Escreve:
Gláucio Coelho GrijóEm: Julho de 2013
Não podemos mais permitir que
grupos e homens inescrupulosos, com sua loucura pelo lucro, comandem a
sociedade e a nossa forma de viver, onde o dinheiro compra tudo, inclusive o
tempo, a consciência e a honra.
Vivemos neste começo de século
em um mundo extremamente conturbado e acima de tudo, em crise. Crises
financeiras, nas estruturas sociais e de valores. Segundo o sociólogo e
filósofo Edgar Morin (2012) – em entrevista recente ao “Le Mond
Diplomatique” – o capitalismo financeiro, sua dominação e o
fanatismo étnico-racial são graves males da atualidade [1]. Além destes,
poderíamos incluir o dinheiro – ditando quase todas nossas relações – o
hiperconsumismo, o individualismo das pessoas, a aceleração do ritmo em
nossas vidas e a constatação de que os avanços tecnológicos não tornaram
nossas vidas mais tranquilas e indolores, apesar das inegáveis comodidades
que eles nos proporcionaram.
No atual cenário as empresas
transnacionais [2] não param de crescer e engolir os concorrentes em todo o
planeta, aumentando ainda mais a riqueza de seus acionistas majoritários em
contrapartida ao crescente abismo entre os mais ricos e o restante da
população. Com a desculpa de “reduzir os custos” e “aumentar à
produtividade” os norte-americanos e europeus deslocaram sua produção
manufatureiras para a Ásia, onde prevalecem os baixos salários, câmbio
desvalorizado e alta produtividade, aponta Belluzo (2012) [3]. Sem falar da
exploração da mão de obra, especialmente na China.
Esses fatores, principalmente
a concorrência desleal dos produtos chineses, geraram a destruição dos
pequenos artesãos, do operariado organizado e a quebra das pequenas fábricas
em todo o mundo, com reflexos acentuados nos Estados Unidos e Europa e, é
claro, na indústria brasileira. Resultado: desemprego, queda dos salários,
diminuição dos melhores postos de trabalho e dos direitos trabalhistas. Além
do mais, essas holdings [4] e transnacionais, juntamente com os
governos dos países mais “ricos” e “desenvolvidos” tratam o meio-ambiente
com total desrespeito, basta constatar o fracasso da Rio+20 [5].
E mais, a mobilidade do
capital financeiro, a concentração do capital produtivo, a especulação
financeira, imobiliária e rural que assolam os países, geram ainda mais
desigualdades e concentração de riqueza. As crises nos Estados Unidos e
Europa têm em grande parte origem nas políticas neoliberais, no sistema
financeiro que entrou em parafuso entre 2007-2008, e não apenas na má
condução dos Estados e nas conquistas de direitos sociais que os países
europeus realizaram no pós-guerra promovendo um Estado de bem-estar social,
como pregam a grande mídia, o Fundo Monetário Internacional, União Européia
e o Banco Central.
Estes utilizam a justificativa
de que suas populações tinham muitos direitos sociais e o Estado gastava
demais, tudo isso para justificar as medidas de “austeridade” impostas pelos
financiadores dos mais endividados e “gastadores”. Estas medidas, como se
sabe, estão massacrando os europeus, principalmente do sul, agravando ainda
mais os conflitos étnico-raciais e com aumento excessivo do desemprego – na
Espanha já está na casa dos 25% –, além da perda de direitos conquistados
através da história, deixando o cidadão sem proteção social. E o que é pior,
a ausência de perspectiva de futuro para grande parte das pessoas, gerando
mais frustração e desesperança, o que tem elevado o número dos casos de
suicídio.
