a partir de maio 2011

domingo, 22 de abril de 2012

O Espiritismo em sua mais simples expressão-Allan Kardec


O Espiritismo em sua mais simples expressão 
Exposição sumária do ensino dos Espíritos 

• Fora da caridade não há salvação. 
• Nascer, morrer, renascer ainda e progredir sem cessar, 
tal é a lei. 
• Não há fé inquebrantável senão aquela que pode encarar 
a razão face a face, em todas as épocas da Humanidade. 

an Kardec - O Espiritismo em sua mais simples expressão  4 
Histórico do Espiritismo 
Por volta de 1848, a atenção foi chamada, nos Estados Unidos 
da América, sobre diversos fenômenos estranhos, consistentes em 
ruídos, pancadas e movimento de objetos sem causa conhecida. 
Esses fenômenos, freqüentemente,  ocorriam espontaneamente, 
com uma intensidade e uma persistência singulares; mas notou-se 
também que eles se produziam mais particularmente sob influência de certas pessoas, que se designou sob o nome de médiuns, e 
que podiam, de alguma sorte, provocá-los à vontade, o que permite repetir as experiências. Serviu-se, sobretudo, para isso de mesas; não que esse objeto seja mais favorável do que um outro, mas 
unicamente porque é o móvel mais cômodo, e que se senta, mais 
facilmente e mais naturalmente, ao redor de uma mesa que ao 
redor de qualquer outro móvel. Obteve-se, dessa maneira, a rota-
ção da mesa, depois movimentos em todos os sentidos, sobressaltos, tombamentos, erguimentos, pancadas com violência, etc. É o 
fenômeno que foi designado no princípio, sob o nome de mesas 
girantes ou dança das mesas. 
Até aí o fenômeno podia perfeitamente se explicar por uma 
corrente elétrica ou magnética, ou pela ação de um fluido desconhecido, e essa foi mesmo a opinião que se formou a respeito. 
Mas não tardou a se reconhecer, nesses fenômenos, efeitos inteligentes; assim, o movimento obedecia à vontade; a mesa se dirigia 
à direita ou à esquerda para uma pessoa designada, e se dirigia ao 
comando, sobre um ou dois pés, batendo o número de pancadas 
pedidas, batia o compasso, etc. Desde então ficou evidente que a 
causa não era puramente física,  e segundo esse  axioma que: se 
todo efeito tem uma causa, todo o efeito inteligente deve ter uma 
causa inteligente, concluiu-se que a causa desse fenômeno deveria ser uma inteligência. 

Qual era a natureza dessa inteligência? Aí estava a questão. O 
primeiro pensamento foi que isso poderia ser um reflexo da inteligência do médium ou dos assistentes, mas a experiência logo 
demonstrou-lhe a impossibilidade, porque obtinham-se coisas 
completamente fora do pensamento e dos conhecimentos das 
pessoas presentes, e mesmo em contradição com suas idéias, sua 
vontade e seu desejo;  ele não podia, pois, pertencer senão a um 
ser invisível. O meio para disso se assegurar era muito simples: 
tratava-se de entrar em conversação, o que se fez por meio de um 
número de golpes convencionados significando  sim  ou  não,  ou 
designando as letras do alfabeto, e se teve, dessa maneira, respostas às mais diversas perguntas  que se lhe dirigia. É o fenômeno 
que foi designado sob o nome de mesas falantes. Todos os seres 
que se comunicaram desse modo, interrogados sobre a sua natureza, declararam ser Espíritos e pertencerem a um mundo invisível. 
Tendo os mesmos efeitos se produzido num grande número de 
localidades, por intermédio de pessoas diferentes,  e sendo, aliás, 
observado por homens muito sérios e muito esclarecidos, não era 
possível que se fosse o joguete de uma ilusão. 
Da América, esse fenômeno passou para a França e ao resto 
da Europa, onde, durante alguns anos, as mesas girantes e falantes 
foram a moda e se tornaram o divertimento dos salões; depois, 
quando delas se usou bastante, foram deixadas de lado, para passar a uma outra distração. O fenômeno não tardou a se apresentar 
sob um novo aspecto que fê-lo sair do domínio da simples curiosidade. Os limites deste resumo  não nos permitindo segui-lo em 
todas as suas fases, passamos, sem outra transição, ao que oferece 
de mais característico, ao que, sobretudo, fixou a atenção de 
pessoas sérias. 
Dizemos preliminarmente, de passagem, que a realidade do 
fenômeno encontra numerosos contraditores; uns, sem levar em 
conta o desinteresse e a honorabilidade dos experimentadores, não 

