a partir de maio 2011

quinta-feira, 31 de outubro de 2013

ESPÍRITOS SUPERIORES E LIVRE-ARBÍTRIO

Paulo da Silva Neto Sobrinho



 
“O livre-arbítrio se desenvolve à medida que o Espírito
adquire a consciência de si mesmo”. (LE, q. 122).
 
 
Será que os Espíritos Superiores sempre respeitam nosso livre-arbítrio? Esta questão merece uma reflexão profunda pelo Espiritismo, inclusive com um estudo sobre o que realmente significa o livre-arbítrio.
 
Transcrevemos de nossa palestra “Incorporação por Espíritos” [1], em que demonstramos que Allan Kardec (1804-1869) mudou de opinião a respeito da possibilidade de um Espírito tomar posse física do corpo de um encarnado, o seguinte trecho de A Gênese:
48. – Na obsessão há sempre um Espírito malfeitor. Na possessão pode tratar-se de um Espírito bom que queira falar e que, para causar maior impressão nos ouvintes, toma do corpo de um encarnado, que voluntariamente lho empresta, como emprestaria seu fato [2] a outro encarnado. Isso se verifica sem qualquer perturbação ou incômodo, durante o tempo em que o Espírito encarnado se acha em liberdade, como no estado de emancipação, conservando-se este último ao lado do seu substituto para ouvi-lo.
 
Quando é mau o Espírito possessor, as coisas se passam de outro modo. Ele não toma moderadamente o corpo do encarnado, arrebata-o, se este não possui bastante força moral para lhe resistir.
Fá-lo por maldade para com este, a quem tortura e martiriza de todas as formas, indo ao extremo de tentar exterminá-lo, já por estrangulação, já atirando-o ao fogo ou a outros lugares perigosos. (KARDEC, 2007e, p. 349-351, grifo nosso).
Após explicá-lo, ressaltando a questão de que Kardec passou a considerar a realidade da possessão física, propúnhamos a seguinte questão: um Espírito Superior poderia tomar à força o corpo de um encarnado? Resposta unânime: não! Respondíamos que sim, exemplificando que, caso um Espírito Superior desejasse dar uma mensagem e o médium com o qual ele tem afinidade, por má vontade, não quisesse ceder o seu corpo, certamente, que “tomaria” do corpo dele, daria seu recado, pediria desculpas e iria embora. Argumentávamos que isso poderia ocorrer numa excepcionalidade, na qual o interesse coletivo estivesse acima do individual, fruto de uma analogia a esta questão proposta aos Espíritos contida no Evangelho Segundo o Espiritismo, Cap. X:
21. Haverá casos em que convenha se desvende o mal de outrem?
É muito delicada esta questão e, para resolvê-la, necessário se torna apelar para a caridade bem compreendida. Se as imperfeições de uma pessoa só a ela prejudicam, nenhuma utilidade haverá nunca em divulgá-la. Se, porém, podem acarretar prejuízo a terceiros, deve-se atender de preferência ao interesse do maior número. Segundo as circunstâncias, desmascarar a hipocrisia e a mentira pode constituir um dever, pois mais vale caia um homem, do que virem muitos a ser suas vítimas. Em tal caso, deve-se pesar a soma das vantagens e dos inconvenientes. – São Luís (Paris, 1860.) (KARDEC, 1982, p. 188, grifo nosso).
Com o tempo percebemos que ainda restavam dúvidas, porquanto algumas pessoas justificavam que os Espíritos Superiores respeitam “todas” as nossas decisões, em razão do postulado de que “O Espírito goza sempre do seu livre-arbítrio”. (KARDEC, 2007a, p. 247).
 
