a partir de maio 2011

terça-feira, 7 de maio de 2013

O necessário e o supérfluo

•  Ricardo Orestes Forni
A Natureza não traçou o limite das nossas necessidades em nossa organização? Sim – ensinam os Espíritos – mas o homem é insaciável.

“715 – Como pode o homem conhecer o limite do necessário? (L.E.)
– O sábio o conhece por intuição. Muitos o conhecem por experiência e às suas custas.”

“As necessidades básicas fisiológicas são sempre acompanhadas de novas exigências, porque logo perdem a função. Aquelas de natureza psicológica superior se desdobram em variantes inumeráveis, que não cessam de proporcionar beleza.” – Joanna de Ângelis.

A revista VEJA, edição 2309 de 20 de fevereiro de 2013, em suas páginas 96 e 125, traz duas reportagens que documentam bem o quanto o homem sai, constantemente, do necessário e corre para o supérfluo por sua livre e espontânea vontade. Na reportagem da página 125, toda a ferocidade contida ainda no ser humano é representada pela foto que mostra a matança de crocodilos em Luisiania, Estados Unidos da América. O animal irracional se debate para fugir à morte que não deseja. O animal racional – o homem – demonstra o quanto ainda é capaz de vivenciar a fúria que tem dentro de si agredindo com desespero o irracional que tenta fugir, em vão, à morte. Quando ocorre uma discussão seguida de tragédias em brigas de trânsito; quando o pedófilo ataca a sua vítima; quando um pai violenta a própria filha; quando uma mulher abandona o recém-nascido; quando um filho arquiteta a morte dos próprios pais, nos espantamos! Por que o espanto se a fúria está, lamentavelmente, dentro de nós? O animal irracional ataca para preservar o seu território ou para saciar a sua fome. O animal racional – o homem – ataca a sua presa para saciar os seus instintos não dominados ou pelo dinheiro, como exemplifica a foto da reportagem. O animal racional ataca e sente-se um grande vencedor sem sequer perceber que nada mais fez do que revelar aquilo de que ainda é capaz! De quanta fúria ainda detém dentro de si mesmo! A carne de crocodilo irá saciar a gula de apetites vorazes que representam uma espécie de fúria interior. A não ser que exista alguma vitamina descoberta recentemente e que seja indispensável à sobrevivência do ser humano. E o couro do animal dará lucros gordos! Eis o raciocínio para a matança. E quando essa animalidade furiosa que ainda caracteriza o ser humano se derrama contra outro ser humano nos espantamos e indagamos, estupefatos, pelos motivos do por que isso ocorre! Como se o homem vivesse próximo dos reinos angelicais à semelhança de cordeiros injustiçados.
A outra violência revelada pela reportagem já foi divulgada por diversos canais de televisão, quando a carne de cavalos velhos, sem serventia para a tração ou para o transporte, vira hambúrgueres, lasanhas, espaguetes e sabe-se lá mais o quê. Em época de guerras que comprometeram a alimentação, o homem lançou mão da carne equina para atender aos carnívoros. Mas qual é a guerra atual que exija tal comportamento? A morte de javalis, capivaras, crocodilos, cobras, coelhos, patos e tudo quanto mais a gula do ser racional exigir, violenta os seres da criação. Todo ato de violência exigirá o retorno ao equilíbrio porque o equilíbrio é da Lei. E quando esse retorno ao equilíbrio exigir a presença da dor na sua forma individual ou coletiva, clama-se aos céus, clama-se contra Deus.
O ser humano – ensina Joanna de Ângelis em seu livro Vida: Desafios & Soluções – estabeleceu como necessidades próprias da sua vida aquelas que dizem respeito aos fenômenos fisiológicos, com toda a sua gama de imposições: alimentação, habitação, agasalho, segurança, reprodução, bem-estar, posição social. Poderemos denominar essas necessidades como imediatas ou inferiores, sob os pontos de vista psicológico e ético-estético. Inevitavelmente a conquista dessas necessidades não plenifica integralmente o ser e surgem aqueloutras de caráter superior, que independem dos conteúdos palpáveis, imediatos: a beleza, a harmonia, a cultura, a arte, a religião, a entrega espiritual. Toda herança antropológica – continua Joanna – se situa nos automatismos básicos da sobrevivência no corpo, na luta com as demais espécies, na previdência mediante armazenamento de produtos que lhe garantam a continuação da vida, na procriação e defesa dos filhos, da propriedade... Desenhadas – prossegue ela – no seu mundo interior essas necessidades básicas, indispensáveis à vida, entrega-se a uma luta incessante, feita, muitas vezes, de sofrimento sem termos, por lhe faltarem reflexão e capacidade de identificação do real e do secundário.
Gostaríamos de encerrar com a questão 716 de O Livro Dos Espíritos: A Natureza não traçou o limite das nossas necessidades em nossa organização? Sim – ensinam os Espíritos – mas o homem é insaciável. A Natureza traçou o limite de suas necessidades em sua organização, mas os vícios alteraram sua constituição e ele criou para si necessidades que não são reais.
E na busca feroz para saciar o ser insaciável, extrapola do necessário para o supérfluo semeando toda espécie de desequilíbrios que agendam os sofrimentos educativos de que cada ser se faz necessário.

http://www.oclarim.org/site/

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