a partir de maio 2011

domingo, 16 de dezembro de 2012

Traço que une dois mundos


 
Davilson Silva 

Mas o que temos de mais e de mais poderoso, em nós mesmo, é o sentimento de nossa própria individualidade. E se esta individualidade desaparece com a consciência, fogo-fátuo que se desfaz, luz que brilha um momento e logo se apaga na tempestade do cosmos, neste caso, que valor tem para nós a existência? Que valor tem o todo para uma consciência que deve ter como certa a sua total extinção? — Farias de Brito (1862/1917) 


Que valor tem o todo para uma consciência que deve ter como certa a sua total extinção? Bem colocado pelo escritor e filósofo brasileiro, Raimundo Farias de Brito, cearense da cidade de São Benedito, um dos maiores nomes do pensamento filosófico do País.
Os chamados “mortos” que de mortos não têm é nada, em todas as épocas, produziram um grande e persistente esforço a fim de entrarem em contato com os chamados “vivos” que, pensando bem, são mais mortos que vivos... Eles vêm fazendo com que a Humanidade se desapegue da matéria como se isso fosse um meio, e não um fim, em prol do próprio futuro ulterior dela. Através dos sonhos ou de aparições, pelo processo psicográfico, pelo psicofônico e por outros meios, eles sempre quiseram acordar os homens dessa lamentável letargia.
Conta Epicteto, filósofo grego, pertencente à Escola Estóica, que Pirro (o rei, e não o cético) tinha plena convicção de não haver diferença entre a vida e a morte. Quando alguém lhe perguntou por que ele não se matava, respondeu: “Ora! Por que exatamente não há diferença”.

Latente em todos

E não há mesmo diferença. Quis o Criador que houvesse um traço que unisse a existência espiritual com a física para que tomássemos conhecimento dessa similitude mencionada pelo antigo rei do Épiro e da Macedônia. Por isso, Deus programou na criatura humana, estando ela viva no corpo físico ou fora dele, a mediunidade, faculdade latente em todo indivíduo para que todos tivessem correta ideia do Mundo Espiritual.

Mestre Allan Kardec escreveu sobre tão complexo e fascinante assunto:
Toda pessoa que sente a influência dos Espíritos, em qualquer grau de intensidade, é médium. Essa faculdade é inerente ao homem. Por isso mesmo não constitui privilégio e são raras as pessoas que não a possuem pelo menos em estado rudimentar. Pode-se dizer, pois, que todos são mais ou menos médiuns. Usualmente, porém, essa qualificação se aplica somente aos que possuem uma faculdade mediúnica bem caracterizada, que se traduz por efeitos patentes de certa intensidade, o que depende de uma organização mais ou menos sensitiva. (O Livro dos Médiuns, Allan Kardec, tradução de José Herculano Pires, capítulo 16, item 159.)

Coisa santa que não se deve cobrar

Agora, vejamos o que pensa o insigne mestre francês de Lyon sobre o exercício da mediunidade:

A mediunidade é uma coisa sagrada, que deve ser praticada santamente, religiosamente. (O Evangelho segundo o Espiritismo, A. Kardec, trad. J. Herculano Pires, capítulo 26, item 10.)

Infere-se daí que não se deve tornar objeto de comércio, de modo direto ou indireto, qualquer meio, tais como a vidência, a clarividência, a psicofonia, a psicografia e, principalmente, a mediunidade curadora. O médium não pode fazer da sua faculdade ofício pago nem de trampolim para auferir quaisquer benefícios pessoais, pois, de uma hora pra outra, podem desacreditá-lo e taxá-lo de charlatão. Isso ocorre quando ele primeiro se envaidece, achando-se "escolhido do Senhor", portanto, acima do Bem e do Mal, o que lhe agrava o prejuízo ante a inexorável lei de causa e efeito.

Se o sensitivo tira algum tipo de proveito, Espíritos sérios que o assistem, com certeza, dele se afastam. Ele fica vulnerável, à mercê daqueles descomprometidos com o bem, com a verdade, com a moral cristã, ou seja, os Espíritos mistificadores, alguns dos quais fanáticos ou apenas zombeteiros, incluindo-se obsessores vingativos. Segundo os que da mediunidade se valem com força moral, os Espíritos ilustres e bondosos, o processo mediúnico, ou medianímico, não é arte ou produto de uma habilidade adquirida. Instável, fugidia, variável, ninguém pode dizer-se dono absoluto da sua faculdade (ou faculdades), contando com ela a torto e a direito, isto é, sem o devido preparo e discernimento que só a orientação espírita pode oferecer.

Por isso o mestre aconselhou a não se utilizar em hipótese alguma da mediunidade como profissão, e sim como meio de ajuda aos necessitados, de esclarecimento aos que querem ter "olhos de ver", enfim, de  benefício a todos. Inclusive, cobrar direta ou indiretamente pelas preces feitas em favor de enfermos é um ato indecoroso, isso é também contrário à Lei de Deus. Aquele que desejar subir na vida, procure outro meio que não seja a mediunidade, a ela se dedicando, se necessário, o tempo de que possa dispor nos momentos de folga, conforme propôs Kardec.

http://pensesp.blogspot.com.br/

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