Então, nosso problema se resume na questão de termos ou não pleno livre-arbítrio em relação a todos os nossos atos e a tudo que acontece conosco, ou em nossa volta, sem qualquer interferência externa, até mesmo porque, se houver, já não mais estaríamos usando do livre-arbítrio; porém, é bom relembrar o que os Espíritos disseram a Kardec (questão 122): “O livre-arbítrio se desenvolve à medida que o Espírito adquire a consciência de si mesmo”. (KARDEC, 2007a, p. 117), o que nos faz questionar se nós, realmente, temos plena consciência de nós mesmos.O escritor Wilson Czerski (1956- ), fundador da Associação de Divulgadores do Espiritismo do Paraná – ADE-PR, em sua obraDestino: determinismo ou livre-arbítrio?, aborda essa questão da seguinte forma:
O tolhimento ao exercício pleno do livre-arbítrio ocorre externa e internamente. No primeiro caso se faz presente nos determinismos planetário, social, climático, econômico. No segundo, pelo determinismo biológico, na fatalidade gerada pelas próprias escolhas antes de reencarnar; nas consequências originárias da lei de causa e efeito que se impõem muitas delas compulsoriamente e, mais sutilmente, no número restrito e mesmo inexistente de opções.
 
Para alguns há ainda o determinismo psicológico ou do caráter, temperamento, preferência, impulsos e experiências vivenciadas que caracterizam a personalidade. E mais nas influências dos hábitos, da moda etc. Ou seja, fatores que afetam a vida do indivíduo e não estariam sob seu controle. Em resumo diríamos que se trata do conteúdo de nossa bagagem palingenética e evolutiva. […]. (CZERSKI, 2012, p. 107-108).
São considerações bem interessantes que nos explicam que nosso livre-arbítrio não é pleno, como na maioria das vezes pensamos ser. Fatores externos podem nos levar aceitar alguma coisa que não foi exatamente uma escolha nossa, mas de outras pessoas:
[…] embora teoricamente sejamos livres para escolher a religião que mais nos convém, nem sempre isso acontece. Há a influência familiar – pais e cônjuges –, dos amigos. E uma vez tornados adeptos, no mais das vezes, somos conduzidos realmente como um rebanho pelos líderes até o ponto do sacrifício físico (flagelações, peregrinações, jejuns e abstinências, inclusive sexual, e até da própria vida), econômicas (dízimos ou muito além dele), sociais (hábitos, rejeição a outros grupos), psicológicos e morais. Em certos casos há evidente manipulação da inteligência e exploração fanática. (CZERSKI, 2012, p. 118-119).
Muitos, mesmo enquadrando-se em algumas situações do contexto acima, dirão que escolheram livremente a sua religião.
 
Outro questionamento que faremos é: será que conseguiremos realizar uma ação que prejudique alguém se esse alguém, na sua programação reencarnatória, não tenha que passar por aquilo que lhe queremos fazer? Exemplificando: uma pessoa resolvesse matar uma outra que não tem, como carma, morrer assassinada. Conseguiria ela realizar o seu intento ou os Espíritos Superiores interviriam para evitar que esse fato ocorresse? Entendemos que não, e, portanto, nesse caso, o nosso livre-arbítrio sofreria algum obstáculo para que tal morte não se efetivasse.
 
Por outro lado, em catástrofes naturais ou mesmo as provocadas pelo próprio homem, várias pessoas, por ocorrências banais (provável ação dos Espíritos), são tiradas ou impedidas de irem à cena do evento. Um exemplo que temos na memória foi o ataque às torres gêmeas do World Trade Center, em New York, acontecido na manhã do dia 11 de setembro de 2001, onde morreram 2.753 pessoas (WIKIPÉDIA). Algumas pessoas, em depoimentos, disseram que não foram trabalhar por detalhes que lhes aconteceram no fatídico dia: não achou a chave do carro, perdeu o ônibus, demorou a encontrar um táxi, um pai morto apareceu à filha, etc. Esse último prova a interferência direta do plano espiritual, o que de certa forma, apesar do benefício a essa possível vítima, s.m.j., tolheu-lhe o livre-arbítrio.
 
