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sexta-feira, 27 de abril de 2012

Os excluídos

 por Vladimir Polízio
No longínquo ano de 1853, no primeiro dia do mês de fevereiro, na cidade de Resende, ao sul do estado do Rio de Janeiro, às margens do rio Paraíba do Sul e aos pés da Serra da Mantiqueira, chegava ao mundo, no lar do casal Antônio e Teresa, uma menininha que seria, num futuro não muito distante, o bálsamo e o braço acolhedor e protetor estendido a milhares de corações pequeninos e desabrigados do amparo fraterno do lar.
Essa alma, recém-chegada ao círculo da humanidade, comportou-se como todos os que por aqui aportam, apresentando suas necessidades infantis, mas já trazendo consigo os compromissos que seriam despertados em momento oportuno, como de fato o foram, fazendo transbordar em profusão sua personalidade caridosa, como veremos sobre Anália Emília Franco Bastos, que ficou conhecida até o final de seu tempo como Anália Franco.
Espírita por convicção, Anália Franco conheceu de perto os problemas consequentes do abandono de crianças, especialmente a partir da entrada em vigor da Lei do Ventre Livre (também conhecida como Lei Rio Branco), de 28-9-1871, assinada pela Princesa Imperial Regente, Isabel Cristina, em nome de Sua Majestade o Imperador Sr. D. Pedro II. Com isso, uma vez livres, os filhos dos escravos passaram a ter, a contar dessa data, seus registros de nascimento lavrados em livros especiais por sacerdotes católicos, que, a bem da verdade, foram os responsáveis pelas anotações e consignações registradas antes mesmo da existência do sistema cartorário, atualmente em vigor. Este foi, sem dúvida, o primeiro documento de cidadania conquistado.
Nessa ocasião, o sistema conhecido como Roda dos Expostos já estava em funcionamento na Santa Casa de Misericórdia de São Paulo desde o dia 2 de julho de 1825, pelo Primeiro Governador da Província de São Paulo, Lucas Antônio Monteiro de Barros (1767-1851), que na época exercia a função de Provedor da Santa Casa, esta fundada antes de 1560.
Com a presença desse aparelho, os recém-nascidos eram colocados na Roda que ficava sobre o muro com a abertura voltada para a rua. Na lateral esquerda dessa peça havia um sino que era tocado na casa das Irmãs, avisando que dentro dela havia uma criança.
Com o vigor da Lei que declarava libertos todos os filhos de escravos, chegou ao conhecimento de Anália Franco que recém-nascidos estavam sendo destinados à chamada “Roda”, além do que muitos outros estavam sendo expulsos das fazendas por serem impróprios ao trabalho e já perambulavam pelas ruas e estradas, mendigando.
A Roda dos Expostos funcionou ativamente até o ano de 1950, quando foi desativada, obedecendo ao mesmo critério para o qual havia sido criada, qual seja, o simples abandono. Qualquer mãe que não quisesse ficar com o filho poderia deixá-lo ali. Depois dessa data e até 1960, as crianças foram aceitas, mas teriam que ter, pelo menos, o devido registro.
Após vencer preconceitos e humilhações, Anália empenhou-se em dar guarida aos desvalidos em geral, não só aos que lhe batiam à porta, mas também àqueles que sabia necessitarem de ajuda.
Nos dias atuais, são muitas as instituições posteriormente criadas com a atenção voltada ao atendimento infantil, em homenagem aos feitos dessa Embaixadora da Fraternidade, somados às outras 71 escolas fundadas nos estados de São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro durante o tempo em que viveu e por ela própria, afora outras centenas criadas sob sua inspiração e utilizando-se de sua metodologia. Também são de sua criação 2 albergues, 1 colônia regeneradora para mulheres, 23 asilos para órfãos, 1 banda musical feminina denominada “Regente Feijó”, 1 grupo teatral, 1 Liceu feminino e dezenas de oficinas de chapéus, costuras, bordados e flores artificiais, etc..., que auxiliavam na sustentação econômica do complexo, além de livros de cultura geral, obras especiais destinada à educação escolar e cristã-espírita, estes juntamente com seu marido Francisco Antônio Bastos (06-1-1850/19-8-1929).
A grandiosidade da obra, por si só, espraia as virtudes do espírito idealizador de Anália Franco que, em 20-1-1919, retornou ao Universo infinito, um exemplo dignificante de personalidade altruísta.
As pessoas passam, como sabemos, mas as obras em benefício da comunidade se eternizam.
http://www.oclarim.org/

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