a partir de maio 2011

sexta-feira, 27 de abril de 2012

Intervenção das inteligências ocultas

por Rogério Coelho
“A influência dos Espíritos entre os encarnados é tão
expressiva que, de ordinário, são eles que nos dirigem”
- O Livro dos Espíritos, q. 459.

Em um edifício de certa cidade funcionava uma igreja evangélica no térreo e um centro espírita no terceiro andar. E, coincidentemente, as duas instituições abriam suas respectivas portas no mesmo dia e no mesmo horário. Era, então, muito comum que os frequentadores de ambas reuniões caminhassem lado a lado na mesma direção... Numa dessas oportunidades, quando já se podia avistar o edifício, um confrade espírita ouviu um evangélico dizendo para o outro: “Veja só! Céu e Inferno no mesmo lugar!”.
O nosso amigo espírita não conseguiu travar a língua (porque ainda não havia estudado a questão 886 de O Livro dos Espíritos) e ripostou: “Repare bem, meu irmão, se o “inferno” está no terceiro andar ou no térreo, pois ele estará onde o nome do diabo for pronunciado mais vezes. Conte quantas vezes o seu Pastor vai evocá-lo hoje, durante o sermão, e diga-me, depois, onde está o inferno, porque no terceiro andar nós só cogitamos de aprender o que Jesus e Kardec ensinaram, e ensinaram, inclusive, que o diabo não existe e muito menos o inferno de penas eternas”.
Como diz o axioma popular: “Quem fala o que quer, ouve o que não quer”.
Kardec leciona1: “(...) Como sempre acontece relativamente a fatos extraordinários que o senso comum desconhece, o vulgo viu nos fenômenos espíritas uma causa sobrenatural, e a superstição completou o erro ajuntando-lhes absurdas crendices. Provém daí uma multidão de lendas que, pela maior parte, são um amálgama de poucas verdades e muitas mentiras. Assim, as doutrinas sobre o demônio, prevalecendo por tanto tempo, haviam de tal maneira exagerado o seu poder que fizeram, por assim dizer, esquecer Deus; por toda parte surgia o dedo de Satanás, bastando para tanto que o fato observado ultrapassasse os limites do poder humano. Até as coisas melhores, as descobertas mais úteis, sobretudo as que podiam abalar a ignorância e alargar o círculo das ideias foram tidas muitas vezes por obras diabólicas. Os fenômenos espíritas de nossos dias, mais generalizados e mais bem observados à luz da razão, e com o auxílio da Ciência, confirmaram, é certo, a intervenção de inteligências ocultas, porém agindo dentro de leis naturais e revelando por sua ação uma nova força e leis até então desconhecidas... A questão reduz-se, portanto, a saber de que ordem são essas inteligências.
Enquanto se não possuía do mundo espiritual noções mais que incertas e sistemáticas, a verdade podia ser desviada; mas hoje que observações rigorosas e estudos experimentais esclareceram a natureza, origem e destino dos Espíritos, bem como o seu modo de ação e papel no Universo — hoje, dizemos, a questão se resolve por fatos. Sabemos, agora, que essas inteligências ocultas são as almas dos que viveram na Terra. Sabemos também que as diversas categorias de bons e maus Espíritos não são seres de espécies diferentes, porém que apenas representam graus diversos de adiantamento. Segundo a posição que ocupam em virtude do desenvolvimento intelectual e moral, os seres que se manifestam apresentam os mais fundos contrastes, sem que por isso possamos supor não tenham saído todos da grande família humana, do mesmo modo que o selvagem, o bárbaro e o homem civilizado.
Sobre este ponto, como sobre muitos outros, a Igreja mantém as velhas crenças a respeito dos demônios. Diz ela: “Há princípios que não variam há dezoito séculos, porque são imutáveis.” O seu erro é precisamente esse de não levar em conta o progresso das ideias; é supor Deus insuficientemente sábio para não proporcionar a revelação ao desenvolvimento das inteligências; é, em suma, falar aos contemporâneos a mesma linguagem do passado! Ora, progredindo a Humanidade enquanto a Igreja se abroquela em velhos erros sistematicamente, tanto em matéria espiritual como na científica, cedo virá a incredulidade, avassalando a própria Igreja”.
A religião que ainda se utiliza do terrorismo diabólico para se manter de pé está a caminho do despenhadeiro porque é chegado, finalmente, o tempo da fé raciocinada. Sem a razão, a fé desfalece e fomenta a incredulidade.

1. KARDEC, Allan. O Céu e o Inferno. 51.ed. Rio [de Janeiro]: FEB, 2003, 1ª parte, cap. X, itens 1 a 3.
http://www.oclarim.org/

Nenhum comentário:

Postar um comentário