viram nele senão um malabarismo, um hábil jogo de escamotea-
ção. Aqueles que não admitem nada fora do mundo da matéria, 
que não crêem senão no mundo visível, que pensam que tudo 
morre com o corpo, os materialistas, em uma palavra: aqueles que 
se qualificam de espíritos fortes, rejeitaram a existência dos Espí-
ritos invisíveis na classe de fábulas absurdas; taxaram de loucos 
aqueles que levavam a coisa a sério e os acabrunharam com sarcasmos e zombarias. Outros, não podendo negar os fatos, e sob o 
império de uma certa ordem de idéias, atribuíram esses fenômenos à influência exclusiva do diabo e procuraram, por esse meio, 
atemorizar os tímidos. Mas hoje o medo do diabo perdeu singularmente seu prestígio; tanto dele se falou, se o pintou de tantos 
modos, que se está familiarizado com essa idéia e muitos se disseram que era necessário aproveitar a ocasião para ver o que ele é 
realmente. Disso resultou que, à parte um pequeno número de 
mulheres tímidas, o anúncio da chegada do verdadeiro diabo tinha 
alguma coisa de picante para aqueles que não o viram senão em 
pintura e no teatro; foi, para muitas pessoas, um poderoso estimulante; de sorte que aqueles que quiseram, por esse meio, opor uma 
barreira às idéias novas, foram contra seu objetivo e tornaram-se, 
sem o querer, agentes propagadores tanto mais eficazes quanto 
gritavam mais forte. Os outros críticos não tiveram maior sucesso, 
porque, aos fatos constatados,  aos raciocínios categóricos, não 
puderam opor senão denegações. Lede o que publicaram. Por toda 
parte encontrareis a prova da ignorância e da falta de observação 
séria dos fatos e em nenhuma parte uma demonstração peremptó-
ria de sua impossibilidade; toda sua argumentação assim se resume: "eu não creio, portanto, isso não existe; todos os que crêem 
são loucos; só nós temos o privilégio da razão e do bom-senso". O 
número de adeptos feitos pela crítica séria ou bufa é incalculável, 
porque por toda parte não se encontram senão opiniões pessoais, 
vazias de provas contrárias. Prossigamos nossa exposição. 

As comunicações por pancadas eram lentas e incompletas; reconheceu-se que, adaptando-se um lápis a um objeto móvel: cesta, 
prancheta ou outro,  sobre o qual colocavam-se os dedos, esse 
objeto se punha em movimento e traçava caracteres. Mais tarde 
reconheceu-se que esses objetos não eram senão acessórios, os 
quais se podia dispensar; a experiência demonstrou que o Espírito, 
agindo sobre um corpo inerte para dirigi-lo à vontade poderia 
agir, do mesmo modo, sobre o braço ou a mão a fim de conduzir o 
lápis. Teve-se, então, os médiuns escreventes, quer dizer, pessoas 
escrevendo de modo involuntário sob o impulso de Espíritos, dos 
quais se achavam assim os instrumentos e os intérpretes. Desde 
esse momento, as comunicações não tiveram mais limites e a 
troca de pensamentos pôde ser feita com tanta rapidez e desenvolvimento quanto entre os vivos. Era um vasto campo aberto à
exploração, a descoberta de um mundo novo: o mundo dos invisí-
veis, como o microscópio descobrira o mundo dos infinitamente 
pequenos. 
Que são esses Espíritos? Que papel desempenham no universo? Com qual objetivo se comunicaram aos mortais? Tais são as 
primeiras perguntas que se tratava de resolver. Soube-se logo, por 
eles mesmos, que não são seres à parte na criação, mas as próprias 
almas daqueles que viveram na Terra ou em outros mundos; que 
essas almas, depois de se despojarem de seu envoltório corporal, 
povoam e percorrem o  espaço. Não mais foi permitido disso 
duvidar quando se reconheceu, entre eles, seus parentes e seus 
amigos, com os quais  puderam se entreter;  quando estes vieram 
dar a prova de sua existência, demonstrar  que não há de morto 
neles senão o corpo, que sua alma ou Espírito vive sempre, que 
estão ali, perto de nós, vendo-nos e observando-nos como quando 
vivos, cercando com sua solicitude aqueles que amaram e dos 
quais a lembrança, para eles, é uma doce satisfação.

