a partir de maio 2011

domingo, 28 de abril de 2013

O fogo bíblico inextinguível é como cicatriz para o Espírito


A linguagem bíblica é geralmente simbólica. Não se deve, pois, tomar o símbolo pelo simbolizado e nem um texto simbólico como sendo literal. A imagem de um santo não é o santo. O fogo do inferno e do purgatório é esotérico ou figurado, como o da sarça ardente e do Pentecostes, e não exotérico, que é o fogo comum.
A mensagem bíblica é de amor, e é do mundo dos Espíritos para nós, os quais têm por chefe Deus. “Deus é o Pai dos Espíritos.” - Hebreus 12:9. Se ela nos lembra de Deus, e se Deus é amor, temos realmente que vê-la como um documento de amor – e não de ódio, medo e vingança. E Espíritos encarnados e desencarnados escreveram a Bíblia, pois eles trabalham no projeto divino (Hebreus, 12:14). Ela fala em anjos, mas anjos são Espíritos de alto nível de evolução. E a palavra anjo (“aggelos”, em grego, e “ângelus” em latim) significa mensageiro ou enviado. Quando, pois, um Espírito de evolução elevada se manifesta, ele é para nós um mensageiro do bem, pelo que dizemos de Deus.
Tudo que Deus criou vai dar certo. Se só um Espírito humano se perdesse irremediavelmente, sem esperança de regeneração, Deus teria fracassado no seu projeto da criação humana, que seria imperfeito – o que é incompatível com a obra de Deus. Falando simbolicamente, será que Deus vai perder a batalha do bem contra o mal, com o diabo? Jamais isso acontecerá. E diabo (“diabolos”, adversário ou símbolo do mal, em português) não é Espírito. Ele é adversário de nosso Espírito, que é imagem e semelhança de Deus. Já demônios são Espíritos e humanos (“daimones”, em grego). Mas como Jesus nunca tirou um demônio bom das pessoas, pois um demônio (alma) bom não obsidia ninguém, com o tempo, os teólogos passaram a entender que todo demônio é mau e como sendo de outra categoria de Espírito. E cooperou com essa mudança de sentido dos demônios o fato de que ninguém queria ser demônio! E observemos que Jesus nunca tirou diabo ou satanás de ninguém, mas demônios ou Espíritos impuros (ainda não purificados).
Orígenes, um dos maiores biblistas e teólogos do Cristianismo primitivo, ensinou a tese da Apocatástase (evolução e regeneração dos demônios), exatamente porque eles são Espíritos humanos e não, como já foi dito, outra categoria de Espíritos. A metáfora da queda dos anjos rebeldes (2 Pedro, 2:4) diz que eles foram precipitados no abismo (a Terra). Eles foram enviados para aqui, em novas reencarnações, para se regenerarem. Não nos esqueçamos de que os teólogos do passado, às vezes, interpretavam a Bíblia, às avessas, antropomorfizando Deus, que era visto por eles como um ser humano com todas as suas mazelas: raivoso, justiceiro e vingativo. Só mais tarde é que eles passaram a entender que Deus é amor, luz, o único ser incontingente, de São Tomás de Aquino, e inteligência suprema e causa primeira de todas as coisas, de Kardec.
Se tudo que Deus faz é bom e dá certo, o que parece um mal pode estar simbolizando um bem. E Deus sabe até tirar do mal o bem. São Paulo (1 Coríntios, 3:15) diz: “Se a obra de alguém se queimar, sofrerá ele dano; mas esse mesmo será salvo, todavia, como que através do fogo”.
Realmente, o fogo bíblico é simbólico. É como uma cicatriz da ferida purgatorial, purificadora do Espírito, pelo que ela é bendita e fica para sempre!
JOSÉ REIS CHAVES
jreischaves@gmail.com
Belo Horizonte, MG (Brasil)

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