Hoje, em nossa sociedade, o
tempo parece não ser o mesmo de nossos avós. A cada dia temos a sensação de
que o tempo passa mais depressa, temos sempre que estar “ocupados” e
“produtivos”. O economista e romancista Fernando Trias de Bes (2006)
sustenta que há três tipos de aceleração que se combinam: a aceleração
técnica (internet, smartfones, etc.), a aceleração social (troca-se mais de
emprego, mudam-se os objetivos), e a aceleração do ritmo de vida (dorme-se
menos, fala-se mais rápido, compartilha-se menos com os mais próximos). [6]
As comunicações, segundo ele, são cada vez mais intermediadas por celulares
e outros. Há um isolamento com a falsa sensação de interatividade com
“todos”. Entretanto, se conectar e se comunicar não são o mesmo, alerta o
escritor argentino Sergio Sinay (2012). Segundo ele “A comunicação é o
oposto, pois requer presença, compromisso, maturidade, exige que a pessoa
encare o mundo, os riscos do encontro e do desencontro”. Isso exige
mais tempo, e parece que as pessoas não querem “perdê-lo”. [7]
Aproveitar “ao máximo” o tempo
é a lógica da rentabilidade da atividade econômica, onde o “concorrente não
dorme jamais” se estendem a todos os ramos de nossas vidas, explica Bes.
Devemos entender que a concepção de tempo foi forjada pela ética capitalista
e de origem protestante. Essa forma de encarar nosso tempo vem influenciado
nossa maneira de gerenciá-lo. Hoje, o tempo é medido pelo que conseguimos
financeiramente e pelos bens materiais que conquistamos, ou seja, se nosso
“gasto” de tempo nos tornará “bem sucedidos” ou não.
Brincar com os filhos,
escrever um artigo, fazer uma poesia para a pessoa amada, passear, praticar
exercícios físicos, se alimentar em horários regulares e com calma, prestar
serviço voluntário, cuidar das coisas da alma, fazer o que realmente nos dá
prazer e satisfação, sem a preocupação com o retorno financeiro, parece
impossível ou antiprodutivo. Todos nós, sem exceção, já sentimos um pouco de
remorso quando ficamos no ócio ou relaxados. O preço para tanta correria já
sabemos: doenças crônicas, medicações, internações, limitações físicas e
distúrbios psíquicos, e por que não dizer, a obsessão.
O mais paradoxal é constatar
que a evolução tecnológica, que trouxe indiscutíveis avanços para a
sociedade, não foi capaz de nos proporcionar mais tempo livre, como
prometido. Pergunte a uma mulher – com múltiplas responsabilidades – que
possuí todas as novidades em eletrodomésticos em seu lar, se ela tem mais
tempo para ficar com a família ou fazer o que gosta. Ela vai dizer que não.
Esse tempo, talvez, tenha sido transferido para o trabalho fora de casa ou
para o trânsito, esperando por horas dentro de seu belo automóvel, afinal,
quantos mais carros na rua melhor, segundo a lógica do consumo.
É natural, em uma civilização
que gire em torno desses “valores”, transformarem as pessoas em seres
individualistas, competitivos e alienados. A busca pelo prazer sexual
desenfreado, o culto exagerado ao corpo, o hiperconsumismo, o abuso de
álcool - principalmente entre os jovens - são valores a todo o momento
estimulados pela publicidade e pelos meios de comunicação, sejam através dos
livros, novelas, filmes, videoclipe e reality shows. Afinal, geram lucros e
movimentam o consumo, contribuindo para o “desenvolvimento” das nações. Como
consequência, vemos a desestruturação das famílias, o aumento de viciados em
drogas, cada vez mais danosas, com repercussões funestas para a sociedade e
para o Estado.
Hoje, acima de tudo, o
dinheiro dita as relações de poder, de vida familiar, de gênero e idade,
sendo o grande intermediador das relações entre os atores e anulando sua
personalidade, transformando associações em simples associações
instrumentais cuja lógica é o lucro, afirma Simmel (1978), este sociólogo
alemão diz ainda que: “O dinheiro esvazia o núcleo das coisas,
transforma objetos tangíveis em mercadorias comuns, a exemplo a consciência
e a honra, que até então não se podia comprar”. [8] A corrupção é um
exemplo disso, sejam nas empresas privadas ou no poder público, ela reflete
uma doença social.
