a partir de maio 2011

sexta-feira, 13 de abril de 2012

O Espiritismo começa com “O Livro dos Espíritos”, mas não termina com ele


LEONARDO MARMO MOREIRAleonardomarmo@gmail.com  
São João Del Rei, MG (Brasil)

“O Livro dos Espíritos” é a obra básica da Doutrina Espírita, ou seja, é a primeira e fundamental obra da Doutrina codificada por Allan Kardec. Isso, no entanto, não torna “O Livro dos Espíritos” a obra “completa” do Espiritismo, muito menos sua única obra. É muito interessante notar na folha de rosto de “O Livro dos Médiuns” (obra ainda pouco lida pelos espíritas, infelizmente) a caracterização do livro como sendo continuação de “O Livro dos Espíritos”. Realmente, além da sua “Continuação” com o segundo livro da Codificação, “O Livro dos Espíritos” será desdobrado novamente nas demais obras da Codificação (“O Evangelho segundo o Espiritismo”, “O Céu e o Inferno ou A Justiça Divina segundo o Espiritismo” e “A Gênese, os Milagres e as predições segundo o Espiritismo”).
O Professor J. Herculano Pires, prefaciando a sua tradução ao português de “O Livro dos Espíritos”, faz uma análise muito interessante da estrutura pedagógica dessa obra, bem como de toda a codificação, deixando claro que cada uma das quatro partes de “O Livro dos Espíritos” fornece as estruturas básicas para o seu respectivo desenvolvimento em cada obra do chamado “Pentateuco Espírita”, especificamente correlacionada. A primeira parte, “As Causas Primárias”, que seria a mais autoexplicativa e difusa nas demais obras, tem em “A Gênese” seu principal desenvolvimento; a segunda parte, “Mundo Espírita ou dos Espíritos”, se amplia e aprofunda em “O Livro dos Médiuns”; a terceira parte, “As Leis Morais”, dá origem ao “O Evangelho segundo o Espiritismo”, e a quarta parte, “Esperanças e Consolações”, fornece as estruturas de sustentação para o surgimento de “O Céu e o Inferno”.
De fato, o Espiritismo não tem nem considera nenhuma obra especialmente “sagrada”, no sentido de infalível conceitualmente, isso valendo para “O Livro dos Espíritos”, para “A Bíblia” ou para qualquer outra obra relevante para o movimento espírita.
O caráter científico do Espiritismo é caracterizado, entre outros fatores, por um interminável questionamento (somente “O Livro dos Espíritos” apresenta 1.019 perguntas com várias subdivisões, desdobramentos, comentários etc.), por uma pesquisa constante e por um aprofundamento conceitual ininterrupto. Por isso, Allan Kardec, inteligente e humilde, deixa claro em “A Gênese” que se a Ciência provar que o Espiritismo errou em algum ponto, o Espiritismo deveria corrigir este ponto e seguir com a Ciência, evitando, portanto, os convencionais equívocos típicos de movimentos puramente religiosos, mas sem maiores níveis de coerência filosófico-científica. Essa proposta não deixa de ser um verdadeiro “antídoto” contra o fanatismo, que poderia levar à dogmatização de certos postulados, “engessando” a possibilidade de evolução doutrinária e favorecendo a contaminação do Espiritismo com predisposições pessoais, as quais podem valorizar determinado aspecto em detrimento do conjunto doutrinário, ou mesmo inserir erros doutrinários graves nas Casas Espíritas.
Vivemos um momento no movimento espírita em que muitos grupos se dividem entre aqueles que defendem a leitura única e exclusiva de Allan Kardec, e muitas vezes só de “O Livro dos Espíritos” e “O Evangelho segundo o Espiritismo”, e outros grupos que valorizam e estudam com bastante intensidade novas obras, mediúnicas ou não. Considerando o número crescente de publicações espíritas, verdadeira revolução no mercado editorial brasileiro, o meio-termo seria a postura mais adequada. Nem a leitura exclusiva das obras de Allan Kardec, o que, apesar de indiscutivelmente valioso, limitaria a capacidade de desenvolvimento doutrinário do movimento espírita de uma forma geral, e nem uma volúpia excessiva por um grande número de obras, sem um planejamento racional de formação pedagógica, seja ela em nível pessoal, autodidata, ou organizada pelos dirigentes espíritas para grupos doutrinários frequentadores assíduos das casas espíritas.
Se nós espíritas excluíssemos ou desvalorizássemos as obras não-kardequianas, limitaríamos a acessibilidade de muitos irmãos às informações doutrinárias. De fato, poderíamos não ter tido no movimento espírita a decisiva adesão de Eurípedes Barsanulfo, que se converteu ao Espiritismo após a leitura da obra “Depois da Morte”, de Léon Denis. Por outro lado, se não tivermos uma escala mínima de prioridade em termos de conteúdo doutrinário, corremos o risco de perder a solidez e a unidade doutrinária que Allan Kardec e as principais obras subsidiárias fornecem à doutrina.
Divaldo Pereira Franco coerentemente recomenda que os dirigentes espíritas não divulguem obras que não leram ou que leram e não aprovaram doutrinariamente, independentemente de quem seja o autor das mesmas. Sem levar tais propostas a atitudes extremadas, a valorização de obras que sejam verdadeiramente ricas de conteúdo é procedimento de elevação do nível doutrinário de todos os adeptos e salvaguarda da qualidade dos centros espíritas. O Espiritismo é movimento de educação e a leitura sistemática de obras de elevado conteúdo é uma das bases para o crescimento intelecto-moral de todos nós.  
http://www.oconsolador.com.br

Nenhum comentário:

Postar um comentário