Faz-se geralmente dos Espíritos uma idéia completamente 
falsa; eles não são como muitos os figuram, seres abstratos, vagos 
e indefinidos, nem qualquer coisa como um clarão ou uma centelha; são, ao contrário, seres muito reais, tendo sua individualidade 
e uma forma determinada. Pode-se deles fazer uma idéia aproximada pela explicação seguinte: 
Há no homem três coisas essenciais: 1º a  alma  ou Espírito, 
princípio inteligente em quem residem o pensamento, a vontade e 
o senso moral; 2º o corpo, envoltório material pesado e grosseiro, 
que coloca o Espírito em relação com o mundo exterior; 3º o 
perispírito, envoltório fluídico, leve, servindo de laço e de intermediário entre o Espírito e o corpo. Quando o envoltório exterior 
está usado e não pode mais funcionar, ele cai e o Espírito dele se 
despoja como o fruto de sua casca, a árvore de sua crosta: em uma 
palavra, como se tira uma velha roupa fora de seu uso; é o que se 
chama a morte. 
A morte, portanto, não é outra coisa senão a destruição do 
grosseiro envoltório do Espírito: só o corpo morre, o Espírito não 
morre. Durante a vida o Espírito está, de alguma sorte, comprimido pelos laços da matéria ao qual está unido e que, freqüentemente, paralisa suas faculdades; a morte do corpo desembaraça-o de 
seus laços; dele se liberta e recobra sua liberdade, como a borboleta saindo de sua crisálida; mas não deixa senão o corpo material; 
conserva o perispírito, que constitui, para ele, uma espécie de 
corpo etéreo, vaporoso, imponderável para nós e de forma humana, que parece ser a forma tipo. Em seu estado normal, o perispírito é invisível, mas o Espírito pode fazê-lo sofrer certas modifica-
ções que o tornam momentaneamente acessível à visão e mesmo 
ao toque, como ocorre para  o vapor condensado; é assim que 
podem, algumas vezes, mostrarem-se a nós nas aparições. É com 
a ajuda do perispírito que o Espírito age sobre a matéria inerte e 
produz os diversos  fenômenos de ruídos,  de movimentos, de 

escrita, etc. (as pancadas e os movimentos são, para os Espíritos, 
os meios de atestarem sua presença e chamarem sobre eles, a 
atenção, absolutamente como quando uma pessoa bate para advertir que há alguém). Há os que não se limitam a ruídos moderados, 
mas que vão até fazerem um alarido semelhante ao da louça que 
se quebra, de portas que se abrem e se fecham, ou de móveis que 
tombam. 
Com a ajuda dos golpes e dos movimentos convencionais, eles puderam exprimir seus pensamentos, mas a escrita lhes oferece o meio completo, o mais rápido e o mais cômodo; também é 
aquele que eles preferem
1
. Pela mesma razão que podem levar a 
formar caracteres, podem guiar a mão para fazer traçar desenhos, 
escrever música, executar um  trecho num instrumento, em uma 
palavra, na falta de seu próprio corpo, que não têm mais, servemse do médium para se manifestarem aos homens de maneira sensível. 
Os Espíritos ainda podem se manifestar de várias maneiras, 
entre outras pela visão e pela audição. Certas pessoas, ditas mé-
diuns audientes,  têm a faculdade de ouvi-los e podem, assim, 
conversar com eles; outros os vêem: são os médiuns videntes. Os 
Espíritos que se manifestam à  visão, geralmente, apresentam-se 
sob uma forma análoga à que tinham quando vivos, mais vaporosa; outras vezes, essa forma tem  todas as aparências de um ser 
vivo, ao ponto de iludir completamente, e que, algumas vezes, 
foram tomados por pessoas em carne e osso, com as quais se pôde 
conversar e trocar apertos de mão, sem desconfiar que se relacionava com Espíritos, de outro modo senão pelo seu desaparecimento súbito. 
A visão permanente e geral dos Espíritos é muito rara, mas as 
aparições individuais são bastante freqüentes, sobretudo no mo-
                                                