Em resposta à questão 262a, os Espíritos disseram a Kardec:
“Deus […] pode impor determinada existência a um Espírito, quando este, pela sua inferioridade ou má vontade, não se mostra apto a compreender o que lhe seria mais útil, e quando vê que tal existência servirá para a purificação e o progresso do Espírito, ao mesmo tempo que lhe sirva de expiação”. (KARDEC, 2007a, p. 198, grifo nosso).
Mais à frente, Kardec volta ao assunto:
337. Pode a união do Espírito a determinado corpo ser imposta por Deus?
“Certo, do mesmo modo que as diferentes provas, mormente quando ainda o Espírito não está apto a proceder a uma escolha com conhecimento de causa. Por expiação, pode o Espírito ser constrangido a se unir ao corpo de determinada criança que, pelo seu nascimento e pela posição que venha a ocupar no mundo, se lhe torne instrumento de castigo.” (KARDEC, 2007a, p. 223, grifo nosso).
Ora, então estamos todos subordinados à vontade de Deus e disso resulta que a nossa submissão ao que Ele deseja é incontestável; portanto, é mais um ponto do qual concluímos que nosso livre-arbítrio não pode ser pleno.
 
O constrangimento também pode ocorrer em relação aos Espíritos maus que, às vezes, são coagidos pelos Espíritos superiores a se manifestarem em reuniões mediúnicas, conforme se comprava nestes dois trechos da Revista Espírita, anos 1859 e 1864, respectivamente:
[…] Sabeis que esses Espíritos não vêm ao nosso chamado senão como constrangidos e forçados, e que, em geral, encontram tão pouco do seu meio entre nós, que sempre têm pressa de irem. […]. (KARDEC, 1993e, p. 179, grifo nosso)
 
[…] Somente certos culpados vêm com repugnância, e, nesse caso, eles não são ali constrangidos pelo evocador, mas por Espíritos superiores, tendo em vista seu adiantamento. […]. (KARDEC, 1993h, p. 387, grifo nosso).
Essas informações constam de O Livro dos Médiuns, cap. XXV – Das evocações, item 282 - Perguntas sobre as evocações, questões 9ª e 10ª. (KARDEC, 2006, p. 257).
 
Concordamos com o escritor espírita José Martins Peralva (1918-2007), cuja opinião foi de que devemos entender que: “O livre-arbítrio não é absoluto, mas, sim, relativo – relativo à posição ocupada pelo homem na escala dos valores espirituais”. (PERALVA, 1987, p. 201).
 
Em Nosso lar, encontramos a mãe de André Luiz dizendo-lhe: “[…] Relativamente à liberdade irrestrita, a alma pode invocar esse direito somente quando compreenda o dever e o pratique. […]” (XAVIER, 1995, p. 256). Aliás, na série “André Luiz”, há vários momentos nos quais se fala de reencarnação compulsória, como por exemplo, em Libertação:
[…] Contudo, existem, ainda, nos setores da luta humana, milhões de renascimentos de almas criminosas que tornam ao mergulho da carne premidas pela compulsória do Plano Superior, de modo a expiarem delitos graves. Em ocorrências dessa ordem, a individualidade responsável pela desarmonia reinante converte-se em centro de gravitação das consciências desequilibradas por sua culpa e assume o comando dos trabalhos de reajustamento, sempre longos e complicados, de acordo com os ditames da Lei. (XAVIER, 1987, p. 99, grifo nosso).
É digno de nota que casos como estes, nas obras de André Luiz, só vêm confirmar o que consta de O Livro dos Espíritos. Para nós, o fato da reencarnação ser compulsória já indica que não houve consentimento do reencarnante na escolha e programação de sua reencarnação, como geralmente é praxe acontecer aos que voltam à vestimenta física, conforme nos informa esse autor espiritual.
 
Em No mundo maior, encontramos duas situações nas quais julgamos não ser respeitado o livre-arbítrio dos envolvidos.
 
A primeira, no capítulo 13 – Psicose afetiva, trata do caso de Antonina que, por desilusão amorosa, decide dar cabo à sua vida. Só não o consegue graças à intervenção do assistente Calderaro, que, na noite em que ela pretendia se suicidar, a submeteu a um passe magnético, levando-a a uma hipnose profunda, o que fez com que sua alma emancipasse; e, nesse momento, foram levados a seu encontro dois Espíritos – o de sua mãe e o de um amigo de longas eras –, que a aconselharam a desistir da ideia. Após acordar, já mais disposta e com outro ânimo, ela não mais pensava no assunto, resolvendo carregar a sua cruz.
 