Para Morin “A humanidade
está ameaçada por toda essa loucura da busca pelo lucro, por toda essa
insanidade fanática”. Segundo ele há uma crise no pensamento político,
da capacidade de análise da sociologia mundial e há uma falta de
referências, seja no ocidente ou no oriente. Ou seja, faltam pessoas e
organizações que “pensem” em um novo modelo de sociedade. Sugiro a leitura
da questão 793 de O Livro dos Espíritos (*). Lá o
leitor encontrará a opinião dos espíritos e de Allan Kardec sobre o
assunto.
Isto posto, podemos chegar à
conclusão que atravessamos um momento de intensa crise existencial. Nós,
espíritas e humanistas, não podemos deixar que grupos e homens com
interesses escusos e egoísticos ditem como devemos nos comportar, pensar,
sonhar e viver. Não podemos admitir que o dinheiro e o lucro pessoal sejam o
fim de tudo. Precisamos marcar espaço no cenário político e nos meios de
comunicação, seja na TV, rádio, imprensa ou mídias sociais. Urge mostrarmos
nossa visão de mundo, porque outras instituições, grupos econômicos e
igrejas – principalmente as pentecostais e neopentecostais - estão cada vez
mais tomando um espaço importante na sociedade e, principalmente, nos campos
midiático e político-partidário. Algumas com ideias extremamente
reacionárias e conservadoras, o que é mais preocupante.
Gostaria de propor uma
reflexão. Qual nosso papel na atual crise? Que tipo de sociedade queremos
para viver? Acredito que já é hora de refletirmos seriamente sobre isto,
porque nesse debate estamos ficando para trás.
CITAÇÕES
[1] - Edgar
Morin: Nasceu em Paris, em 8 de julho de 1921. Sociólogo e
filósofo. É diretor de pesquisa emérito do Centro Nacional de Pesquisa
Científica. Doutor honoris causa por mais de trinta universidades. Possui
mais de 60 livros publicados. Citado por Baba, S.Caccia. O futuro da
humanidade. “Le Monde Diplomatique Brasil”, São
Paulo, 65 dez. 2012, p.14.
[2] - Empresas
Transnacionais: Uma empresa transnacional não tem capital social
pertencente qualquer país em particular e não domina necessariamente o
processo de produção na sua totalidade. Um certo produto pode, dentro deste
sistema, ter os seus componentes produzidos em diversas regiões do mundo e
montados numa localidade específica. Isto acontece principalmente sob uma
economia "globalizada", em que as empresas procuram a redução dos
custos.
[3] - Belluzo,
L.Gonzaga. Capital financeiro e desigualdade. “Le Monde
Diplomatique Brasil”, São Paulo, 65 dez. 2012,
p.16.
[4] - Holding ou
Sociedade Holding: Em português Sociedade Gestora de Participações
Sociais (SGPS), é uma forma de sociedade criada com o objetivo de
administrar um grupo de empresas (conglomerado). A holding administra e
possui a maioria das ações ou quotas das empresas componentes de um
determinado grupo. Essa forma de sociedade é muito utilizada por médias e
grandes empresas e normalmente visa melhorar a estrutura de capital, ou é
usada como parte de uma parceria com outras empresas..
[5] - Rio
+20: A Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento
Sustentável (CNUDS), conhecida também como Rio+20, foi uma conferência
realizada entre os dias 13 e 22 de junho de 2012 na cidade brasileira do Rio
de Janeiro, cujo objetivo era discutir sobre a renovação do compromisso
político com o desenvolvimento sustentável. Considerado o maior evento já
realizado pela Nações Unidas, o Rio+20 contou com a participação de chefes
de estados de cento e noventa nações que propuseram mudanças, sobretudo, no
modo como estão sendo usados os recursos naturais do planeta.