1
 Ocorre o mesmo para a palavra

mento da morte; o Espírito liberto parece se apressar para ir rever 
seus parentes e amigos, como para adverti-los que acaba de deixar 
a Terra e dizer-lhes que vive sempre. 
Que cada um reúna suas lembranças, e ver-se-á quantos fatos 
desse gênero, dos quais não se dava conta, ocorreram não somente 
à noite, durante o sono, mas em pleno dia, no estado de vigília 
mais completo. Outrora olhava-se esses fatos como sobrenaturais 
e maravilhosos, e se os atribuía à magia e à feitiçaria; hoje os 
incrédulos os colocam à conta da imaginação; mas desde que a 
ciência espírita deu-lhes a chave, sabe-se como se produzem e que 
não saem da ordem de fenômenos naturais. 
Crê-se ainda que os Espíritos, pelo único fato de serem Espí-
ritos, devem ter a soberana ciência e a soberana sabedoria: foi um 
erro que a experiência não tardou a demonstrar. Entre as comunicações dadas pelos Espíritos, há as que são sublimes de profundeza, de eloqüência, de sabedoria, de moral, e não respiram senão a 
bondade e a benevolência; mas, ao lado disso, há as muito vulgares, levianas, triviais, grosseiras mesmo, e pelas quais o Espírito 
revela os instintos mais perversos. É, pois, evidente que elas não 
podem emanar da mesma fonte e que, se há bons Espíritos, os há 
também maus. Os Espíritos, não sendo outra coisa que a alma dos 
homens, não podem naturalmente tornarem-se perfeitos deixando 
seu corpo; até que hajam progredido, conservam as imperfeições 
da vida corpórea; por isso, se os vê em todos os graus de bondade 
e de maldade, de saber e de ignorância. 
Os Espíritos se comunicam, geralmente, com prazer e para 
eles é uma satisfação ver que não foram esquecidos; descrevem 
voluntariamente suas impressões  em deixando a Terra, sua nova 
situação, a natureza de suas alegrias e de seus sofrimentos no 
mundo dos Espíritos onde se encontram; uns são muito felizes, 
outros infelizes, alguns mesmo suportam tormentos horríveis, 
segundo a maneira pela qual viveram e o emprego bom ou mau,

útil ou inútil que fizeram da vida. Em os observando em todas as 
fases de sua nova existência, segundo a posição que ocuparam na 
Terra, seu gênero de morte, seu caráter e seus hábitos como homens, chega-se a um conhecimento senão completo, pelo menos 
bastante preciso, do mundo invisível, para se dar conta do nosso 
estado futuro e pressentir a sorte feliz ou infeliz que ali nos espera. 
As instruções dadas pelos Espíritos de uma ordem elevada, 
sobre todos os assuntos que interessam à Humanidade, as respostas que deram às perguntas que lhes foram propostas, tendo sido 
recolhidas e coordenadas com cuidado, constituem toda uma 
ciência, toda uma doutrina moral e filosófica sob o nome de Espiritismo. O Espiritismo é, pois,  a doutrina fundada sobre a existência, as manifestações e o  ensinamento dos Espíritos.  Essa 
doutrina se acha exposta, de maneira completa, em O Livro dos 
Espíritos para a parte filosófica, em O Livro dos Médiuns para a 
parte prática e experimental, e em O Evangelho Segundo o Espiritismo para a parte moral. Pode-se julgar, pela análise que damos 
adiante dessas obras, da variedade, da extensão e da importância 
das matérias que elas abarcam. 
Assim como se viu, o Espiritismo teve seu ponto de partida 
no fenômeno vulgar das mesas girantes; mas como esses fatos 
falam mais aos olhos  que à inteligência,  que despertam mais 
curiosidade que sentimento, a curiosidade satisfeita, se tem tanto 
menos interesse neles quanto não se os compreenda. Não ocorreu 
o mesmo quando a teoria veio explicar-lhes a causa; quando, 
sobretudo, viu-se que dessas mesas girantes, com as quais se 
divertiu por um instante, saiu toda uma doutrina moral falando à 
alma, dissipando as angústias da  dúvida, satisfazendo a todas as 
aspirações deixadas no vago  por um ensinamento incompleto 
sobre o futuro da Humanidade, as pessoas sérias acolheram a nova 
doutrina como um benefício e, desde então, longe de declinar, ela