A segunda, no capítulo 14 – Medida salvadora, o envolvido foi Antídio, em que Calderaro lhe impôs, como medida drástica, uma enfermidade pela qual ficaria preso ao leito por alguns meses, para evitar que ele fosse parar num hospício, dado que o alcoolismo de que era vítima o fazia “delirar” ao se libertar um pouco do corpo e, com isso, ter contato com algumas entidades que o atormentavam e o utilizavam como uma “taça viva”. Essa ação de Calderaro foi movida em atenção às intercessões da esposa e dos dois filhos de Antídio.
 
Acreditamos que em ambos os casos o livre-arbítrio dos envolvidos foi tolhido a bem deles mesmos, julgamos que, com mais forte razão, isso acontecerá todas as vezes em que estiver em jogo o interesse coletivo.
 
Na pergunta 459 de O Livro dos Espíritos, Kardec indaga: “Influem os Espíritos em nossos pensamentos e em nossos atos?”. Obteve como resposta: “Muito mais do que imaginais. Influem a tal ponto, que, de ordinário, são eles que vos dirigem.” (KARDEC, 2007, p. 277). Se, como aqui colocado, de ordinário os Espíritos nos dirigem, então, não é impróprio concluir que realmente não somos tão livres quanto achamos; muitas de nossas ações são reflexos de suas interferências em nossos pensamentos e, por conseguinte, nossas vidas.
 
Não resta dúvida a nenhum de nós a ação dos Espíritos maus em nossas vidas; porém, pelo teor da resposta, que não restringiu somente a eles a condição de nos dirigirem, podemos estendê-la, também aos bons, que, visando o nosso progresso espiritual, às vezes interferem, estorvando nosso livre-arbítrio a favor de nós mesmos, já que ainda não temos completa noção de nossa responsabilidade perante certos acontecimentos em nossas vidas.
 
Especificamente, quanto aos Espíritos maus, algo interessante consta em O Evangelho Segundo o Espiritismo, Cap. XXVII – Preces Espíritas, no exemplo de prece pelos obsidiados: “O auxílio destes se faz indispensável, quando a obsessão degenera em subjugação e em possessão, porque aí não raro o paciente perde a vontade e o livre-arbítrio”. (KARDEC, 1982, p. 452, grifo nosso). Se os maus podem tolher o nosso livre-arbítrio, por que motivo os bons também não poderiam, quando precisassem nos ajudar?
 
No mesmo sentido, encontramos na resposta à pergunta 501, a qual transcrevemos:
Por que é oculta a ação dos Espíritos sobre a nossa existência e por que, quando nos protegem, não o fazem de modo ostensivo?
“Se vos fosse dado contar sempre com a ação deles, não obraríeis por vós mesmos e o vosso Espírito não progrediria. Para que este possa adiantar-se, precisa de experiência, adquirindo-a frequentemente à sua custa. É necessário que exercite suas forças, sem o que, seria como a criança a quem não consentem que ande sozinha. A ação dos Espíritos que vos querem bem é sempre regulada de maneira que não vos tolha o livre-arbítrio, porquanto, se não tivésseis responsabilidade, não avançaríeis na senda que vos há de conduzir a Deus. Não vendo quem o ampara, o homem se confia às suas próprias forças. Sobre ele, entretanto, vela o seu guia e, de tempos a tempos, lhe brada, advertindo-o do perigo.” (KARDEC, 2007a, p. 293, grifo nosso).
A afirmação aqui destacada nos pareceu contrária à anterior (pergunta 459), sendo no sentido de que os Espíritos Superiores nada faz nos apontam na direção de que interferem, sim.
 
Em O Consolador, o autor espiritual explica alguma coisa sobre o tema:
133
– Havendo o determinismo e o livre-arbítrio, ao mesmo tempo, na vida humana, como compreender a palavra dos guias espirituais quando afirmam não lhes ser possível influenciar a nossa liberdade?
 
Não devemos esquecer que falamos de expressão corpórea, em se tratando do determinismo natural, que prepondera sobre os destinos humanos.
 
A subordinação da criatura, em suas expressões do mundo físico, é lógica e natural nas leis das compensações, dentro das provas necessárias, mas, no íntimo, zona de pura influenciação espiritual, o homem é livre na escola do seu futuro caminho. Seus amigos do invisível localizam aí o santuário da sua independência sagrada.
 
