Davilson Silva
Mas o que temos de mais e de mais poderoso, em nós mesmo, é o sentimento de nossa própria individualidade. E se esta individualidade desaparece com a consciência, fogo-fátuo que se desfaz, luz que brilha um momento e logo se apaga na tempestade do cosmos, neste caso, que valor tem para nós a existência? Que valor tem o todo para uma consciência que deve ter como certa a sua total extinção? — Farias de Brito (1862/1917)
Que valor tem o todo para uma consciência que deve ter como certa a sua total extinção? Bem colocado pelo escritor e filósofo brasileiro, Raimundo Farias de Brito, cearense da cidade de São Benedito, um dos maiores nomes do pensamento filosófico do País.
Conta Epicteto, filósofo grego, pertencente à Escola Estóica, que Pirro (o rei, e não o cético) tinha plena convicção de não haver diferença entre a vida e a morte. Quando alguém lhe perguntou por que ele não se matava, respondeu: “Ora! Por que exatamente não há diferença”.
Latente em todos
E não há mesmo diferença. Quis o Criador que houvesse um traço que unisse a existência espiritual com a física para que tomássemos conhecimento dessa similitude mencionada pelo antigo rei do Épiro e da Macedônia. Por isso, Deus programou na criatura humana, estando ela viva no corpo físico ou fora dele, a mediunidade, faculdade latente em todo indivíduo para que todos tivessem correta ideia do Mundo Espiritual.
Mestre Allan Kardec escreveu sobre tão complexo e fascinante assunto:
Coisa santa que não se deve cobrar
Agora, vejamos o que pensa o insigne mestre francês de Lyon sobre o exercício da mediunidade:
A mediunidade é uma coisa sagrada, que deve ser praticada santamente, religiosamente. (O Evangelho segundo o Espiritismo, A. Kardec, trad. J. Herculano Pires, capítulo 26, item 10.)
Infere-se daí que não se deve tornar objeto de comércio, de modo direto ou indireto, qualquer meio, tais como a vidência, a clarividência, a psicofonia, a psicografia e, principalmente, a mediunidade curadora. O médium não pode fazer da sua faculdade ofício pago nem de trampolim para auferir quaisquer benefícios pessoais, pois, de uma hora pra outra, podem desacreditá-lo e taxá-lo de charlatão. Isso ocorre quando ele primeiro se envaidece, achando-se "escolhido do Senhor", portanto, acima do Bem e do Mal, o que lhe agrava o prejuízo ante a inexorável lei de causa e efeito.
Se o sensitivo tira algum tipo de proveito, Espíritos sérios que o assistem, com certeza, dele se afastam. Ele fica vulnerável, à mercê daqueles descomprometidos com o bem, com a verdade, com a moral cristã, ou seja, os Espíritos mistificadores, alguns dos quais fanáticos ou apenas zombeteiros, incluindo-se obsessores vingativos. Segundo os que da mediunidade se valem com força moral, os Espíritos ilustres e bondosos, o processo mediúnico, ou medianímico, não é arte ou produto de uma habilidade adquirida. Instável, fugidia, variável, ninguém pode dizer-se dono absoluto da sua faculdade (ou faculdades), contando com ela a torto e a direito, isto é, sem o devido preparo e discernimento que só a orientação espírita pode oferecer.
Por isso o mestre aconselhou a não se utilizar em hipótese alguma da mediunidade como profissão, e sim como meio de ajuda aos necessitados, de esclarecimento aos que querem ter "olhos de ver", enfim, de benefício a todos. Inclusive, cobrar direta ou indiretamente pelas preces feitas em favor de enfermos é um ato indecoroso, isso é também contrário à Lei de Deus. Aquele que desejar subir na vida, procure outro meio que não seja a mediunidade, a ela se dedicando, se necessário, o tempo de que possa dispor nos momentos de folga, conforme propôs Kardec.
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