cresce com uma rapidez incrível; no espaço  de alguns anos, ela 
reuniu, em todos os países do mundo e, sobretudo, entre as pessoas esclarecidas, inumeráveis partidários que aumentam todos os 
dias numa proporção extraordinária, de tal sorte que, hoje, podese dizer que o Espiritismo conquistou direito de cidadania; e está 
assentado sobre bases que desafiam os esforços de seus adversá-
rios mais ou menos interessados em combatê-lo; a prova disso é 
que os ataques e críticas não afrouxaram sua marcha um só instante: este é um fato adquirido pela experiência e do qual os opositores jamais puderam dar razão; os espíritas dizem, muito simplesmente, que se ele se propaga, apesar da crítica, é que se o acha 
bom e que se prefere seu raciocínio ao dos contraditores. 
O Espiritismo, todavia, não é uma descoberta moderna; os fatos e os princípios sobre os quais repousam, perdem-se na noite 
dos tempos, porque se lhes encontram os traços nas crenças de 
todos os povos, em todas as religiões, na maioria dos escritos 
sagrados e profanos; somente os fatos, incompletamente observados, freqüentemente foram interpretados segundo as idéias supersticiosas da ignorância, e não lhes foram deduzidas todas as conseqüências. 
Com efeito, o Espiritismo está fundado sobre a existência de 
Espíritos, mas os Espíritos,  não sendo outros que as almas dos 
homens, desde que há homens há Espíritos; o Espiritismo não os 
descobriu, nem os inventou. Se  as almas ou Espíritos podem se 
manifestar aos vivos, é porque isso está na Natureza e, desde 
então, deveram fazê-lo de todos os tempos; também de todos os 
tempos e por toda parte encontram-se as provas dessas manifesta-
ções, que são muitas, sobretudo nos relatos bíblicos. 
O que é moderno é a explicação lógica dos fatos, o conhecimento mais completo da natureza dos Espíritos, de seu papel e de 
seu modo de ação, a revelação de nosso estado futuro, enfim sua 
constituição de corpo de ciência  e de doutrina e suas diversas

aplicações. Os Antigos conheciam o princípio, os Modernos 
conhecem os detalhes. Na antigüidade, o estudo desses fenômenos 
era o privilégio de certas castas, que não os revelavam senão aos 
iniciados nos seus mistérios; na idade média, aqueles que deles se 
ocupavam ostensivamente eram olhados como feiticeiros e queimados; mas hoje não há mistérios para ninguém, não se queima 
mais ninguém; tudo se passa à luz do dia e todo o mundo está em 
condições de se esclarecer e de praticar, porque os médiuns se 
encontram por toda parte. 
A própria doutrina que os Espíritos ensinam hoje nada tem de 
nova; se a encontra, por fragmentos, na maioria dos filósofos da 
Índia, do Egito e da Grécia,  e toda inteira no ensinamento do 
Cristo. Que vem, pois, fazer o  Espiritismo? Ele vem confirmar 
por novos testemunhos, demonstrar por fatos, verdades desconhecidas ou mal compreendidas, restabelecer, em seu verdadeiro 
sentido, aquelas que foram mal interpretadas. 
O Espiritismo nada ensina de  novo, é verdade; mas é nada 
provar, de maneira patente, irrecusável, a existência da alma, sua 
sobrevivência ao corpo, sua individualidade depois da morte, sua 
imortalidade, as penas e as recompensas futuras? Quantas pessoas 
crêem nessas coisas, mas nela crêem com vago preconceito de 
incerteza e se dizem eu seu foro íntimo: "Se, todavia, isso não o 
for!" Quantos foram conduzidos à incredulidade porque se lhes 
apresentou o futuro sob um aspecto que sua razão não podia admitir! Não é, pois, nada para o crente vacilante poder dizer-se: "Agora estou seguro!", que o cego reveja a luz! Pelos fatos e pela sua 
lógica, o Espiritismo vem dissipar a ansiedade da dúvida e conduzir à fé aqueles que dela se afastaram; em nos revelando a existência do mundo invisível que nos cerca e no meio do qual vivemos sem disso nos dar conta, faz-nos conhecer pelo exemplo 
daqueles que viveram, as condições de nossa felicidade ou de 
nossa infelicidade futuras; explica-nos a causa  de nossos sofri-