Em todas as situações, o homem educado pode reconhecer onde falam as circunstâncias da vontade de Deus, em seu benefício, e onde falam as que se formam pela força da sua vaidade pessoal ou do seu egoísmo. Com ele, portanto, estará sempre o mérito da escolha, nesse particular. (XAVIER, 1986, p. 84-85).
Entendemos que, segundo Emmanuel, só exercemos o livre-arbítrio na escolha do futuro caminho, já que muito dos nossos sofrimentos e dificuldades atuais já são efeitos do seu uso em outras existências; por isso, torna-se, para nós, um determinismo.
 
Ainda resta-nos apresentar o que encontramos em O Livro dos Médiuns. É o que faremos agora, transcrevendo do cap. XXI – Influência do meio o seguinte trecho do item 231:
2. Os Espíritos superiores não podem vencer a má vontade do Espírito encarnado que lhes serve de intérprete e dos que o cercam?
– Sim, quando o julgam útil, e segundo a intenção da pessoa que os consulta. Já o dissemos: os Espíritos mais elevados podem às vezes comunicar-se, para um auxílio especial, malgrado a imperfeição do médium e do meio, mas, então, estes lhe permanecem completamente alheios. (KARDEC, 2006. p. 207, grifo nosso).
A não ser que estejamos totalmente equivocados, isso vem justamente corroborar o que dissemos, ou seja, que um Espírito superior vence a má vontade do médium, quando julgar útil a sua manifestação.
 
Vejamos agora algo importante, sobre o que talvez muitos de nós espíritas não tenhamos o mínimo conhecimento, mas que julgamos oportuno para reavaliarmos o nosso conceito de livre-arbítrio ou qual é o grau de autoridade que os Espíritos superiores têm sobre cada um de nós. Trata-se de um trecho da entrevista de Francisco Cândido Xavier (1910-2002) realizada por Geraldo Lemos Neto (1962- ), em 17 de junho de 1988, publicada no O Espírita Mineiro, nº 205, de abr/jun de 1988, conforme consta do livro Chico Xavier, um mandato de amor:
[…] Fiquei muito admirado e as tarefas prosseguiram. Quando alcançamos o número de 100 volumes publicados, voltei a consultá-lo sobre o termo de nossos compromissos. Ele esclareceu, com bondade: “Você não deve pensar em agir e trabalhar com tanta pressa. Agora, estou na obrigação de dizer a você que os mentores da Vida Superior, que nos orientam, expediram certa instrução que determina seja a sua atual reencarnação desapropriada, em benefício da divulgação dos princípios espíritas-cristãos, permanecendo a sua existência do ponto de vista físico, à disposição das entidades espirituais que possam colaborar na execução das mensagens e livros, enquanto o seu corpo se mostre apto para as nossas atividades”.
 
Muito desapontado, perguntei: então devo trabalhar na recepção de mensagens e livros do mundo espiritual até o fim da minha vida atual? Emmanuel acentuou: “Sim, não temos outra alternativa!” Naturalmente, impressionado com o que ele dizia voltei a interrogar: e se eu não quiser, já que a Doutrina Espírita ensina que somos portadores do livre-arbítrio para decidir sobre os nossos próprios caminhos? Emmanuel, então, deu um sorriso de benevolência paternal e me cientificou: “A instrução a que me refiro é semelhante a um decreto de desapropriação, quando lançado por autoridade na Terra. Se você recusar o serviço a que me reporto, segundo creio, os orientadores dessa obra de nos dedicarmos ao Cristianismo Redivivo, de certo que eles terão autoridade bastante para retirar você de seu atual corpo físico!” Quando eu ouvi sua declaração, silenciei para pensar na gravidade do assunto, e continuo trabalhando, sem a menor expectativa de interromper ou dificultar o que passei a chamar de “Desígnios de Cima”. (UEM, 1992, p. 259-260, grifo nosso).
Observe, caro leitor, que não resta dúvida de que o nosso querido Chico Xavier foi constrangido a executar a obra de divulgação da doutrina; portanto, ele não pôde exercer o seu livre-arbítrio, coisa que até questionou a seu mentor Emmanuel. Resignado, assume essa nobre missão, à qual se dedicou com muito amor e responsabilidade, aceitando, inclusive, os sofrimentos que passaria em razão disso. Um exemplo que todos nós, os espíritas, deveríamos seguir.
 
