a partir de maio 2011

domingo, 14 de outubro de 2012

O QUE É MITOLOGIA?


....Mitologia tem dois conceitos básicos: de um lado considerado o conjunto de lendas imaginado por um povo e, de outro, o estudo destas lendas propriamente dita. A palavra mitologia vem da língua grega mythos, significando fábula para nós, e logos, significando tratado. Na prática, o entendimento de fábula mítica não induz o mito como uma ficção do Homem imaginativo. Em qualquer narração mítica, em seu mais profundo significado, esconde-se um aspecto, uma massa de idéia que determina alguma verdade. Já a fábula mostra os acontecimentos somente imaginativos que, a priori, não modifica a condição humana em si. O mito conta uma verdadeira história, mesmo que representada ou distorcida, na medida que tange o ser como ser e o ser como Homem. O mito, em resumo, é um conjunto de histórias explicativas das coisas da natureza e do Homem, cujas coisas o próprio homem não entende.
.....Entender que ser mortal, ser organizado em leis, viver buscando a perfeita ordem, ser obrigado a trabalhar para viver e submetido aos acontecimentos imprevistos que independem da vontade própria sob uma perspectiva “fabulada”, uma perspectiva imaginária, não significa fugir de maneira nenhuma da verdade próxima.

.....O povo helênico criou uma das mais geniais e perfeitas concepções do inexplicável que o Homem já pensou até nossos dias. Os gregos, refletindo e tentando explicar os fenômenos naturais, povoaram o céu e a terra, os mares e as profundezas da terra. Adoradores da ordem, estruturaram uma curiosa e precisa graduação intermediária e colocaram em lugares estratégicos os deuses, semideuses e heróis. Como hábeis observadores, criaram nomes e figuras, representando assim, as mais diferentes forças da natureza e os mais latentes anseios do Homem.
.....Na realidade, a mitologia criada pelos gregos, nada mais é que uma representação da vida cotidiana inexplicável da época. Até os dias atuais a mitologia grega mantém sua alegria, equilíbrio e serenidade.
.....Foi, desde seu início, a base de toda a literatura e arte e, através dos séculos, se manteve como uma musa inspiradora. Neste sentido, toda a cultura ocidental deve-lhe, e muito, seu espírito e seu sentido, até mesmo, em tese, sua existência como a conhecemos hoje.
.....Apesar dos gregos terem sido um povo, de certa maneira desunido politicamente, sem determinar algum estado sólido, sem constituir um grande império, tiveram em larga escala uma contemplação da vida de maneira real, do mundo como mundo e do Homem como Homem, ao ponto de se perguntarem: Qual é a origem dos seres? De onde eles vêm? Para onde vão?
....."Do não existente, nada pode nascer e nada pode desaparecer no nada absoluto."
(Empédocles - 495a.C.). 
.....O nada para os antigos gregos era impensável e inconcebível.
.....Com as imensa diferenças existentes no mundo e para as tantas diferenças entre os seres animados e seres inanimados, seria impossível, na concepção antiga, um único deus conceber tudo sem uma justa explicação. As diferentes formas com diferentes e múltiplas funções em níveis e graus sem fim, levou o povo grego a conceber e acreditar em uma família de deuses com os mesmos anseios e desejos do Homem. Neste raciocínio, conceberam o Caos, massa única e já existente. O caos não tem a conotação de desordem ou plena confusão que esta palavra nos faz pensar hoje. Os deuses, de alguma maneira e por algum deleito, nasceram e prosperaram dentro do Caos. A terra, massa condensada do Caos, que ao perceber o céu, massa latente, apaixonou-se e, de seu amor originou as chamadas divindades primordiais. O Caos, ao conceber a terra, deixou em suas entranhas uma gama de poderes geradores, que engendraram todas as formas existentes na sua superfície, tais como os seres vegetais e animais, conquanto, cada qual traz em si o seu próprio dáimon (força misteriosa). Toda manifestação de vida era gerada por essa força interior; cada qual com seu dáimon específico.
.....É na memória mítica que se preservou a história da criação do mundo, dos homens, e dos múltiplos eventos inexplicáveis perdidos na cronologia.
.....Tudo teve sua origem, mesmo que somente na consciência mítica. Ainda que na escuridão das trevas do tempo, do mistério e do inexplicável, não se encerra sua recuperação histórica por conta da imaginação. A repetição da origem no ciclo da vida está demonstrado na realidade das coisas. Pouco interessa a quantidade de tempo, interessando sim, suas repetições e assim seu caráter infinito.
.....O mito se fixa eternamente nesta história, na história dos acontecimentos eternos. Enxergando e percebendo em cada ato cotidiano uma ativação e participação nos grandes e pequenos ciclos da vida, que nada mais são que a própria perpetuação dos ciclos-modelos contados na mitologia grega, o Homem se deu ao luxo de participar desta eternidade mítica, libertando-se da sua transitoriedade.
.....Penetrado e integrado em suas origens, consegue ele, talvez não sobreviver, mas sim viver integralmente. Nesta mentalidade mítica, a morte passa a fazer um sentido lógico. É o fim da última repetição e logo, sua divina reintegração às suas origens.

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