a partir de maio 2011

domingo, 18 de agosto de 2013

É melhor não lembrar

 •  Cláudio Bueno da Silva
Qual a necessidade de se conhecer o que fomos e o que fizemos em vidas passadas?

O esquecimento das vidas passadas é um “dispositivo de segurança” que Deus criou para proteger o homem dos seus próprios delitos.
Se for verdade que reencarnamos, que vivemos muitas vidas, que já tivemos experiências anteriores, por que não nos lembramos? Para aqueles que não têm intimidade com a filosofia espírita é aceitável o questionamento. Mas, para os espíritas que estudam as leis universais, é mais fácil compreender.
É preciso que se faça aqui uma pergunta: qual a necessidade de se conhecer o que fomos e o que fizemos em vidas passadas? Se Deus criou esse “dispositivo” bloqueador das lembranças, é porque ele é útil, é para o nosso bem. 
Muitos podem achar que esse esquecimento tira o proveito das experiências vividas. Não é assim que o Espiritismo ensina. Nós sabemos que, muito comumente, reencarnamos junto a pessoas com quem já vivemos anteriormente. Se lembrássemos de detalhes de nossas ações antigas, o que ocorreria no âmbito familiar e social em que estamos inseridos hoje?
Se a pessoa recordasse, por exemplo, que foi importante, que deteve poder e fortuna ou teve influência junto às massas, isso fatalmente lhe acenderia o orgulho e provavelmente a vontade de retomar, nesta vida, tudo aquilo que o encantou ou iludiu. Se reconhecesse diante de si uma pessoa a quem prejudicou severamente, é quase certo que se sentiria humilhada. Os casos de incompatibilidade se multiplicariam, reacendendo ódios, revanches, intolerâncias... As lembranças dos atos passados afetariam demais nosso comportamento atual e interfeririam nas nossas decisões, causando um efeito oposto ao que se espera do núcleo familiar e das relações sociais, ou seja, aproximação entre seus membros, cooperação mútua, reconciliação, entendimento...
Todavia, os espíritas sabem que esse esquecimento se dá apenas no estado de vigília (e nem sempre é absoluto), pois à noite, no desprendimento da alma durante o sono, podem refluir algumas recordações que nos sejam importantes para reforçarmos nossos compromissos assumidos para esta existência.
Além disso, Deus criou em nós recursos que nos auxiliam a não perdermos de todo o fio da nossa trajetória de vida, enquanto encarnados. Um deles é a voz da consciência. Autêntica norteadora dos nossos atos, ela delimita o que é certo ou errado, aponta que caminhos são favoráveis ou não à nossa vida. Ajuíza sobre a nossa conduta. Nos mostra o que temos de corrigir e superar em nós. A voz da consciência é um “manual” de autoconsulta moral.
Outro recurso que responde às nossas indagações sobre o passado são as tendências instintivas. Quer ter uma ideia do que foi, do que fez? Consulte suas tendências de agora. De lá para cá podem ter mudado um pouco, mas não o suficiente para não deixar rastros. As imperfeições que a alma já superou com o tempo e as experiências reencarnatórias, não são trazidas para a existência nova. A alma traz o que acumulou em si e o que ainda tem de ruim para se desfazer. Se quisermos saber o que fomos e fizemos, basta olhar no espelho da consciência e consultar as tendências que nos caracterizam: impulsividade, agressividade, irreflexão, intolerância, soberba etc. Não se pode ignorar, contudo, que o adiantamento conquistado mostra também tendências positivas a nosso favor. Mas o fato de vivermos em planeta de expiações e provas as torna consideravelmente reduzidas, pelo menos para a imensa maioria de nós. 
Temos aqui, duas fontes que nos dão “notícias” do nosso passado e servem de bússola para o nosso adiantamento: a voz da consciência e as tendências instintivas. É o que nos basta, por enquanto. Importa olhar para frente e melhorar. O que é útil e necessário para nós Deus nos concedeu. Quanto a detalhes, minúcias, curiosidades... é melhor não lembrar.

- Leia mais sobre o assunto em O Evangelho Segundo o Espiritismo, cap.V - “Esquecimento do passado”.

http://www.oclarim.org/site/

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