É natural isto e nós temos que respeitar.
Afinal de contas, a casa foi fundada por seu Osvaldo Ferreira de Albuquerque, ainda na década de trinta, um dos maiores espíritas daqui da cidade, um homem honesto, bondoso, que passou a sua vida inteira dedicado à caridade, tendo passado uma vida inteira no trabalho dedicado.
Seu Edvaldo era um homem respeitado por todos, até pelo padre, pelo juiz e por todas as autoridades da cidade.
De fato, é constatado que seu Osvaldo era de fato um homem bom e ninguém exagera quando fala dos seus qualificativos morais e humanos.
O estatuto da casa foi elaborado sob a orientação do seu Osvaldo, vários dirigentes e trabalhadores da casa de hoje conviveram com seu Osvaldo, quando ele estava encarnado, e lembra bem dos bons exemplos que ele sempre deu, sobretudo com a tarefa do quilo que realizava todos os sábados, distribuindo farnéis para os pobres dos bairros mais carentes da cidade.
Todo mundo aprendeu o Espiritismo com seu Osvaldo, conforme o jeito que ele fazia e a diretoria de hoje segue a orientação de seu Osvaldo, que hoje é um dos mentores da casa.
Assim é que funciona a maioria dos centros espíritas.
É daí que questionamos:
O fato de um homem ser bom, ser caridoso, viver uma vida distribuindo comida para pobre e até ser fundador de um centro espírita, implica necessariamente que conheça o Espiritismo?
Veja bem. Eu disse que iria escrever uma matéria para pessoas que raciocinam e é sempre bom raciocinar antes de dar a resposta.
Analisemos bem como a coisa acontece na realidade:
Seu Osvaldo de fato passou mais de cinqüenta anos dedicado ao centro espírita, bondoso e caridoso, mas fazendo praticamente a mesma rotina durante anos e anos:
Três reuniões doutrinárias durante a semana; às segundas, quartas e sextas, que eram realizadas num salão que tinha numa parede lateral a placa “O Silêncio é uma prece”, e na do fundo um escrito em tinta preta: “Fora da Caridade não há salvação”. Na frente tinha uma mesa forrada com toalha branca, com três livros em cima dela: “O Evangelho, segundo o Espiritismo”, “O Pão Nosso” e “Conduta Espírita”. Em alguns momentos colocavam outro livro do Emmanuel ou do André Luiz.
Seguiam a seguinte rotina, em todas essas noites:

1 – Prece de abertura da noite de hoje.
2 – Leitura de um trecho de um dos livros de cima da mesa.
3 – Alguns avisos da casa.
4 – Palestra da noite de hoje.
5 – Passe
6 – Água magnetiza.
7 – Prece. Vamos agradecer a Jesus pela noite de hoje.

Nenhum freqüentador pergunta nada, ninguém questiona nada e ainda tem que falar baixo.
Pronto. Todo mundo volta para casa, pra retornar semana que vem para a mesma coisa.
Na quinta-feira é dia da mediúnica. Começa as oito da noite etem que terminar, impreterivelmente, às nove, em nome da disciplina da casa.
Como é feita a mediúnica?
Os primeiros quarenta e cinco a cinqüenta e cinco minutos são dedicados a atender espíritos sofredores, revoltados, perversos, perseguidores e inferiores que deverão ser doutrinados pelos trabalhadores da casa. No pouco tempo que resta, antes que o relógio marque 21:00 horas EM PONTO, a casa se disponibiliza aos espíritos amigos, que se resumem apenas a uma saudação, já que não dispõem de tempo suficiente para diálogos, conversas, orientações e trocas de idéias com os trabalhadores da casa.
Pronto: Assim foi o espiritismo praticado por seu Osvaldo, durante quase cinqüenta anos.
Em sua casa ele tinha a coleção das Obras Básicas, tradução do “Guillon Ribeiro”, da FEB, que ele havia comprado em 1957.
Leu “O Livro dos Espíritos”, há muitos anos, e achou que por já ter lido era o suficiente para dizer que entendia tudo de Espiritismo. No decorrer destes anos, algumas vezes voltou a dar uma lida em alguns capítulos ou questões do livro. Já leu também “O Evangelho, segundo o Espiritismo”, mas esse livro era mais utilizado apenas para ser aberto “ao acaso” nas doutrinárias da semana, a fim da formal leitura do “Santo Evangelho”, para atender bem ao aspecto religioso, apenas um trecho, geralmente aberto no meio.
Ninguém sabe ao certo se ele chegou a ler, a ponto de entender, “O Livro dos Médiuns”, já que alguns procedimentos adotados na casa eram absolutamente contraditórios ao que Kardec ensina através daquele livro. Mas era um homem bom e caridoso.
Seu Osvaldo nunca se dispôs a fazer estudo comparado entre as várias traduções das obras básicas para o Português, primeiro porque ele nunca ouviu falar que isto teria alguma importância, segundo porque se alguém propusesse isto a ele, ouviria que é perda de tempo e que todas as traduções são iguais. A “Revista Espírita” é algo que ele ouviu falar e até soube que era o compêndio de uma TAL revista que Kardec escrevia, mas sem dar maior importância a essa obra e sem jamais passar pela sua cabeça que ela é parte fundamental para o indispensável conhecimento de como o próprio Allan Kardec fazia o Espiritismo.
Pronto. Centenas e milhares de pessoas daquela cidade, que viraram espíritas, trabalhadores e dirigentes, aprenderam o Espiritismoconforme seu Osvaldo Ferreira de Albuquerque e assim foi passando de geração em geração. Nos dias de hoje o modelo daquele antigo centro, assim como de alguns outros que foram criados nos novos bairros que surgiram na cidade, que cresceu muito, durante as décadas, é conforme seu Osvaldo.
Se seu Osvaldo tinha certa admiração por Herculano Pires, por exemplo, provavelmente a obra básica a qual ele lia era tradução do Herculano e os seus seguidores passaram a também ter uma queda pelo velho pai da minha amiga Heloísa.
Mas... pelos valores ensinados pelo Herculano?
Não, porque seu Osvaldo gostava dele.