[6] - Fernando Trias
de Bes: autor de O Vendedor de tempo, Paris, 2006. Citado por
Chollet, M. Batalha silenciosa pela tempo. “Le Monde
Diplomatique Brasil”, São Paulo, 65 dez. 2012,
p.36.
[7] - Sergio Sinay é
jornalista, escritor, consultor, especialista em Sociologia e pesquisador
dos vínculos humanos. Citado por Lucas, V. Os vampiros dos jovens.
“Sociologia”, São Paulo, 44 dez. 2012, p.11.
[8] - Georg
Simmel: (Berlim, 1° de março de 1858 - Estrasburgo, 28 de setembro
de 1918) foi um sociólogo alemão. Professor universitário admirado pelos
seus alunos, sempre teve dificuldade em encontrar um lugar no seio da rígida
academia do seu tempo. Dentre suas obras está a Filosofia do Dinheiro.
Citado por Assis, K. Gomes. Dinheiro vivo. Sociologia, São Paulo, 44
dez/jan. 2013, p.15.
Gláucio Coelho Grijó, enfermeiro pós-graduado em Saúde Pública e Bacharel em Comunicação, foi presidente da Mocidade Espírita Estudantes da Verdade (MEEV) do C.E. Allan Kardec, de Santos-SP, onde atuou de 1985 a 2007. Natural de Santos/SP, reside em Brasília/DF desde 2008. Atualmente é Servidor Público da Secretaria de Saúde do Distrito Federal. E-mail: gcgrijo@hotmail.com
(*) 793. Por que
sinais se pode reconhecer uma civilização completa?
-- Vós a reconhecereis pelo desenvolvimento moral. Acreditais estar muito adiantados por terdes feito grandes descobertas e invenções maravilhosas; porque estais melhor instalados e melhor vestidos que os vossos selvagens; mas só tereis verdadeiramente o direito de vos dizer civilizados quando houveres banido de vossa sociedade os vícios que a desonram e quando passardes a viver como irmãos, praticando a caridade cristã. Até esse momento não sereis mais do que povos esclarecidos, só tendo percorrido a primeira fase da civilização.
NOTA DE ALLAN
KARDEC: A civilização tem os seus graus, como todas as coisas. Uma
civilização incompleta é um estado de transição que engendra males
especiais, desconhecidos no estado primitivo, mas nem por isso deixa de
constituir um progresso natural, necessário, que leva consigo mesmo o
remédio para aqueles males. A medida que a civilização se aperfeiçoa, vai
fazendo cessar alguns dos males que engendrou, e esses males desaparecerão
com o progresso moral.
De dois povos que tenham chegado ao
ápice da escala social, só poderá dizer-se o mais civilizado, na verdadeira
acepção do termo, aquele em que se encontre menos egoísmo, cupidez e
orgulho; em que os costumes sejam mais intelectuais e morais do que
materiais; em que a inteligência possa desenvolver-se com mais liberdade; em
que exista mais bondade, boa-fé, benevolência e generosidade recíprocas; em
que os preconceitos de casta e de nascimento sejam menos enraizados, porque
esses pré-juízos são incompatíveis com o verdadeiro amor do próximo; em que
as leis não consagrem nenhum privilégio e sejam as mesmas para o último como
para o primeiro; em que a justiça se exerça com o mínimo de parcialidade; em
que o fraco sempre encontre apoio contra o forte; em que a vida do homem,
suas crenças e suas opiniões sejam melhor respeitadas; em que haja menos
desgraçados; e, por fim, em que todos os homens de boa vontade estejam
sempre seguros de não lhes faltar o necessário.
O Livro dos
Espíritos - Obra codificada por Allan
Kardec
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Muito interessante seu blog Milton é importante saber sobre esse assunto da crise social ha espero suas visitas em um dos meus blogs acessa aí e por seus comentarios tbm
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grato
junior