a partir de maio 2011

sexta-feira, 8 de novembro de 2013

Rigor doutrinário e ausência de doutrina

LEONARDO MARMO MOREIRA
leonardomarmo@gmail.com 
 
São João Del Rei, MG (Brasil)


Tanto o excessivo rigor doutrinário como a ausência total de critério doutrinário são negativos ao movimento espírita. Por motivos diferentes ambas as atitudes tendem a minar as resistências do grupo na execução do ideal superior associado à tarefa desempenhada.
De qualquer maneira, a ausência de critério doutrinário seria o pior cenário, pois desvincularia a atividade em questão da doutrina espírita propriamente dita, ou seja, tornaria tal trabalho algo “não-espírita”. Em atividades deste tipo, a médio e longo prazos, os adeptos (pelo menos, aqueles que têm no próprio trabalho a principal fonte de informação espírita) tendem a largar o trabalho espírita, pois, muitas vezes sem perceberem já deixaram o ideal espírita muito antes. De fato, o ideal espírita, baseado em um legítimo amor à doutrina, é o que move o indivíduo na busca por novos conhecimentos doutrinários. Isso tende a gerar um círculo virtuoso, pois quanto mais ideal, mais estudo e trabalho; quanto mais estudo e trabalho, mais espiritualidade, e, quanto mais espiritualidade, mais ideal. Na verdade, quando o movimento não tem a doutrina espírita como diretriz, paulatinamente, faz com que o componente que está totalmente enquadrado nessa filosofia de trabalho vá deixando de ser espírita (se é que um dia realmente o foi, pois, para Kardec, em “Obras Póstumas”, os chamados “desertores” do Espiritismo, em verdade, nunca foram realmente espíritas). Portanto, quando as amizades escasseiam, os problemas de relacionamento surgem; as mudanças de cidades minimizam o contato pessoal, e, entre outros processos naturais, que frequentemente ocorrem, os participantes do trabalho tendem a se afastar da tarefa e não necessariamente buscarão outra tarefa no movimento para substituí-la (pelo contrário, provavelmente não procurarão outra atividade), pois, no fundo, eles não têm ideal espírita. Simplesmente estavam apegados àquela tarefa por uma associação de fatores que favoreciam algum tipo de participação. E, nesse contexto, até certo momento a inércia atua mantendo os indivíduos no trabalho, até que a relação custo/benefício não seja mais vantajosa para a continuação do trabalho em questão, o que frequentemente acontece para os indivíduos que não são pessoas realmente espíritas. Não haverá, por conseguinte, um esforço, por parte de “semiconvertidos” na manutenção de um trabalho complicado, pensando nas implicações espirituais, nos compromissos pessoais, no desenvolvimento do movimento espírita, entre outros fatores, pois esses fatores somente são considerados, e têm verdadeiro apelo, para espíritas militantes.
Por outro lado, se os espíritas conscientes forem excessivamente rigorosos na imposição de metas doutrinárias, criarão um ambiente de certa intolerância que será mais nocivo do que benéfico ao movimento, pois a obra espírita é uma obra de educação por excelência, e todo processo educativo demanda tempo para ser empreendido. Realmente, a consciência espírita não será adquirida por decreto.
Logo, os dirigentes espíritas têm graves responsabilidades na diretriz doutrinária que empregam em seus trabalhos, bem como na escalação da equipe para cada tarefa espírita, pois os líderes do movimento são, em maior ou menor grau, formadores de opinião, seja ela espírita ou não. Obviamente, ninguém é dirigente de movimento espírita por acaso, e todos os espíritas conscientes, dirigentes ou não, terão que arcar com as consequências de suas atitudes dentro e fora do movimento espírita, respondendo, por exemplo, pela sua influência doutrinadora ou afastadora da doutrina em relação aos frequentadores de seus trabalhos.
Seria mais conveniente sermos altamente exigentes conosco mesmos, tanto doutrinariamente como, sobretudo, moralmente, e criteriosos para delegar funções (se estivermos em cargos de direção) para confrades realmente comprometidos com a Doutrina Espírita propriamente dita. Se o chamado “núcleo duro” do centro espírita ou evento espírita a que nos dedicamos é formado por pessoas verdadeiramente espíritas, a nossa atuação no movimento poderá ser mais flexível, do ponto de vista das metas doutrinárias, procurando o tão difícil objetivo do bom senso. Isso porque o estudo doutrinário fluirá naturalmente das atitudes, comentários, análises, citações e leituras de todos os componentes desse “centro de coesão doutrinária”. Esse tipo de atuação permitiria um clima agradável no movimento espírita, acessível aos neófitos, mas que direta e indiretamente demonstrasse, de forma inequívoca, os fortes referenciais doutrinários do grupo, os quais não podem jamais ser ignorados por todos os participantes, sem exceção, de quaisquer grupos espíritas. De qualquer maneira, o grupo com maiores responsabilidades saberá “cultivar a planta doutrinária nascente” nos corações daqueles que estão lenta e gradualmente se inteirando dos princípios e ideias espíritas.

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