Assim é formada a maior parte dos espíritas

Mas não dava para essas pessoas freqüentarem, pelo menos de vez em quando, outros centros espíritas?
Não. A orientação da casa é que espírita deve freqüentar apenas UM centro espírita, para evitar problemas de obsessão e desequilíbrio. A maioria teve a sua formação espírita ouvindo isto e, por via das dúvidas, é melhor obedecer esta orientação. Vá que um problema qualquer, por mais simples que seja, surja na sua vida, exatamente no dia seguinte à sua ida ao outro centro: um acidentezinho em casa, o feijão que queimou, uma goteira que surge na casa, uma gripezinha, o pneu do carro que furou ou qualquer coisinha... Vão achar que aquilo aconteceu porque você foi a outro centro.
Provavelmente você ouvirá no seu centro que o outro centro não pratica o espiritismo correto e que não é recomendável.
Mas será que não pratica mesmo?
É que o outro centro talvez seja muito antigo também, fundado pela Dona Conceição Braga, também uma espírita famosa da cidade, mas que não pensava exatamente como seu Osvaldo; mas era também uma mulher boa. Ela interpretava a doutrina conforme a sua ótica, assim como seu Osvaldo interpretava conforme a dele, surgindo daí um conflito de idéias, porque os pontos de vistas não batiam em vários aspectos.
Daí muitas coisas aconteciam.
Se o centro “da Dona Conceição” realizasse algum evento, o centro “do Seu Osvaldo” não apoiava. Alguns palestrantes do centro da Dona Conceição não podem fazer palestra lá no Seu Osvaldo, porque acham que eles são antidoutrinários ou polêmicos.
- Mas por quê Fulano é antidoutrinário, Celso?
- Saber eu não sei, foi Dona Tereza que disse.
Prevalecem os julgamentos com base no disse-me-disse.
Não há base nenhuma para qualificar alguém como antidoutrinário, mas qualificam, pois que não há compromisso com responsabilidade e seriedade.
Os espíritas passam a conceber a idéia de que toda pessoa que faz parte da diretoria de um centro necessariamente é grande conhecedora da doutrina e terminam vivendo esta ilusão. Por outro lado, muitos ocupantes dessas diretorias se comportam como se fossem mesmo conhecedores da doutrina, levantam o queixo, se enchem de autoridade e assim se conduzem.
Quando se fala em diretor de uma federativa, então, aí que essa concepção equivocada se acentua mesmo e passa a ser um problema de cegos se deixarem guiar por cegos.

O que advém daí?

