O que você quer ver?
Durante as entrevistas que fiz com teólogos e historiadores para a publicação de meu documentário, Jesus e Cristo - O Nascimento de um Mito,
entre tantos relatos, uma certa colocação feita por um teólogo, chamou a
minha atenção. Ele disse: "Liszt, pode a ciência provar que Jesus não
nasceu em Belém, e sim em Nazaré, mas o meu Cristo da Fé sempre nascerá
na manjedoura em Belém, e será visitado pelos magos!"
Eu pensei, "que lindo!" Bem, diante daquela frase, pensei depois em
desistir, mas insisti e lhe disse: "Nem se achássemos o registro dele em
um cartório na Galileia?" Ele sorriu... e respondeu: "Nem assim, pois o
que eu faria com a minha crença?"
E continuei a entrevista...
A maior dificuldade na pesquisa da História Antiga, realmente é com as
fontes. Quando se dispõe de uma cultura material, ou seja, artefatos, e
ao lado disso quando ainda temos documentos, ou apenas um dos dois, as
pesquisam ganham maior produtividade. Entretanto, o conflito entre o
Jesus Histórico e o Cristo da Fé, faz aparecer uma outra dificuldade, e
esta é de natureza íntima. As nossas crenças milenares, as ideias
cristalizadas, os preconceitos tornam-se grandes empecilhos não mais
para uma aprendizagem, mas neste caso para a reaprendizagem. E
reaprender é bem mais difícil do que aprender! As resistências
psicológicas criadas ao longo de muitos anos, agarradas à maneira de
pensar, sentir, crer e agir fazem-nos pessoas acomodadas na zona de
conforto e ao mesmo tempo, amedrontadas diante do desconhecido.
No filme, O Sexto Sentido, o Dr. Malcon Crowe interpretado pelo
ator Bruce Willys tenta ajudar um garotinho que se diz vidente,
interpretado pelo Haley Joel Osment. O Dr. Malcon acredita que o menino é
portador de alucinações visuais e auditivas. O garoto referindo-se aos
mortos, diz ao Dr Malcon: "eles veem o que querem ver!"
Até que ponto também, em vida, vemos o que queremos ver?
Até que ponto também, em vida, vemos o que queremos ver?
Diante disso, a expectativa de querer se fazer compreender, é imediatamente frustrada, pois cada um faz o que quer, dá o que tem, e caminha até onde enxerga. Por outro lado, a busca é individual, ao mesmo tempo pode ser solidária, entretanto os ventos só entram em nossa casa quando abrimos as janelas e as portas. Estar receptivo à chegada de novas informações, não é uma questão simples de ter acesso a elas, mas de inquietar-se, incomodar-se, estar com as janelas da alma abertas.
As pesquisas em torno do Jesus Histórico, nos sopram vindas da Europa desde o século XVIII. Neste tempo, aqui no Brasil, estávamos extinguindo ainda as capitanias hereditárias, envoltos na revolução dos Mascates em Olinda e Recife ou descobrindo ouro no Mato Grosso. Entre os séculos XIX e XX, mais de sessenta mil textos foram produzidos apenas sobre Jesus, e nós estávamos preocupados com nossa independência "utópica", negociando escravos e proclamando a República.
Atualmente, Jesus é mais conhecido nas Universidades do que entre os próprios cristãos que lotam as Igrejas e Instituições. No Brasil, se multiplicam no Rio de Janeiro e em São Paulo as pesquisas em torno do Nazareno. Quanto mais ignorarmos o Homem Jesus, menos compreenderemos sua mensagem. Quanto mais insistirmos em manter os olhos fechados por medo de ver a paisagem que se desenha a nossa frente, mais alienados nos tornamos mediante os avanços que o progresso assinala, trazendo-nos novas luzes.
Independente de nossa vontade, de nossa crença e de nossa resistência em não querer ver, os fatos não deixam de existir, e dia chegará em que os ventos se tornarão mais fortes, e não conseguiremos nos manter no lugar de sempre por muito tempo! O conhecimento chega para nos trazer mudanças, impulsionar a marcha, ampliar o nosso horizonte, e assim aumentar nossas responsabilidades. Lembrando Jesus, "se fôsseis cegos não teríeis pecado, mas agora dizeis que vedes e é por isso que vosso pecado permanece em vós!"
Ver significa assumir nova postura. Não querer ver, é negar-se às mudanças, especialmente a de reconhecer humildemente a ignorância e o erro!
http://lisztrangel.blogspot.com.br/2013/09/o-que-voce-quer-ver.html
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