mentos neste mundo e o meio de abrandá-los. Sua propagação terá 
por efeito inevitável a destruição das doutrinas materialistas que 
não podem resistir à evidência. O homem, convencido da grandeza e da importância de sua existência futura, que é eterna, compara-a à incerteza da vida terrestre, que é tão curta, e se eleva, pelo 
pensamento, acima das mesquinhas considerações humanas; 
conhecendo a causa e o objetivo de suas misérias, suporta-as com 
paciência e resignação, porque sabe que elas são um meio para 
chegar a um estado melhor. O  exemplo daqueles que vêm de 
além-túmulo descrever suas alegrias e suas dores, provando a 
realidade da vida futura, ao mesmo tempo, prova que a justiça de 
Deus não deixa nenhum vício sem punição, nem nenhuma virtude 
sem recompensa. Acrescentemos, enfim, as comunicações com os 
seres queridos, que já partiram, que proporcionam uma doce 
consolação, provando não somente que eles existem, mas que se 
está menos separado do que se  estivessem vivos e num país estrangeiro. 
Em resumo, o Espiritismo abranda a amargura dos desgostos 
da vida; acalma os desesperos e as agitações da alma, dissipa as 
incertezas ou os terrores do futuro, detém o pensamento de abreviar a vida por suicídio; por isso mesmo, torna felizes aqueles que 
nele penetram e aí está o grande segredo de sua rápida propaga-
ção. 
Do ponto de vista religioso, o Espiritismo tem por base as 
verdades fundamentais  de todas as religiões: Deus, a alma, a 
imortalidade, as penas e as recompensas futuras; mas ele é independente de todo culto particular. Seu objetivo é provar, àqueles 
que negam ou que duvidam, que a alma existe, que ela sobrevive 
ao corpo; que ela suporta, depois da morte, as conseqüências do 
bem e do mal que fez durante a vida corpórea; ora, isto é de todas 
as religiões

Como crença nos Espíritos, é igualmente de todas as religi-
ões, do mesmo modo que é de todos os povos, uma vez que, por 
toda parte que haja homens, há almas ou Espíritos, que as manifestações são de todos os tempos,  e que o relato se encontra em 
todas as religiões sem exceções. Pode-se, pois, ser católico, grego 
ou romano, protestante, judeu ou muçulmano, e crer nas manifestações dos Espíritos, e, por conseqüência, ser Espírita; a prova é 
que o Espiritismo tem adeptos em todas as seitas. 
Como moral, ele é essencialmente cristão, porque a que ele 
ensina não é senão o desenvolvimento e a aplicação da do Cristo, 
a mais pura de todas e cuja superioridade não é  contestada por 
ninguém, prova evidente de que ela está na lei de Deus; ora, a 
moral é para o uso de todo o mundo. 
O Espiritismo, sendo independente de toda forma de culto, não prescreve nenhum deles e não se ocupa de dogmas particulares, não é uma religião especial, porque não tem nem seus 
sacerdotes e nem seus templos. Àqueles  que lhe perguntam se 
fazem bem seguir tal ou tal prática, ele responde: Se credes vossa 
consciência induzida a fazê-lo,  fazei-o: Deus tem sempre em 
conta a intenção. Em uma palavra, ele não se impõe a ninguém; 
não se dirige àqueles que têm a fé, e a quem esta fé basta, mas à 
numerosa categoria dos incertos  e dos incrédulos; ele não os 
arrebata da Igreja, uma vez que dela estão separados moralmente 
no todo ou em parte: lhes é necessário fazer três quartas partes do 
caminho para nela entrarem; cabe a ela fazer o resto. 
O Espiritismo combate, é verdade, certas crenças tais como a 
eternidade das penas, o fogo material do inferno, a personalidade 
do diabo, etc; mas não é certo que, essas crenças, impostas como 
absolutas, em todos os tempos fizeram incrédulos e o fazem todos 
os dias? Se o Espiritismo, dando a esses dogmas e a alguns outros 
uma interpretação racional, conduz à fé aqueles que dela desertaram, não presta serviço à religião? Também um venerável eclesi-ástico dizia a esse respeito: "O Espiritismo faz crer em alguma 
coisa; ora, é melhor crer em alguma coisa que nada crer de tudo." 
Os Espíritos, não sendo outros que as almas, não se pode negar os Espíritos sem negar a alma. Admitindo-se as almas, ou os 
Espíritos, a questão,  reduzida à sua mais simples expressão, é 
esta: As almas daqueles que morreram podem se comunicar com 
os vivos?  O Espiritismo prova a afirmativa por fatos materiais; 
que prova se pode dar de que isso não seja possível? Se isso for, 
todas as negações do mundo não impedirão que isso seja, porque 
não é nem um sistema, nem uma teoria, mas uma lei da Natureza; 
ora, contra as leis da Natureza, a vontade do homem é impotente; 
é necessário, por bem ou por mal, aceitar-lhe as conseqüências e a 
elas conformar suas crenças e seus hábitos.
Allan Kardec - O Espiritismo em sua mais simples expressão













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