Espiritismos feitos à moda da casa em todas as regiões do País e do exterior também, posto que nos diversos países, à exceção de Portugal, as casas espíritas são fundadas por brasileiros que muitas vezes freqüentavam um centro, tipo do Seu Osvaldo aqui, e para lá vão implantar um espiritismo exatamente conforme o modelo “Seu Osvaldo”. Daí vão praticar tudo o que era praticado ali: Mesa tem que ser forrada com toalha BRANCA, proibição de expositores, proibição de livros, mediúnica de apenas uma hora prioritariamente para atender espíritos sofredores, plaquinha “silêncio é uma prece” na parede, em cima da mesa o Evangelho, o Pão Nosso e Conduta Espírita, todo mundo tendo que se achar um verme, que não vale nada, que foi bandido em encarnação passada, que tá melhor do que merece, que não é nada mais do que um grão de areia, que temos que sofrer para evoluir, que conhecer Allan Kardec não é relevante porque o mais relevante é estudar André Luiz, se Kardec ensinar de uma forma e um espírito outro ensinar de outra, prevalece o que ensina este espírito e não Allan Kardec, etc. etc. etc.
Espíritas odiando obras, seus autores e seus leitores, só porque essas obras apresentam um ou outro tópico que não atendem exatamente a forma como eles pensam sobre um determinado assunto, e, por conta disto, obras proibidas, autores proibidos e ampla campanha de difamação e até calúnias contra eles.
Daí surge também a obrigação da roupa branca para participar das mediúnicas, as proibições de aplausos e elogios, proibições de músicas, não se pode falar em dinheiro na casa espírita, entendimento de que tudo tem que ser dado de graça, confusão de Caridade com esmola, sopa para pobre como expressão da caridade e apologia a uma vida masoquista.

Quais as conseqüências disto?

Espíritas não se entendendo, casas espíritas distanciadas umas das outras, médiuns famosos se odiando uns aos outros, expositor famoso dizendo aos organizadores de evento que só aceita o convite para fazer palestra se outro expositor também famoso não for convidado, todo mundo fingindo que ama todo mundo, fingindo humildade, fingindo compreensão e tolerância, espíritas que odeiam espíritas, porém fazendo palestras e seminários falando em “amor”, “tolerância”, “perdão”, “compreensão”, “indulgência”, “amai ao vosso inimigo”, “Paz”... subestimando a inteligência dos outros, diretorias de casas espíritas tomando decisões imorais mas tendo o cuidado que ninguém saiba que ela tomou aquela decisão, já que o subconsciente denuncia que é imoral e não fica bem o povo saber que ali se pratica imoralidades.
Ao mesmo tempo se vê uma rotatividade enorme de público nas casas espíritas, já que, se este ano chegaram cem frequentadores novos para a casa, ao mesmo tempo saíram cem que não agüentaram mais continuar ali e daqui pro ano que vem certamente deverão chegar mais outros cem e saírem mais cem... e essa rotina vai se repetindo ano a ano, mas fingimos que não vemos.
Todo mundo fingindo que não está acontecendo nada, apenas rotulando como polêmico quem tem coragem de falar sobre este assunto e aí agimos com irresponsável omissão, deixando tudo como está, sem coragem de discutir, não prevendo o que isto pode significar para o futuro do Espiritismo.
Existem centros espíritas realizando trabalhos maravilhosos? Existem sim, não temos dúvidas disto, todavia, infelizmente, não podemos dizer que é a maioria.
Fica, então, esta primeira parte da matéria para reflexão.

ESTA MATÉRIA CONTINUARÁ NA PRÓXIMA MENSAGEM.
            Abração.

                           Alamar Régis Carvalho
       Analista de Sistemas, Escritor e Antares DINASTIA

                         alamarregis@redevisao.net
               www.redevisao.net --- www.canal500.com
                            www.alamarregis.net

               www.partidovergohanacara.com
 www.facebook.com/alamarregis ou www.facebook.com/alamarregis2

Um comentário:

  1. Comentário corajoso, sóbrio, nota-se que o Alamar refletiu sériamente, com a mente aberta, e com espírito de observação apurado. Ele descreveu a verdade, é exatamente o que se passa, fui viajante, conheço quase todo País, pelo menos 80% dele, visitei centenas de centros espíritas, tanto no interior como nas grandes capitais de estados, e só deparei com a mesmice. Gente boa? sim ótimas pessoas, mas despreparadas. Tanto que deixei de frequentar, primeiro que sou cético, ateu desse deus fajuto que dá ordem pra folha seca cair ao sabor do vento, que faz milagres, que perdoa. Ora quem tem obrigação de perdoar somos nós, para sermos felizes, Deus não perdoa, ele é justo, é autor de Leis Universais Imutáveis, não quebra galho em pedidos de ajuda, e por aí a fora. Estou satisfeito e convencido da razão desse esclarecimento do Alamar. Nós Espíritas devemos gratidão a esse irmão corajoso, como se diz no nordeste, cabra macho, que diz o que pensa, e é uma grande verdade!

    ResponderExcluir