E, para finalizar, trazemos as considerações de Paulo Henrique Wedderhoff (? - ), professor da Faculdade Doutor Leocádio José Correia – FALEC, constante do artigo “Voo TAM 3054 – acaso, destino ou livre-arbítrio?”:
Precisamos pensar mais profundamente sobre o assunto, e tentar construir uma resposta que sobreviva ao teste da lógica e seja coerente com o que sabemos dos princípios doutrinários do espiritismo. Entre eles destacamos o princípio do livre-arbítrio. Este princípio não significa que temos controle de tudo, mas que somos responsáveis sobre os desdobramentos daquilo que está sob o nosso controle. O Espiritismo entende que livre-arbítrio é o espírito agindo no limite do seu conhecimento e sendo responsável na medida do seu entendimento. (WEDDERHOFF, 2008, p. 8).
Acreditamos que assiste razão ao nobre professor, pois talvez o que precisamos mesmo é refletir mais profundamente sobre o assunto. Na atual condição de Espíritos, vivendo em um planeta de provas e expiações, podemos dizer que nem saímos do cueiro, ou seja, somos ainda crianças, espiritualmente falando.
 
Portanto, nosso livre-arbítrio é bem relativo e se Espíritos eternos. Livre-arbítrio pleno somente os Espíritos puros o têm, por já possuírem conhecimento moral e intelectual para decidir o que é melhor para eles e também para os que lhes seguem as pegadas, uma vez que nessa condição são os fiéis executores do cumprimento da vontade de Deus.

[1] http://www.paulosnetos.net/index.php/viewdownload/8-palestras-em-slides/406-incorporacao-por-espiritos-possessao-1-5hs  e http://www.paulosnetos.net/index.php/viewdownload/5-artigos-e-estudos/30-incorporacao-por-espiritos .

[2] Roupas, veste(s), vestuário, segundo o Dicionário Aurélio.
 
Paulo da Silva Neto Sobrinho
Jul/2013
 
Referências bibliográficas
:
CZERSKI, W. Destino: determinismo ou livre-arbítrio?. Capivari, SP: EME, 2012.
KARDEC, A. A Gênese. Rio de Janeiro: FEB, 2007e.
KARDEC, A. O Evangelho Segundo o Espiritismo. Rio de Janeiro: FEB, 1982.
KARDEC, A. O Livro dos Espíritos. Rio de Janeiro: FEB, 2007a.
KARDEC, A. O Livro dos Médiuns. São Paulo: Lake, 2006.
KARDEC, A. Revista Espírita 1859. Araras, SP: IDE, 1993e.
KARDEC, A. Revista Espírita 1864, Araras, SP: Ide, 1993h.
PERALVA, J. M. O Pensamento de Emmanuel. Rio de Janeiro: FEB, 1987.
UNIÃO ESPÍRITA MINEIRA - UEM. Chico Xavier, mandato de amor. Belo Horizonte: UEM, 1992.
XAVIER, F. C. Libertação. Rio de Janeiro: FEB, 1987.
XAVIER, F. C. No Mundo Maior. Rio de Janeiro: FEB, 1984.
XAVIER, F. C. O Consolador. Rio de Janeiro: FEB, 1986.
https://pt.wikipedia.org/wiki/World_Trade_Center, acesso em 24.07.2013, às 18:04hs.
WEDDERHOFF, P. H. Voo TAM 3054 – acaso, destino ou livre-arbítrio? In Documentos SBEE, nº 28. Curitiba: Sociedade Brasileira de Estudos Espíritas, 2008, p. 8-9, disponível pelo link: http://www.sbee.org.br/documentos/Doc_28-V1.pdf, acesso em 26.07.2013, às 07:44hs.
 
 
Este texto foi publicado:
– Revista Espiritismo & Ciência Especial nº 65. São Paulo: Mythos Editora, set/2013, p. 14-24.
 
 
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